Mudar de estado, local de trabalho e função exercida em meio a pandemia: uma situação que já seria difícil em contexto normal, torna-se ainda mais conturbada. Essa é uma realidade enfrentada por milhares de trabalhadores da Petrobras que atuam em regime offshore, ou seja, embarcados em plataformas de exploração de petróleo.
A atual política de desmonte da empresa, além de incidir na soberania nacional do país, afeta diretamente os profissionais que estão tendo suas vidas totalmente modificadas da noite para o dia. De acordo com Rodrigo*, nome fictício de um trabalhador que atua há 10 anos na Petrobras, na Bacia de Campos, no Norte Fluminense, e será transferido para a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), no município de Cubatão, em São Paulo, o impacto gerado na vida familiar com a mudança é enorme.
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“Fiz concurso para o polo Macaé (RJ), vivi a minha vida inteira aqui. Moro em uma casa própria que ainda estou pagando financiamento. Mudar para Cubatão me desfaz dos elos com a minha família, só tenho como levar minha mulher e filha, vou deixar meus pais, irmãos, minha sobrinha, que é uma criança que tem sete anos e não tem pai e eu sou um dos maiores responsáveis por cuidar dela”, conta Rodrigo que tentou ser transferido para a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), para ficar mais próximo de sua família, sem sucesso.
Além de ser transferido para outro estado, Rodrigo perdeu os adicionais referentes ao trabalho embarcado e deixará de exercer a função que desempenha há 10 anos na Petrobras. “Já tinha experiência como técnico de operação de plataforma. A tendência era continuar nesse ramo, eu indo para lá [Cubatão] me torno um novato de novo. E o pior de tudo, a situação pessoal é tão ruim que eu tenho medo disso me atrapalhar profissionalmente. Me faz ter medo”, revela o profissional.
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Assim como Rodrigo, milhares de trabalhadores da Petrobras estão sendo atingidos pelo processo de privatização da gestão de Bolsonaro. Paulo*, nome alterado de um trabalhador que também prefere não se identificar, atua há 16 anos na companhia e sempre trabalhou embarcado na Bacia de Campos. Ele conta ao Brasil de Fato que foi transferido para a Refinaria Presidente Getúlio Vargas, no município de Araucária, no Paraná.
“É um impacto enorme, porque todo o meu ciclo familiar, amigos, sogros estão aqui no estado do Rio. Vou perder todo esse contato. Eu vou ter que ir sozinho, fica muito complicado minha esposa largar a carreira dela, a profissão, para me acompanhar, o impacto é terrível. Eu vivo a minha família, amo ficar com a minha esposa e filhos. Ter que deixá-los é complicadíssimo, estou arrasado porque é uma situação que eu não imaginei que passaria”, detalha Paulo.
Desmonte
Ao longo dos últimos meses a empresa acelerou o processo de privatização. No dia 24 de julho, três plataformas, a P-07, P-12 e P-15, da Bacia de Campos foram leiloadas por cerca de R$ 7,5 milhões, um valor considerado muito baixo pelo potencial de produção. De acordo com o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), as plataformas tinham a capacidade de produzir cerca de 25 mil barris diários de óleo: 15 mil na P-07; 7 mil na P-12; e 3 mil na P-15.
Levantamento do sindicato aponta que seis plataformas da Bacia de Campos serão paralisadas. No Brasil, ao todo, serão 50 plataformas. De acordo com a entidade, 3200 empregados da empresa estão sendo transferidos com redução salarial de 50% e sem indenização para refinarias espalhadas pelo país.
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Para a assistente social do Sindipetro NF, Maria das Graças, responsável pelo acompanhamento de trabalhadores que estão sendo afetados pelas transferências, a empresa falhou no cuidado com os funcionários e agiu de maneira protocolar.
“O sindicato está ouvindo junto com a empresa e tentando modificar a situação, conseguimos alguns remanejamentos, mas a maior parte não conseguimos mexer. O trabalho do serviço social tem sido de acolher aquilo que o trabalhador aponta como algo viável. Sabemos que quando cuidamos da situação com zelo, ferimos menos, e isso que temos tentado. O sentimento é de revolta, de ser menosprezado. A forma como foram comunicados foi muito pouco sensível. O atendimento da empresa foi protocolar”, explica.
A Bacia de Campos é a principal área sedimentar já explorada na costa brasileira. Ela se estende das imediações da cidade de Vitória (ES) até Arraial do Cabo, no litoral norte do Rio de Janeiro, em uma área de aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. A exploração no território começou em 1974.
Edição: Mariana Pitasse