Parlamentares do Rio de Janeiro comentaram o afastamento do governador Wilson Witzel (PSC) do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na manhã desta sexta-feira (28), o STJ determinou que Witzel se afaste inicialmente por seis meses do cargo por suspeita de envolvimento em um esquema de corrupção na área de saúde.
Deputados estaduais e federais do Rio, além de vereadores da capital fluminense, lembraram da associação política entre o governador e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em 2018, o apoio da família Bolsonaro alavancou a candidatura de Witzel, até então desconhecido na política fluminense. Em 2019, contudo, o chefe do Executivo no estado rompeu com o Palácio do Planalto.
Para o deputado federal Marcelo Freixo (Psol), que em maio anunciou que o governador não conseguiria se sustentar no cargo, a "rachadinha" na amizade entre o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) e Witzel pode esconder interesses da família Bolsonaro sobre o futuro da política no estado.
"A família Bolsonaro tem interesse em influenciar e escolher quem será o próximo governador do Rio de Janeiro. Isso é vantajoso para quem é investigado por corrupção. Será que a amizade entre Flávio Bolsonaro e Witzel deu uma rachadinha? Lembrando que foi o clã Bolsonaro que elegeu Witzel", disse o parlamentar do Psol.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) questionou a medida monocrática do ministro Benedito Gonçalves e disse que o afastamento precisa ser confirmado em decisão coletiva pelo pleno do STJ. Mas a história de primeiras-damas envolvidas em caso de corrupção, com Helena Witzel como alvo das operações, se repete desde Sérgio Cabral até Jair Bolsonaro.
"Os dados são robustos e envolvem mais uma vez uma primeira-dama, como foi com Adriana Ancelmo e no caso dos cheques para Michelle Bolsonaro. Há processos constitucionais e legais para afastar os corruptos dos governos. E, é claro, há um processo de impeachment em curso na Alerj e o STJ tem um pleno", comentou Jandira.
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Os parlamentares mencionaram também as relações entre Bolsonaro e o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, preso nesta manhã. Em 2016, o pastor batizou Bolsonaro no Rio Jordão, em Israel. Citado em delações da Operação Lava Jato, Everaldo operava junto ao ex-deputado Eduardo Cunha (MDB), preso em 2016, e é suspeito de ter recebido R$ 6 milhões para favorecer a candidatura de Aécio Neves (PSDB) em 2014.
"O problema não é a presença de evangélicos na política. É o uso eleitoreiro da fé do povo. Pastor Everaldo, líder do PSC, padrinho político de Witzel e suspeito de ser o chefe de um milionário esquema de corrupção também foi o escolhido para o batismo da família Bolsonaro", comentou o vereador Tarcísio Motta (Psol), acrescentando que Witzel e o bolsonarismo usaram "o discurso anti-corrupção para ganhar votos enquanto repetia as mesmas práticas".
Já o deputado federal David Miranda (Psol) disse estranhar que suspeitas pairem sobre todas as pessoas em torno de Bolsonaro, inclusive seus familiares, mas que nada atinge o presidente da República.
"É impressionante, são criminosos os filhos do Bolsonaro, o melhor amigo do Bolsonaro, os vizinhos do Bolsonaro, o pastor que batizou o Bolsonaro, o governador que Bolsonaro elegeu. Mas o Bolsonaro não, né?", afirmou Miranda, em alusão às investigações envolvendo filhos do presidente, Witzel e o ex-assessor Fabrício Queiroz, além do pastor que batizou o presidente.
Edição: Eduardo Miranda