O governador de Minas Gerais demorou toda a quarta-feira (12) para confirmar que a posição do governo estadual é pelo adiamento ação de despejo das famílias e da Escola Eduardo Galeano no acampamento Quilombo Campo Grande, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O anúncio público foi recebido como vitória pelas 450 famílias que vivem e trabalham há 23 anos no acampamento localizado em Campos Gerais (MG).
Porém, o despejo pode recomeçar nesta quinta (13). É o que relata a coordenação do acampamento Quilombo Campo Grande. O comandante da ação teria avisado ao movimento que o despejo continua a partir das 6h, caso não receba a ordem de suspensão de forma oficial. Os policiais militares mantém suas tropas do local.
Segundo a assessoria de imprensa do governador, uma solicitação para suspender o cumprimento da reintegração foi feita na terça (11), juntamente com outras entidades, entre elas a Comissão de Direitos Humanos da OAB e o Conselho Estadual de Direitos Humanos, mas não foi aceita.
O despejo teve início na manhã desta quarta, cumprindo determinação de 2019 da Comarca de Campos Gerais. Porém, após o anúncio público do governador as tropas policiais paralisaram a reintegração.
Segundo a coordenação do acampamento Quilombo Campo Grande, o comandante da ação teria avisado ao movimento que o despejo continua a partir das 6h desta quinta, caso não receba a ordem de suspensão de forma oficial.
Tarde demais
João Pedro Stedile, da coordenação nacional do movimento, cobrou a postura de Zema. “Depois de mobilizar um batalhão inteiro, em tempos de pandemia, com seus cachorros e coquetéis judiciários, felizmente criaram juízo e suspenderam o despejo em Minas. Mais uma vez, nesta pandemia, foi a solidariedade e a humanidade quem venceu os genocidas”, publicou no Twitter.
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Em comunicado pelo Twitter, o governador Zema disse ainda que a secretaria de Desenvolvimento Pessoal se disponibiliza para dar suporte técnico aos gestores de assistência social do município.
A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) rebateu o governador: “Não tem apoio técnico que repare o que você fez com as famílias hoje. A reintegração começou no início da manhã. Está atrasado. Te procurei tem dias, assim como o deputado André Quintão e Rogério Correia e você manteve a violência praticada hoje!”.
Mobilização
O anúncio do governador aconteceu depois de um dia de intensa mobilização virtual, política e de resistência dos acampados na área.
Nas redes sociais, inúmeros parlamentares publicaram vídeos solicitando a suspensão da reintegração de posse, assim como movimentos populares e setores da Igreja Católica. A tag #salvequilombo foi uma das mais comentadas do dia no Twitter. O movimento organizou ainda uma petição online e o envio de mensagens ao site do Tribunal de Justiça de MG.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), 66 parlamentares e o presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos chegaram a solicitar uma reunião emergencial com Romeu Zema.
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Quarta-feira de resistência
Durante todo o dia, trabalhadores rurais tentaram impedir o avanço da Polícia Militar dentro do acampamento. Além da escola, um barracão coletivo onde moravam três famílias foi despejado. O MST denuncia, ainda, que o endereço do local para onde as famílias deveriam ser encaminhadas não existe.
Outras seis famílias também estavam em risco iminente. Os sem-terra avaliam que a ação é porta de entrada para o desmonte do acampamento Quilombo Campo Grande, que há vinte e três anos é local de trabalho e moradia para centenas de famílias.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Rodrigo Chagas e Rafaella Dotta