O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, renunciou, no início da tarde desta segunda-feira (10). Desde a explosão do que se acredita terem sido 2.750 toneladas de nitrato de amônio em um armazém do porto estatal, em Beirute, no Líbano, a instabilidade política e econômica foi descortinada com as manifestações que se ampliam pelo país. Os protestos também já levaram à renúncia da então ministra da Informação do Líbano, Manal Abdel Samad, e do ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar, nesse domingo (9).
Forte explosão mata dezenas em Beirute, no Líbano; veja imagens
Ao anunciar a sua renúncia, Manal Abdel Samad afirmou que sua decisão foi uma resposta “ao desejo público de mudança” e “em respeito aos mártires” do Líbano. Segundo canais de TV do país, um incêndio começou perto do Parlamento, enquanto manifestantes tentaram invadir o espaço, sem sucesso, neste fim de semana. Conseguiram, entretanto, entrar nos prédios do Ministério do Trabalho e do Ministério para Assuntos de Refugiados. O cenário é de conflito aberto entre as forças estatais e os manifestantes, entre tiros de bala de borracha, bombas de gás lacrimogêneo, pedras e paus.
Os libaneses associam a tragédia do dia 4 de agosto à ineficiência das autoridades e à corrupção no governo de Michel Aoun, na Presidência desde outubro de 2016. Segundo a emissora de TV Al Jazeera, uma denúncia sobre o risco de armazenamento do material foi feita às autoridades libanesas, há pelo menos seis anos. Apesar dos alertas, o governo libanês não tomou nenhuma medida em relação à estocagem, cujo acidente deixou pelo menos 158 mortos e 6 mil feridos.
A explosão, nesse sentido, foi apenas a gota d’água. Os libaneses vêm se manifestando meses a fio contra o governo, o que já levou à renúncia, em outubro de 2019, do ex-primeiro-ministro Saad El-Din Rafik, que tentou a tributar ligações via WhatsApp e a utilização de redes sociais como Facebook e Instagram.
Conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) libanês deve diminuir 12% em 2020, e a inflação deve chegar a 17%. A moeda libanesa, a lira, está desvalorizada em 80%. Segundo dados do início do ano do Banco Mundial, 50% da população do Líbano ficará tecnicamente abaixo do nível da pobreza até o fim do ano. Falta também eletricidade no país, que só chega para a população por duas ou três horas por dia.
Somado a esse cenário, bem como o aumento da população pobre em decorrência da migração de refugiados sírios e falha dos sistemas de saúde e educação, mobilizações passaram a pedir a renúncia de todos os políticos e novas eleições. Nas ruas, os manifestantes usam a palavra de ordem “kulon yaeni kulon” que, em árabe, significa “todos quer dizer todos”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho