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Aprender idiomas indígenas é pôr fim à colonização forçada, defende professor Macuxi

Projeto da Universidade Federal de Roraima desempenha papel fundamental para preservar idiomas originários da Amazônia

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Viagem feita pelos estudantes de língua Macuxi e Wapichana, em 2018, para o Festival de Panelas de Barro na comunidade Raposa I - Arquivo pessoal
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O Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Roraima (UFRR) tem desempenhado um papel muito importante na valorização e no fortalecimento da língua e da cultura Wapichana e Macuxi no Brasil. 

Desde 2009 o Instituto Insikiran promove cursos de extensão em Língua e Cultura Wapichana e Macuxi. O projeto foi elaborado pela professora Ananda Machado, junto com Vítor Francisco Juvêncio, Wanja da Silva Sebastião, Eliza Silvino da Silva e Venceslau, que são professores e alunos do curso Licenciatura Intercultural, no Insikiran . Atualmente há uma parceria com a Organização dos Indígenas da Cidade (ODIC) e Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR). Os professores são todos indígenas Macuxi ou Wapichana (voluntários vinculados à ODIC ou acadêmicos da UFRR). 

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Há três níveis de aprendizado (Iniciantes, Intermediário e Avançado), que conta com a Oficina de Produção de Dicionário Multimídia Wapichana e a Oficina de produção da materiais didáticos na língua Macuxi. Não há limite de vagas. 

Segundo a coordenadora do Programa de Valorização das Línguas e Culturas Indígenas de Roraima e professora do curso Gestão Territorial Indígena do Instituto Insikiran, Ananda Machado, o objetivo do projeto é contribuir na valorização do uso da língua e cultura Wapichana e Macuxi nas comunidades indígenas e na cidade, dentre outras metas. Os cursos são direcionados aos estudantes indígenas da UFRR, mas são abertos a todas as pessoas que se interessam pelo tema.

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Marcos Braga, professor do curso de licenciatura intercultural e diretor do Instituto Insikiran, explica que preservar a cultura indígena é preservar a história do Brasil.

“A questão das línguas indígenas passa por um processo de revitalização, do ponto de vista do próprio movimento indígena, de valorização também quanto identidade, quanto cultura, nesse processo de retomada dos territórios tradicionais, nesse processo da educação diferenciada multicultural, multilíngue”. 

Ele explica que a formação das línguas Wapichana e Macuxi está se ampliando cada vez mais. O projeto, além de fazer parte do Programa de Extensão Universitária (ProExt), também realiza formações em diversas comunidades por todo o estado de Roraima. 

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Ivo Cípio Aureliano, do povo Macuxi, hoje advogado, assessor jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e integrante da Rede de Advogados Indígenas do Brasil, foi aluno e, posteriormente, professor da língua Macuxi no curso de extensão do Instituto Insikiran, da UFRR. 

Percebendo a necessidade de defender juridicamente seu povo, ele, que também trabalha como intérprete e tradutor na área jurídica, se formou em direito e para fazer parte de diversas iniciativas de preservação da cultura e dos direitos indígenas em Roraima. 

Ivo cresceu num ambiente em que até hoje só se fala Macuxi, já que tanto seu pai, quanto sua mãe, se comunicam nesse idioma. Por conhecer a língua falada, em 2012 entrou no curso de extensão para aprender também a escrita Macuxi. 

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Foi a partir do conhecimento da escrita e do incentivo de linguistas da Universidade que Ivo decidiu buscar mais informações sobre a história de seu povo o que resultou em um convite para se tornar professor. 

Ele destaca que o conhecimento da língua é importante para que se possa conhecer a cultura e a história dos povos originários. Um dos pontos do curso que mais chamaram a atenção de Ivo foi a história da construção da escrita e como isso é estudado hoje.

Ele explica que foi um ambiente muito propício para que pudesse se aproximar de outras pessoas que se interessavam e trabalhavam com sua língua materna. 

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As aulas são teóricas e práticas para ajudar no vocabulário e no entendimento dos sons da língua. Em uma das aulas os estudantes levam ingredientes, todos se sentam no jardim, acendem o fogo e fazem junto a damurida (caldo apimentado que, na cidade normalmente se faz com peixe, mas nas comunidades se faz com carne de caça).

“Os alunos aprendem os nomes dos ingredientes, como se fala pra pedir isso ou aquilo, e aí todo mundo come e prova da damurida”, explica a coordenadora Ananda Machado. Já em outras aulas, os professores também trabalham teatro, cantos e danças nas línguas tradicionais. 


Material produzido por alunos na língua Macuxi. Tradução Jamaxim. É como se fosse a mochila dos indígenas (ainda usam) / Arquivo pessoal

Marcos Braga comemora os resultados do projeto. “É um programa que tem dado os resultados positivos como a co-oficialização de línguas indígenas no município de Bonfim (RR) e no município de Cantá (RR). E esse trabalho externo é imprescindível, porque o trabalho do Insikiran é justamente buscar novos aliados, buscar valorização étnico-cultural de Roraima. A Universidade tem como uma das funções sociais a extensão universitária nesse tripé da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão”, explica. 

Há uma luta também para co-oficializar as línguas Macuxi e Wapichana também no município do Uiramutã (RR), o que dá para os idiomas mais prestígio e reconhecimento dentro das escolas municipais.

“É muito mais fácil você ensinar a falar uma língua à uma criança pequenininha do que depois que cresce e isso já está comprovado cientificamente. E também tem a questão da própria prefeitura contratar pessoal [que conheça o idioma] para atender nos postos de saúde em todos os lugares falantes dessas línguas indígenas”, completa a coordenadora do curso.

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Com as medidas de distanciamento social, a professora Ananda, com apoio do Insikiran e a Universidade Virtual de Roraima (UNIVIRR), está coordenando as gravações de videoaulas para o preparo específico ao concurso de professores indígenas que deve ser lançado nos próximos meses.

“Nesse curso de videoaulas, os professores estão trabalhando basicamente leituras de textos, interpretação, tradução e questões de interpretação com múltipla escolha. E aí sempre ampliando o vocabulário e explicando o funcionamento da língua de uma maneira aplicada  a essa interpretação”, explica a coordenadora. 

Há também uma luta dentro da Universidade para que se crie um curso de nível superior de professor de língua indígena. "Se a pessoa fica 5 anos estudando para dar aula de inglês, por que o Macuxi não pode ficar 5 anos estudando Macuxi para ser professor de Macuxi? Por que não tem um curso de formação de tradutor e intérprete onde as técnicas atuais de tradução e interpretação possam ser trabalhadas, assim como, questões jurídicas em relação de alguns termos, de criação de neologismos?", questiona Ananda. 

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Ela explica que uma situação recente mostrou a necessidade de se trabalhar o vocabulário das línguas originárias relacionando com as realidades vividas hoje.

"Nós fizemos um trabalho com a língua Macuxi com uma aluna que se formou recentemente em medicina, e tinham partes do corpo que não existiam o nome na língua. Porque algumas visões indígenas são mais sintéticas, não chegam naquele ponto de detalhe de anatomia central que vai dividindo o osso em várias partes e tal. Então foram criados muitos neologismos. Eu acho que o Estado tem essa dívida com esses povos no sentido de atender a essas necessidades". 


Evento de encerramento das aulas em 2016. Na foto está Janaina, professora de língua Wapichana e sua filha. Em segundo plano, à direita, professora Ananda Machado / Arquivo pessoal

Conquistas e cobranças

A Constituição Federal de 1988 pode ser considerada um marco na conquista de direitos das populações indígenas no Brasil. O antigo Estatuto do Índio (Lei 6.001), de 1973, previa que os povos indígenas deveriam ser "integrados" ao restante da sociedade. Já a Constituição veio para garantir o respeito e a proteção à cultura dessa população, levando em conta a organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. 

Um dos pontos mais importantes para os povos originários é a garantia de uma educação diferenciada, intercultural, multilíngue e comunitária. Segundo a Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a coordenação nacional das políticas de Educação Escolar Indígena é de competência do Ministério da Educação (Decreto nº26, de 1991), cabendo aos estados e municípios a execução para a garantia desse direito dos povos indígenas.

Mesmo com tantas leis no papel, essa não é uma realidade para os povos indígenas no Brasil. O direito linguístico e cultural conquistado na Constituição não é praticado, explica Ananda Machado. Na sua opinião, o poder público deveria trabalhar mais para aperfeiçoar o ensino das línguas e da cultura indígena nas escolas, mesmo estando garantido no Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI)

“Os povos não querem só o ensino de língua, eles querem escolas bilíngues. Para isso, nós teríamos que ter materiais nessas línguas para todas as disciplinas, não apenas o ensino da língua. São sonhos que na legislação já estão conquistados, mas na prática...”, explica Ananda.  

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Para ela, a formação de professores indígenas que saibam falar e escrever as línguas originárias pode mudar a realidade de uma comunidade. O estudo dos idiomas deveria ser escolhido de acordo com a realidade de cada território, levando em consideração o percentual de cada povo que vive naquela região. As escolas hoje perpetuam o português, mas trabalhar todas as disciplinas nesses idiomas indígenas faria daquele um ambiente de preservação e ampliação da cultura indígena. 

