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Noam Chomsky e Vijay Prashad: o despejo do acampamento do MST "nos dói profundamente"

Os intelectuais redigiram uma carta de solidariedade às 450 famílias do Quilombo Campo Grande, onde ocorreu o despejo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Na escola popular Eduardo Galeano, destruída pela Policía Militar de Minas Gerais, eram educadas crianças, adolescentes e adultos - Divulgação/MST

O linguista e filósofo estadunidense Noam Chomsky e o historiador indiano Vijay Prashad enviaram uma nota de solidariedade às 450 famílias do acampamento Quilombo Campo Grande, em Minas Gerais, que vivem na área onde ocorreu a reintegração de posse na última sexta-feira (14).

Na mensagem, os intelectuais condenam o despejo, a destruição das terras do acampamento, e criticam o descaso do governador, Romeu Zema (Novo) e a ação truculenta da Polícia Militar do estado.

Os acampados passaram quase 60 horas lutando contra a reintegração de posse da área, resistindo frente às bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela PM e o avanço da tropa de Choque.

Na declaração, Chomsky e Prashad lamentam o despejo e, particularmente, a destruição da Escola Popular Eduardo Galeano, destruída pela polícia militar com um trator no primeiro dia da ação de reintegração de posse. O espaço, que homenageava o escritor uruguaio, eram alfabetizadas crianças, adolescentes e adultos.

"Em sinal de descaso, o governador e a polícia militar destruíram a Escola Popular Eduardo Galeano, que educou crianças e adultos. Como amigos de Eduardo Galeano (1940-2015), a consciência da América do Sul, o despejo e a destruição nos dói profundamente", expressam.

Apoiadores da luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Noam Chomsky e Vijay Prashad recordam, na carta, também a memória do bispo Dom Pedro Casaldáliga, falecido há sete dias. Para eles, o despejo "é um insulto à memória" de Casaldáliga, conhecido internacionalmente como "o bispo dos pobres".

Leia, a seguir, a carta completa:

Declaração sobre o despejo de 450 famílias do Quilombo Campo Grande, por Noam Chomsky e Vijay Prashad

Em 12 de agosto, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, enviou a Polícia Militar para realizar uma ordem de despejo em uma área onde 450 famílias do Quilombo Campo Grande produzem e residem há 22 anos. Durante três dias, os policiais cercaram o campo, intimidando as famílias, em uma tentativa de forçá-las a deixar suas terras, mas as famílias sem-terra resistiram. No dia 14 de agosto, utilizando bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, finalmente tiveram sucesso.

Eles destruíram uma comunidade que tinha construído casas e cultivado plantações orgânicas (incluindo o café, comercializado como Café Guaií). Em 1996, as famílias, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), ocuparam uma abandonada usina de açúcar (Ariadnópolis, de propriedade da Companhia Agrícola dos Irmãos Azevedo); agora, a Jodil Agropecuária e Participações Ltda, de propriedade do João Faria da Silva, um dos maiores produtores de café do Brasil, queria o despejo se concretizasse para que pudesse assumir a produção da cooperativa.

Como sinal de descaso, o governador e a polícia militar destruíram a Escola Popular Eduardo Galeano, que educou crianças e adultos. Como amigos de Eduardo Galeano (1940-2015), a consciência da América do Sul, o despejo e a destruição nos dói profundamente.

O despejo ocorreu poucos dias após a morte do bispo Pedro Casaldáliga (1928-2020), cuja vida foi uma homenagem às lutas pela emancipação dos pobres. Este despejo é um insulto à sua memória, à memória do homem que cantava:

Creio na Internacional
das frontes alevantadas,
da voz de igual a igual
e das mãos enlaçadas…

Essa é a maneira de viver, de mãos unidas, não com bombas de gás lacrimogêneo e balas disparadas pela Polícia Militar contra os agricultores.

Condenamos o despejo das famílias, e a destruição de suas terras e de sua escola. Estamos com as famílias do Quilombo Campo Grande.

 

Edição: Luiza Mançano