Coluna

Aqui na terra tão jogando futebol

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Não bastasse o futebol, o retorno às aulas presenciais em diferentes partes do Brasil está contribuindo para forçar a ideia de um retorno à normalidade. - Ricardo Duarte / Fotos Públicas
Muita careta pra engolir a transação. E a gente tá engolindo cada sapo no caminho

Olá,  

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Bolsonaro venceu a covid e não foi (só) com cloroquina. A pandemia não é mais com ele e sua popularidade está até aumentando, enquanto o Supremo não fala nada sobre uma ameaça de intervenção e mídia e mercado estão mais preocupados que o governo seja liberal o bastante para que não se perca a oportunidade histórica de passar de vez a régua nos direitos sociais e no patrimônio público. De pedra no sapato, apenas um espectro que volta a rondar o bolsonarismo: Queiroz e as rachadinhas.

Para ler ouvindo "Meu Caro Amigo" de Chico Buarque.

1. Cloroquinão 2020. Para surpresa de ninguém, os campeonatos nacionais de futebol voltaram para mostrar que não existe protocolo de segurança que seja totalmente seguro. Pela primeira rodada do Brasileirão da Série A, o jogo entre Goiás e São Paulo teve de ser adiado porque oito jogadores titulares tiveram teste positivo para coronavírus horas antes da bola rolar.

Na Série B, o jogo entre CSA e Chapecoense também foi adiado depois que 18 jogadores do clube alagoano tiveram teste positivo. Em Santa Catarina, o médico do Brusque, clube que disputa a Série C, morreu nesta quinta (13) em decorrência da Covid-19 depois de ficar internado desde 22 de julho. Isso sem contar que, obviamente, a volta do futebol provoca aglomerações fora dos estádios, como no caso da festa palmeirense no entorno do Palestra Itália durante a final do Paulistão.

Diante dos problemas da primeira rodada, a CBF decidiu ampliar o número de testes e também as opções de laboratórios para os clubes, mas na prática mostrou que pretende mandar o tal protocolo, que já tem vários furos, definitivamente às favas: antes de vencer o Flamengo por 3 a 0, o Atlético-GO teve quatro atletas positivos, mas conseguiu um recurso junto à CBF alegando que eles já não eram capazes de transmitir o vírus.

Futebol na TV é um bom entretenimento, não se pode negar, mas também não se pode esquecer que a pressão pela volta do futebol esteve inserida no contexto de forçar um retorno à normalidade, numa adesão imediata à pauta do governo federal que incluiu o rompimento da exclusividade da Globo na transmissão das partidas, que agora pode representar uma redução de valores recebidos pelos clubes.

Mas bastou a bola começar a rolar para ficar claro que “protocolo” é um eufemismo e as medidas da CBF e dos clubes têm uma série de falhas, como mostra esta reportagem do El País. Em São Paulo, o Sindicato dos Atletas está ameaçando ir à Justiça para pedir a paralisação do Campeonato Brasileiro, caso não haja melhorias nos tais protocolos. Por enquanto, vida que segue. Vocês viram que o Flamengo é o lanterna do Brasileiro e o Corinthians tomou uma virada depois de estar vencendo por 2 a 0?

2. Há que se cuidar da vida. Não bastasse o futebol, o retorno às aulas presenciais em diferentes partes do Brasil está contribuindo para forçar a ideia de um retorno à normalidade, sensação discutida por especialistas nesta reportagem do Brasil de Fato.

Em São Paulo, o governador João Dória (PSDB) tenta forçar o retorno das aulas presenciais, e agora adia essa possibilidade para o começo de outubro. No Rio Grande do Sul, o também tucano Eduardo Leite quer que as aulas presenciais voltem ainda no final de agosto. Entre os gestores locais, são raras as vozes como a do prefeito de Belo Horizonte, que apontou o óbvio: o retorno das aulas presenciais não é seguro, o ensino remoto é um atentado aos estudantes pobres e além do risco sanitário haverá um abismo ainda maior na educação de ricos e pobres.

Uma pesquisa do sindicato dos professores estaduais gaúchos mostra que a grande maioria das escolas da rede pública estadual não têm estrutura adequada para receber alunos com segurança, nem profissionais de limpeza e estão com repasses financeiros atrasados. Nos locais onde as aulas já voltaram, como em Manaus, houve aglomerações, distribuição de equipamentos de segurança inadequados e escolas tendo de suspender as aulas pelo surgimento de casos de covid-19.