"O professor na escola algumas vezes tem a função de ensinar o que essas famílias já não tem condição de ensinar em casa.", completa. 

Ananda, Ivo e Marcos concordam que é importante que as políticas públicas sejam pensadas de dentro pra fora, levando em consideração o que as comunidades querem. “Por que eles toda vida vão ter que ficar se adequando a editais que vêm de fora pra dentro? Tem recurso para cultura, mas tem que ter um ponto de cultura, então tem que adequar ao ponto de cultura. E se eles querem outra coisa? E se eles querem uma casa que receba as crianças, onde se fale a língua indígena, onde se tenham práticas tradicionais de artesanato, disso e aquilo?”, questiona Ananda. 

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Ela explica que esses povos ficam desassistidos de diversas políticas por conta desse não-diálogo. E que muitas vezes as especificidades de cada território, povo e cultura não são consideradas. Um exemplo disso é que muitas comunidades indígenas não conseguem cumprir os calendários escolares porque em determinadas épocas do ano há alagamentos e não há a possibilidade das aulas serem dadas. 


Três turmas Macuxi, nível 1, 2 e 3, no local onde é assado o peixe e feito a damurida. A turma avançada ajudava os iniciantes com os nomes dos ingredientes e com os tratamentos pessoais / Arquivo pessoal

Intercambios de conhecimento

Ivo conta que em sua sala de aula, a maioria das pessoas trabalhavam com atendimento às comunidades indígenas, como professores, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Também haviam pessoas que de outras áreas, mas que se interessavam pela questão indígena e queriam aprender mais sobre a cultura e a língua. Ele destaca que alguns eram da área da antropologia, do direito e das letras na UFRR.

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O advogado conta que o conhecimento da língua por pessoas não indígenas, mas que trabalham com essas comunidades, ajuda a garantir os direitos e o acesso às políticas públicas à essa população. 

“A língua é uma forma de se comunicar, né, e hoje em dia, no Brasil, a gente vê a negação da identidade de um povo, principalmente em relação à língua. A gente não vê espaço nessas instituições, nas instâncias públicas, de valorizar realmente a língua indígena. São poucas as iniciativas que a gente vê por aí. Eu acredito que a língua é algo fundamental para um povo, algo que realmente pode garantir o acesso, primeiramente a informação. Porque por meio da língua que o povo tem acesso à informação sobre seus direitos, sobre as políticas públicas”, explica Ivo. 

A coordenadora do curso explica que é muito gratificante quando profissionais que trabalham diretamente com as populações indígenas buscam conhecer seus idiomas, porque mostra uma preocupação em  atender com dignidade os povos.

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“A área de saúde é uma das áreas em que se sofre muito, principalmente neste momento agora de pandemia, que é um momento bem-crítico. Tivemos o caso das mães Yanomami que não conseguiam se comunicar e ficaram por dias sem saber onde seus bebês estavam, e isso é recorrente aqui. E é um direito garantido por lei, esse que a pessoa seja atendida em sua própria língua, e que é desrespeitado”, continua. 

Língua é um elemento central para a construção de uma identidade, tanto que quando o colonizador chegou, o português foi enfiado à ferro e fogo, e levaram 100 anos para isso

Um caso recente chamou a atenção dos professores do Instituto. Ananda acompanhou o caso de perto. Um indígena Wai-Wai foi ao hospital acompanhado da neta, que também não entendia muito bem o português. O avô faleceu e a jovem não compreendia o que estava acontecendo e o que estava escrito nos documentos. 

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Ananda destaca que aprender os idiomas indígenas é uma forma de quebrar preconceitos e de mostrar respeito por esses povos. Ela explica que em Roraima o preconceito contra essa população ainda é muito forte. No estado, muitos nomes de lugares e até o próprio nome do estado, Roraima, vem das línguas Caribes (línguas caribes, karib, caribas, caraíbas são uma família linguística indígena da América Central e da América do Sul que compreende cerca de 40 línguas faladas entre 60 e 100 mil pessoas).

As línguas Caribes estão dispersa por todo o norte da América do Sul, desde a foz do Rio Amazonas até os Andes colombianos, mas também aparece no Brasil central. Roraima significa um monte azulado/esverdeado.  

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Quando se fala de escolas infantis, Ananda destaca que o acolhimento deve se dar já no primeiro contato. “Para um professor que, mesmo aqui na cidade, vai receber um aluno Macuxi em sua sala de aula, saber cumprimentar esse aluno Macuxi, ele saber cantar uma música, dançar, reconhecer a importância dessas culturas para educação, para o que a gente é, para que a nossa identidade, faz diferença”, explica. 

