Solidários, modernos, humanizados. Assim os bancos se apresentam nas propagandas. As ações de responsabilidade social são amplamente destacadas em peças publicitárias. Por trás dessa imagem para consumo externo, a realidade revela instituições financeiras que fazem da exploração de seus trabalhadores e da insensibilidade uma prática diária, que agora se revela sem máscaras diante da pandemia e da campanha salarial em curso.
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Cortar quase metade da participação dos trabalhadores nos lucros e resultados, reduzir gratificação de função, acabar com conquistas como a 13ª cesta alimentação e negar reajuste impondo perda de 2,65% aos trabalhadores e trabalhadoras são alguns exemplos do que pretendem os banqueiros para retribuir o trabalho de seus funcionários, que continuam garantindo lucros bilionários.
Os bancários e bancárias papel importantíssimo durante a pandemia.
Somos trabalhadores essenciais. O pagamento do auxílio emergencial e a não suspensão de atendimento nas agências mesmo no pico de contágio pelo novo coronavírus, não deixam dúvidas quanto a isso. Mesmo os que puderam atuar em home office enfrentaram o desafio de manter a produtividade e dar conta das metas abusivas que estão adoecendo os bancários.
Já os bancos passam por essa pandemia sem ter do que reclamar.
Receberam um generoso pacote de R$ 1,2 trilhão do governo federal e já economizaram R$ 267 milhões nos últimos meses em despesas como vigilância, energia, água e limpeza.
O certo é que os banqueiros continuam lucrando e muito. Ainda que tenha havido alguma redução na margem de lucro, prejuízo é uma palavra que passa longe do vocabulário e da realidade dessas instituições. Elas se apresentam também como peças chaves na indução da economia na hora de reivindicar recursos, mas ignoram esse papel ao sentar na mesa de negociação. No Brasil somos cerca de 450 mil bancários e bancárias. O corte de rendimentos da categoria tem impacto em série.
A estratégia fria e calculista da Federação dos Bancos está pautada na aposta que, diante do isolamento social, com trabalhadores em home office, não haverá mobilização contra os absurdos que tentam nos impor.
Mas aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, nosso sindicato já escreveu 90 anos de história. Enfrentamos momentos difíceis, passamos pela ditadura que assassinou nosso então presidente Aluízio Palhano. Sabemos que atravessamos hoje mais um momento difícil, mas estamos na luta, travando uma batalha nas redes sociais para mostrar a verdadeira face dos banqueiros.
Nossa campanha é nacional e não descartamos outras ações, nem mesmo greve, se necessário. A imagem dos bancos pode valer muito, mas nossas vidas valem mais.
*Adriana Nalesso, Presidenta do Sindicato dos Bancários Rio de Janeiro.
Edição: Mariana Pitasse