A experiência internacional também mostra o risco de colocar milhares de crianças e adolescentes em espaços fechados. Especialistas ouvidos pelo Nexo Jornal apontam uma série de problemas para o retorno das atividades presenciais, especialmente nas escolas públicas brasileiras, entre eles a falta de recursos para a compra de materiais de higiene e instauração de equipamentos de segurança e a tensão gerada para controlar uma situação que é incontrolável.

No site Jornalistas Livres, a professora Joana Monteleone faz uma ponderação importante: não basta apenas negar o retorno às aulas, é preciso participar do debate sobre como as escolas vão voltar, considerando a importância de fatores como a socialização para as crianças. Do contrário, governos conservadores vão usar a pressão para intensificar o combate aos servidores públicos e também para passar a boiada do ensino a distância, numa lógica que trata o professor como um repassador de conteúdo, aumentando a precarização do trabalho e da qualidade da educação.

3. Ontem sonhei que estava em Moscou. Causou um alvoroço internacional o anúncio de que a Rússia foi a primeira a chegar à vacina contra o coronavírus, que entraria em produção industrial em setembro. A notícia, porém, deve ser lida com cautela, considerando a falta de informações e os riscos de que seja ineficaz e também insegura. Não só por isso: é impensável um cenário no qual vacinas já estejam disponíveis em 2020.

Na verdade, como mostra reportagem da revista Piauí, mesmo as vacinas mais avançadas e cujos processos têm mais credibilidade não devem estar disponíveis tão cedo: o Instituto Butantan, por exemplo, prevê que o último teste com a “vacina chinesa” seja feito em outubro do ano que vem.

Ou seja: a vacina vai demorar e vamos ter que encarar o fato de que o coronavírus já matou em pouco mais de cinco meses mais do que homicídios, acidentes de trânsito e diabetes em todo o ano de 2017 no Brasil e que o distanciamento social continua sendo a medida mais eficaz para conter a expansão do vírus, inclusive para que as equipes médicas aprendam técnicas que reduzam o risco de morte de pacientes.

É claro que se trata de uma situação complexa: já perdemos a conta de quantos dias estamos em quarentena e é natural que mesmo seus defensores adotem medidas de “redução de danos” para tentar retomar a rotina. O que temos insistido, semana após semana, é como a volta às aulas, a retomada do futebol e até mesmo a ilusão de que a vacina está chegando ajudam a endossar o discurso de “vamos tocar a vida”, como disse Bolsonaro diante da marca de 100 mil mortos, quando na verdade ele merece um processo de impeachment e uma passagem para Haia.

Nesta quinta (13), reportagem do UOL mostrou que 22 estados e o Distrito Federal estão com seus estoques de medicamentos para a intubação de pacientes graves da covid-19 no vermelho. No mesmo dia, Bolsonaro voltou a se apresentar como “prova viva” de que a cloroquina funciona, mentindo sobre não haver comprovação científica sobre a não eficácia do medicamento: há alguns estudos sérios, incluindo um brasileiro, mostrando que a cloroquina não só não funciona como pode ser perigosa.

Como lembra Leandro Colon na Folhadiante de um Congresso omisso sobre a inação federal no combate à pandemia, Bolsonaro se sente à vontade para incluir as 100 mil mortes na campanha eleitoral que já está fazendo: a ofensiva de seus apoiadores no submundo da internet inclui responsabilizar governadores, dizer que o Supremo Tribunal Federal (STF) travou o governo e lançar teorias da conspiração relacionadas à cloroquina, como resume Thomas Traumann na Veja.

A estratégia está dando certo: pesquisa Datafolha realizada por telefone no começo da semana e divulgada nesta quinta (13) mostra que Bolsonaro está com o melhor índice de popularidade desde o começo do mandato, vendo também a rejeição cair e conseguindo descolar de si a culpa pela tragédia do coronavírus no Brasil.

Neste ponto é interessante recuperarmos a matéria da revista da Piauí que relata a reunião em que Bolsonaro e seus ministros militares cogitaram invadir o STF: na Folha, o jurista Conrado Hübner sugere que a fonte da informação tenha sido os próprios militares, num recado ao Supremo. Seja como for, não houve qualquer reação sobre o assunto. Quem precisa de golpe, não é mesmo?

4. Ou vai ou racha. Como mencionamos nas edições passadas, em algum momento, ainda deste ano, Bolsonaro terá que escolher entre avançar sobre os eleitores mais pobres ou manter as crenças fiscais. Como a proposta para o orçamento de 2021 deverá ser apresentado ainda neste mês de agosto, Paulo Guedes sentiu que não só a balança estava pendendo para outro lado, como iria cair em cima do legado do governo Temer, o teto de gastos.