Pandemia 

Para Ivo, o estado tem deixado de cumprir seu papel com as comunidades indígenas quando se trata de prevenção e combate ao coronavírus. “A língua serve como uma ferramenta e o estado deveria propiciar meios adequados de garantir acesso às informações nessas línguas”, defende Ivo.

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Junto ao Conselho Indígena de Roraima, do qual é assessor jurídico, Ivo participou da elaboração de cartilhas com informações sobre o pandemia. O material conta com informações sobre onde surgiu, como se proteger e quais os tratamentos. 

Além do distanciamento social, a informação também pode ajudar a salvar vidas, é o que explica o advogado Ivo Cípio, que fez a tradução para a língua Macuxi. “Através da língua, a compreensão da doença se torna mais clara e isso ajuda a evitar a propagação do vírus, além de conscientizar o nosso povo”.

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A produção foi feita em parceria do CIR com a UFRR, Instituto Insikiran, Projeto Bem Viver, Nature and Culture Internacional, Niatero e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), com tradução de Josue Barbosa Andrade (Ingarikó), Ivo Cípio (Macuxi), Ana Paula Taurepang (Taurepang), Cléia Alice Morais da Silva (Wai-Wai), Jairo David Rodrigues (Ye'Kuana) e Nilzimara de Souza Silva (Wapichana). 

O material  está sendo distribuído para dez regiões: Serra da lua, Amajari, Serras, Raposa, Tabaio, Auto Cuamé, Baixo Cotingo, Murupú, Surumu e Wai-wai.


Cartilha com termos sobre a pandemia traduzido para o Macuxi / Arte: CIR

Na mesma linha, a UFRR criou a campanha “Vamos Todos Cuidar de Todos” #NinguémFicaPraTrás. Em parceria com o Instituto Insikiran, a Universidade produziu vídeos com informações sobre os sintomas e formas de evitar o contágio da covid-19 nas línguas indígenas Ye'kwana, Wapichana, Yanomami, Taurepang Pemom, Taurepang, que são algumas das etnias indígenas presentes no estado de Roraima.

O professor Ivo explica que uma informação que não chega aos indígenas, que não é compreendida por aquela população, não cumpre sua razão de existir. Ivo completa, “a língua é o meio que deveria existir hoje para que tenha os povos indígenas tenham direito a saúde, a educação e todos os outros direitos”. 

“Nós temos muito mais línguas do que linguistas estudando essas línguas”

O Ivo acredita que disseminar o conhecimento tradicional é garantir que essas línguas não caiam em extinção, como muitas outra que já deixaram de existir no Brasil. 

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“É justamente para não deixar ficar no passado, que a gente precisa registrar essa língua. O estudo é muito importante para que a língua possa continuar viva hoje nesse mundo que a gente vive, para que apesar da tecnologia e das demais áreas de conhecimento, essas línguas possam continuar vivas”, explica. 

“O conhecimento de línguas indígenas para a sociedade externa aos territórios, aos povos indígenas, é uma forma de valorização e reconhecimento na busca de uma sociedade mais tolerante que respeite o outro nas suas diferenças culturais”, finalizou o professor e diretor do Instituto Insikiran, Marcos Braga.

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Ananda Machado compara o desaparecimento das cultura indígenas com o fim de árvores e plantas da Floresta Amazônica.

“As coisas vão desaparecendo e às vezes sem a gente nem saber que elas existiam. Há línguas que desapareceram e que não têm nenhum registro escrito, nenhuma gravação, e isso ainda acontece na atualidade. Nós temos muito mais línguas do que linguistas estudando essas línguas. É como se fosse um etnocídio: você matar uma língua é matar uma cultura, porque você mata uma única forma de existir. Você mata quem talvez saiba o nome de árvores que talvez não existam mais, pássaros que não existam mais, que existam apenas nessa língua, ou apenas nas histórias que se contam nessa língua, ou então estejam presentes somente em danças que esse povo pratica" explica.

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“A língua é um elemento bem central para a construção de uma identidade, tanto que quando o colonizador chegou, o português foi enfiado à ferro e fogo, levaram 100 anos para enfiar o português na Amazônia” completa a professora. 

Num tom esperançoso, a coordenadora do curso de extensão conclui “a meta é que a gente consiga mudar um pouco essa direção dessa construção de monolinguismo da língua portuguesa para de fato viabilizar essa riqueza que é uma sociedade multilíngue, mais inteligente, mais aberta e com mais possibilidades de troca”. 

Edição: Lucas Weber