“Quando nos falamos em preço justo, queremos distribuir isso com todos”
Em meio à inflação acumulada no ano do arroz de 19,2%, Movimento dos Sem Terra (MST) continua a vender o produto a um preço justo. Hoje, em alguns estabelecimentos, o pacote de arroz de cinco quilos chega a custar R$40, enquanto a mesma quantidade da marca “Terra Livre”, do MST, sai por R$ 29,90. Mas o que isso significa? E como isso é possível?
Um dos fatores que explicam a alta do preço no mercado é o dólar elevado, em torno de R$5,30. Isso faz com que os produtores brasileiros do agronegócio optem por vender o arroz no exterior, em dólar e, por conseguinte, recebendo mais por isso. Essa lógica, no entanto, não acontece nas produções familiares e agroecológicas do MST.
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Nelson Krupinski é produtor de arroz orgânico no assentamento Jânio Guedes, em São Jerônimo, no Rio Grande do Sul. Ele explica que uma das prerrogativas das grandes indústrias é estocar o alimento e não vender, forçando o aumento dos preços.
Os pequenos produtores, contudo, sequer têm recursos para isso, e o objetivo nem mesmo é esse. Os agricultores procuram distribuir os benefícios da cultura do arroz ao longo da cadeia de produção.
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“Esse debate sobre a alimentação saudável é um debate humanitário. Quando fala se preço justo é um preço que seja bom para todo mundo. Não precisa o mercado especular ou explorar agricultor e cooperativa. Quando nós falamos em preço justo, queremos distribuir isso com todos, queremos que chegue o alimento acessível e de qualidade para todas as pessoas”, explica Krupinski.
Da mesma maneira, Emerson Giacomelli, do Assentamento Capela, em Nova Santa Rita, no Rio Grande do Sul, afirma que o que permite o preço justo é a “manutenção dos critérios”, que tem sido mantida durante a alta do preço do arroz.
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“Qual é a nossa compreensão do preço justo? O preço justo é quando a gente olha toda cadeia produtiva e todos conseguem ter viabilidade econômica na sua atividade. Estou falando do processo de produção, no recebimento, secagem, armazenagem, no beneficiamento, na entrega, de chegar ao consumidor com um preço acessível. Toda cadeia se viabiliza”, afirma Giacomelli.
Emerson e Nelson são sócios da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), que atualmente reúne 364 famílias produtoras de arroz orgânico, de 14 assentamentos, em 11 municípios do Rio Grande do Sul. Hoje, o estado tem o maior contingente de sem-terra produtores do alimento da América Latina.
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Existente desde 2000, a cooperativa produziu 15 mil toneladas de arroz orgânico em 2019. Neste ano, a expectativa é de 18 mil toneladas. O produto pode ser encontrado em 120 pontos de venda em todo o Brasil, como o Armazém do Campo. Para saber com detalhes os locais, acesse as redes sociais do “Terra Livre Agroecológica”.
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Saúde na mesa: como o arroz orgânico é produzido?
Segundo Giacomelli, todo arroz agroecológico, por uma questão de manejo técnico, é produzido por meio sistema pré germinado. “Então é feito o preparo do solo, já se coloca uma lâmina de água. A semente é pré germinada, colocada na água por cerca de 30 horas e depois é retirada da água para um lugar que consiga ter ventilação e uma determinada temperatura para poder germinar”, explica o produtor.
E continua: “Quando ela está iniciando a germinação é feito o semeio dela na água após o semeio é retirada a água para ela se fixar e criar ali. E a partir daí é feito o manejo técnico para evitar as plantas indesejadas”. Quando se fala em manejo técnico dentro da agroecologia significa que o produto é isento de agroquímicos, ou seja, os agrotóxicos.
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De acordo com Nelson Krupinski, há sempre a preocupação de manejar o solo a fim de utilizar os nutrientes que estão na terra para gerar a eficácia da produção do arroz orgânico.
Depois de colhido, o arroz é levado para a seleção de grãos, classificação do produto, armazenagem e beneficiamento. Este último passo é a divisão do arroz em três tipos: o polido, conhecido como arroz branco, integral e parbolizado. “Da mesma matéria prima nós fizemos esses três tipos de arroz atualmente.”
Para o agricultor do MST, a ideia é promover saúde na mesa e justiça social “Vamos distribuir terra na prática, fazer reforma agrária na prática, vamos dar condições para essas famílias produzirem, vamos valorizar quem produz alimento orgânico, agroecológico, em todos os aspectos”, conclui.
Edição: Douglas Matos