Ao anunciar a demissão de dois secretários vinculados à agenda das privatizações, Guedes, que pode ter sido o causador das demissões, fez um drama digno de uma novela mexicana, recorrendo à retórica bolsonarista de que estavam sendo impedidos pelo “establishment” de executar o projeto liberal e pela falta de vontade política do próprio governo em fazer as privatizações.

O fato é que o choro surtiu efeito. Assim como no episódio do Pró-Brasil, Guedes venceu de novo a disputa que vem travando nos bastidores contra os ministros Braga Netto (Casa Civil), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Tarcísio Freitas (Infraestrutura), que defendem a ação do Estado em obras para retomar a economia e vão vendo o programa tomar o rumo de alguma gaveta.

Se no primeiro momento, Bolsonaro contemporizou, logo em seguida se somou a Rodrigo Maia para deixar bem claro que o teto de gastos não será mexido. Escudeiro número um de Guedes, Maia também adotou o discurso de que não será possível  a permanência do auxílio emergencial. Ou seja, além de segurar o teto, Guedes provavelmente conseguiu também antecipar outras medidas restritivas ao orçamento.

Autor de um livro de entrevistas com 14 ex-ministros da fazenda, o jornalista Thomas Traumann aposta que Guedes não cairá porque não quer sair pela porta dos fundos, sonhando em ser “o maior ministro da Economia da história”. Além disso é ele quem está elaborando o Renda Brasil e sua saída poderia gerar sobressaltos na transição do auxílio emergencial para o novo programa. E, por fim, ainda há muito amor no sistema financeiro pelo ex-superministro.

5. Como assim é um governo estatista? O chamado de socorro de Guedes também foi prontamente atendido pelos veículos de comunicação. O terror de que o teto de gastos viesse abaixo e o Estado investisse na recuperação da economia causou muito mais comoção do que a notícia de que o governo cogitou invadir e dissolver o STF na semana passada.

Vera Magalhães escreveu que só faltariam penas para que Bolsonaro seja “um nacional desenvolvimentista”, como se “nacional” e “desenvolvimento” fossem defeitos. A jornalista do Estadão ainda acusou os bolsonaristas raiz de atacarem os liberais nas redes sociais como fazem “contra os comunistas e outros inimigos imaginários”.

O colunista do UOL José Paulo Kupfer, como muitos, lamentou chorosamente que Bolsonaro nunca tenha sido um liberal. No dramalhão liberal, teve até quem dissesse que os liberais eram tratados como um vírus pelos maléficos intervencionistas. A verdade é que a turma do liberalismo não tem nada do que reclamar. Se as privatizações não avançaram, se deve muito mais à combinação de grandes ambições com pequenas capacidades da equipe de Guedes do que à falta de convicção política do legislativo ou executivo.

A economista Zeina Latif, ex-chefe da XP Investimentos, lembra que o próprio Guedes costuma fazer promessas gigantescas para entregar resultados minúsculos. Certamente, faltou no terreno das privatizações a competência que o governo demonstrou em outras áreas para destruir o Estado.

Por exemplo, em plena pandemia, cuja tragédia só não é maior graças ao SUS, o governo pretende cortar R$ 35 bilhões no orçamento da saúde para o próximo ano. Na Educação, a área deve reduzir cerca de 4,2 bilhões de reais do orçamento em 2021, prenúncio de mais um ano de pindaíba nas universidades e institutos federais.

Enquanto a privatização da Caixa caminha a passos largos, sim. Em suma, a gritaria da grande imprensa em defesa do liberalismo de Guedes parece estar relacionada ao temor de perder a oportunidade histórica de terminar o processo de privatizações e liquidar com o que ainda resta de direitos trabalhistas.

O Jornal Nacional, crítico a Bolsonaro na cobertura da pandemia, aderiu à campanha pela reforma administrativa, e para isso usou dados distorcidos sobre o funcionalismo público do Instituto Millenium, think tank liberal que tem como um dos fundadores Paulo Guedes.

Entre outras coisas, o Instituto e a emissora consideraram a quantidade de servidores e não sua proporção em relação ao total dos empregados no país. Enquanto nos países europeus os servidores são em média 10 a 15% do total, no Brasil não chegam a 5%.

