Às 13h55 desta sexta-feira (18), o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, deve aterrissar em Boa Vista, capital de Roraima, para uma visita prevista de três horas e 20 minutos ao Brasil. A autoridade do governo Trump está realizando um périplo por países vizinhos da Venezuela da região amazônica, que inclui Brasil, Suriname, Guiana e Colômbia.
Sua agenda oficial em Roraima resume-se a dois eventos: o principal, nas palavras do próprio secretário de Estado, divulgadas pela imprensa internacional, é visitar "imigrantes venezuelanos que fugiram do desastre causado pelo homem na Venezuela". A outra é encontrar com o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, que se deslocará a Boa Vista para cumprir a agenda.
O governo dos Estados Unidos admite que o principal ponto da agenda oficial da viagem de Pompeo é debater a Venezuela. Como disse ao Brasil de Fato o professor de Economia Luciano Wexell Severo, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), “essa é a primeira vez na história que um secretário de Estado dos EUA pisa em territórios da Guiana e do Suriname, ou em Boa Vista ou mesmo em Manaus”.
“Mas agora, no atual cenário, Guiana e Suriname entram em uma grande disputa geopolítica internacional, em que o Brasil se omite, submetendo-se aos interesses do governo dos Estados Unidos”, explica o professor.
A postura que o Brasil adota na questão transparece até na forma como a agência oficial de notícias brasileira (EBC - Agência Brasil) informa a agenda diplomática do ministro das Relações Exteriores. Faz uso de um texto escrito em Washington, para uma agência de notícias inglesa. A nota reproduzida pelo Brasil, explica a importância da visita:
“As sanções dos EUA contra a indústria petrolífera da Venezuela reduziram as exportações de petróleo venezuelanas ao nível mais baixo em décadas, mas não conseguiram afrouxar o controle de Maduro no poder - algo que frustrou o presidente dos EUA, Donald Trump.”
A situação também é inédita na história recente brasileira, conforme segue explicando o professor - doutor em Economia Política Internacional pela UFRJ - , que pinça dois episódios do passado para exemplificar “o zelo com que trata o Brasil a presença de autoridades estrangeiras na região Amazônica”.
"Um deles é a assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica, no governo Geisel, em 1978, quando os oito países da região afirmaram a sua soberania sobre a área, protegendo a Amazônia da cobiça e da ideia de internacionalização, estimulada pelas grandes potências.”
Segundo o docente, “o outro momento foi nos anos 80, quando o governo Figueiredo se aproximou do governo de Paramaribo (capital do Suriname) e impediu uma ação mais violenta do governo dos EUA contra o Suriname”.
Já durante o governo Lula, houve um esforço para aproximar a Guiana e o Suriname ao Mercosul, com execução e planejamento de obras de interligação viária, estudos para aumento do comércio, iniciativas que foram deixadas de lado já a partir do governo Michel Temer (2016-18).
Além da Venezuela, em relação à qual o governo Bolsonaro já expressou publicamente ter interesses similares aos dos Estados Unidos, a visita do secretário de Estado Pompeo é sobre a Amazônia. Conforme assinala ainda o professor Severo, a Guiana é o único país da América do Sul que terá crescimento no PIB deste ano, graças à descoberta de jazidas de petróleo em seus domínios.
Edição: Rodrigo Durão Coelho