Mato, capim, lixos e rejeitos agroindustriais e industriais, uma terra devastada e improdutiva pelo uso ilegal de empresas para a produção de cana-de-açúcar.
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Era assim que a área da antiga Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA), administrada pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), no município de Jardinópolis (SP), estava antes do Acampamento Campo e Cidade Paulo Botelho.
Desde o dia 9 de março, as famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da União dos Movimentos de Moradia (UMM) ocupam a área da união, reivindicada há anos pelo movimento para a reforma agrária.
Em pouco tempo, o acampamento abraçou o modelo de produção agroflorestal para produção de verduras, legumes e frutas. Assim, se iniciou um processo de recuperação ambiental, substituindo o lixo por mudas de árvores da Campanha Nacional do MST “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”.
Neusa Paviato Botelho Lima é integrante da direção estadual do MST de São Paulo. Ela acompanha a mobilização do acampamento.
"Nós ocupamos, começamos a limpar, fomos fazendo algumas estruturas coletivas, cozinhas para poder dar conta de ir limpando essa área e fazer os barracos. No trabalho coletivo fizemos as hortas e tentando, pelo menos, dali começar a tirar o alimento, que essa é a proposta dos sistemas agroflorestais. A ideia é as comunidades de produção de alimentos saudáveis, vinculadas aos sistemas agroflorestais”, relata.
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O objetivo é combater o modelo agroexportador, que hoje domina o país e planta apenas monoculturas como cana-de-açúcar, eucalipto e grãos, por exemplo. O modelo de agrofloresta propõe recuperação da biodiversidade com a produção de alimentos saudáveis sem agrotóxicos e geração de renda para a agricultura familiar.
“A ideia é que todos tenham um espaço perto da sua moradia, a construção também de casas, e que produza a comida dentro desse sistema e que possamos fazer essa distribuição dentro do próprio município do alimento saudável e também para fora, se a gente conseguir quantidades maiores”, explica Lima.
O acampamento está localizado em um território de contradições, na opinião da agricultora. Ela reforça o coro da região de Ribeirão Preto como uma espécie de “capital do agronegócio”, que, ao mesmo tempo, precisa trazer alimentos de outras regiões. Neusa lembra que essa realidade se repete no país, em que 70% da produção de comida é feita pela agricultura familiar.
Não à toa, que a produção de alimentos saudáveis e a ocupação do acampamento parece incomodou. As cerca de 80 famílias do Campo e Cidade Paulo Botelho já sofreram dois incêndios que, de acordo com o movimento, foram criminosos. Ou seja, foram provocados com a intenção de trazer danos ao local.
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O último aconteceu no dia 14 de agosto e varreu boa parte das mais de 250 mudas plantadas, hortas e até dois barracos. Felizmente ninguém se machucou e o povo não desanimou. Os acampados recomeçaram a plantação de mudas e continuam cultivando as hortas que sobraram.
“Nós conseguimos algumas mudas do horto de Jardinópolis, o próprio município está fortalecendo também. Tem um projeto também que é via nacional, com setor de produção estadual, e estão vindo algumas mudas para cá, são umas 5 mil mudas. Para que a gente comece esse processo de fazer todo o reflorestamento junto com a produção e tentar recuperar todas essas áreas, nós estamos já nos preparando”, declara Lima.
Os incêndios foram denunciados pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos (Conpede) e seguem em investigação.
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O acampamento já está estabelecendo projetos de expansão de produção de alimentos saudáveis por meio da agrofloresta com a prefeitura de Jardinópolis. Além de contar também com o apoio de outros quatro assentamentos e quatro acampamentos do MST na região, que já produzem e distribuem alimentos saudáveis no campo e na cidade.
Se a lenda da ave Fênix existe, ela poderia se chamar Acampamento Campo e Cidade Paulo Botelho, que está renascendo das cinzas por meio a força da coletividade, da luta pela Reforma Agrária e da produção do alimento saudável.
Edição: Daniel Lamir