Se antes da chantagem de Guedes, Bolsonaro não pretendia nem apresentar a reforma este ano, agora ele contou com a pressão e o apoio de Rodrigo Maia para que a proposta seja enviada ao Congresso, a toque de caixa. Não nos esqueçamos: Bolsonaro pode seguir tripudiando sobre 100 mil mortes porque é alvo de extrema benevolência por parte do mercado financeiro, da grande mídia e das instituições.

6. O espectro da rachadinha. Apesar da vida tranquila no momento, um espectro segue rondando Jair Bolsonaro. O ministro do STJ Félix Fischer revogou a prisão domiciliar de Fabrício Queiroz e determinou seu retorno para a cadeia, assim como de sua esposa, Márcia Aguiar. A bola já está com Gilmar Mendes, no STF.

Na quinta (13) à noite, o Jornal Nacional teve acesso ao depoimento do empresário que vendeu a loja de chocolates para Flávio Bolsonaro e que acusa o agora senador de fraudar notas fiscais e ameaçá-lo. O depoimento confirmaria a hipótese do Ministério Público de que a loja era usada para lavar o dinheiro do esquema de rachadinhas mantido durante anos nos gabinetes da família.

O assunto rendeu uma semana de más notícias para os Bolsonaro. Ainda na sexta passada (7), a revista Crusoé demonstrou que Queiroz depositou 72 mil reais em 21 cheques para a primeira-dama Michelle, contrariando a versão de que se tratava de um empréstimo. Na terça (11), reportagem do jornal O Globo mostrou que Rogéria Bolsonaro, ex-mulher do atual presidente, pagou 95 mil reais em dinheiro por um apartamento em 1996, quando ainda era casa com o então deputado federal.

Na quarta (12), reportagem da Folha mostrou que a personal trainer Nathália Queiroz continuou repassando a maior parte de seu salário ao pai, Fabrício, mesmo quando empregada no antigo gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, e só interrompeu a prática após o suposto vazamento de informações sobre as investigações na Assembleia do Rio.

A revista Época mostra como, através dos sucessivos casamentos, Bolsonaro colocou suas esposas no esquema de rachadinha, cujo operador era Fabrício Queiroz. As informações desta semana coincidem com a divulgação de partes do depoimento de Flávio ao MP do Rio, no âmbito do inquérito das rachadinhas, no qual ele disse, por exemplo, não se lembrar de uma situação inusitada ocorrida em 2012: no mesmo dia em que comprou dois apartamentos, com cheques, pelo valor de R$ 310 mil, ele recebeu um depósito de R$ 638 mil feito pelo vendedor dos imóveis no mesmo dia em que a compra foi registrada em cartório.

Resta saber o quanto esse tema avançará ou se também aqui Bolsonaro contará com a complacência das instituições. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) informou nesta semana que o MP perdeu o prazo para recorrer da decisão que concedeu foro privilegiado ao senador no inquérito das rachadinhas, enquanto o pai conta com os velhos amigos do centrão para garantir que nada disso se propague num processo de impeachment no Congresso. A conferir.

7. Em cinzas. Há um ano, em 10 de agosto de 2019, estimulados pela ausência do Estado, fazendeiros do entorno da BR-163, no Pará, realizaram uma série de queimadas criminosas, no que ficou conhecido como "Dia do Fogo". A ação coordenada fez o número de focos de calor aumentar cerca de 300% de um dia para o outro na principal cidade da região, Novo Progresso (PA).

Segundo o Greenpeace, metade dos incêndios ocorreram em áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR), ou seja, passíveis de identificação dos responsáveis. Porém, apenas 5,3% foram punidos de alguma forma. Como lembra a agência alemã Deutsche Welle, o ato foi também uma forma dos fazendeiros expressarem seu apoio ao governo Bolsonaro e à política ambiental.

Um ano depois, esta política continua a pleno vapor: em Novo Progresso, não há viaturas disponíveis do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) para combater as chamas e os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram um aumento de 1% nos focos de incêndio em relação ao ano passado.

Aliás, o rebaixamento da questão ambiental no Itamaraty é prova de que se trata de uma política de governo. Um anos depois, a vida só mudou para o Exército. Como já mencionamos em outras edições, apesar do aparato e de recursos mobilizados, a ação militar na questão ambiental tem sido um fracasso, quase na proporção inversa ao volume de recursos recebidos: segundo o Estadão, o Ministério da Defesa abocanhou sozinho todo o montante dos R$ 630 milhões da Operação Lava Jato que, por decisão do STF, devem ser usados exclusivamente para financiar ações de fiscalização e combate aos incêndios florestais na Amazônia. Apesar disso, o general Mourão anunciou esta semana que é o setor privado e não o público quem deverá ser protagonista do desenvolvimento da região.

8. O país que será uma ilha. A insistência na política de desmonte ambiental é parte também de como este governo pensa as relações internacionais. Ou, como caminhamos para não ter relação alguma internacionalmente. Mais detestados do que os países e investidores europeus na questão ambiental, somente os chineses na escala de prioridade dos alunos de Olavo no Itamaraty.

A má vontade com os chineses ultrapassa a retórica e se transforma em empecilhos reais para investimentos chineses, como a participação na retomada da usina nuclear de Angra 3 e um fundo de investimento de infraestrutura de US$ 20 bilhões. Sem contar a decisão em inviabilizar a participação dos chineses na implantação do 5G, cujo mito de ameaça à segurança já foi desmentido pelo próprio Exército brasileiro.

Do ponto de vista pragmático, querer brigar com uma das maiores potências comerciais do mundo é, no mínimo, uma grande idiotice. Principalmente com seis frigoríficos proibidos de exportar carne para o país asiático e indícios de covid-19 sendo identificados num sétimo.

Já pragmatismo é o forte pelo lado chinês que, diante da alta do preço da soja aqui, desistiu de compras e foi buscar o produto nos Estados Unidos. Justamente o país que Bolsonaro e o Itamaraty acreditavam estar agradando com tanta militância anti-chinesa. Aliás, toda política internacional brasileira parece construída apenas no desejo infantil de Bolsonaro e Ernesto Araújo agradarem Washington.

Além de resultados pífios e mesmo derrotas, como a taxação de produtos brasileiros e não ter apoio nos organismos multilaterais, a tática do Planalto ignora a possibilidade de que Donald Trump não se reeleja. Joe Biden por ora lidera as pesquisas, o que não quer dizer nada no sistema eleitoral americano. Mas, se eleito, certamente se somaria às pressões contra a política ambiental brasileira, o que aumentaria o isolamento internacional de um país que já não é bem visto, nem pela forma como trata o meio ambiente, nem pela maneira como não combate a covid.

9. Ponto Final: nossas recomendações de leitura.

"Dia do Fogo" completa 1 ano sem presos nem indiciados. Inquérito da Polícia Civil conclui que fogo foi alastrado pelo vento; já investigação da Polícia Federal não avançou - racha entre policiais e vínculo de suspeitos com políticos podem ter atrapalhado investigações. Reportagem da Repórter Brasil.

A intensificação e a desintelectualização do trabalho docente no contexto da pandemia de covid-19. Neste debate organizado pela Fiocruz, os professores Roberto Leher (UFRJ) e Rodrigo Lamosa (UFRRJ) discutem a precarização e a desintelectualização do trabalho docente a partir da pandemia.

O que estamos prestes a perder na Universidade. O professor de Administração da UFRGS Lucas Casagrande descreve como a universidade é um espaço de sociabilidade como parte da construção do conhecimento e como este processo é ameaçado pelo ensino remoto.

Salim Mattar, típico “liberal” brasileiro, vive de subsídios do governo. A Carta Capital toma Salim Mattar como exemplo do liberalismo à brasileira, onde empresários vivem às custas do mesmo Estado que defendem que seja reduzido. No caso de Mattar, os benefícios tributários injetariam cerca de R$ 5 bilhões nos cofres da sua empresa.

Por um Programa de Salvação Nacional. O economista Paulo Kliass escreve sobre as medidas que podem salvar a economia nacional, como a renda universal e a emissão de moeda, mas que passam necessariamente pelo fim do teto de gastos.

A tropa de choque de Bolsonaro. A Piauí publica um perfil de policiais que compõem a base social do bolsonarismo e defendem ideias como fechamento do Supremo e do Congresso.

O papel dos autores 'conservadores' na ascensão do bolsonarismo. Na Época, Gabriel Trigueiro lembra que um ambiente intelectual favorável ajudou a pavimentar caminho para a ascensão da extrema-direita no Brasil.  

Bolsonarismo é a mais perversa máquina de destruição de nossa história republicana. O professor de Literatura Comparada da Uerj João Cezar de Castro Rocha explica como não é possível bolsonaristas sem um bolsonarismo, assim como esta visão de mundo é uma atualização da Doutrina de Segurança Nacional da ditadura militar.

Podcast Guilhotina #78 – Charles Trocate. Poeta e dirigente nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, Charles Trocate, é o entrevistado do Podcast sobre a ameaça de novas tragédias causadas pela mineração como Brumadinho e Mariana.

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Edição: Leandro Melito