INTOLERÂNCIA

Christian Dunker: "Esquizofrenia não justifica atos de racismo"

Pai de Mateus Abreu Almeida Prado Couto, que humilhou motoboy, disse que filho seria paciente de transtorno psiquiátrico

São Paulo |
Matheus Pires sofreu ato de racismo em Valinhos; pai do agressor alega esquizofrenia - Reprodução

“Não dá pra gente justificar um ato pela presença de um transtorno como a esquizofrenia”. Essa é a avaliação do psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), a respeito da informação dita pelo pai do contabilista Mateus Abreu Almeida Prado Couto, sobre o comportamento do filho que humilhou o entregador Matheus Pires Barbosa, 19 anos, em um condomínio de luxo no interior de São Paulo.

“A esquizofrenia pode alterar a percepção do outro. Frequentemente isso acontece em uma condição conhecida como ‘delírio’. No entanto, quando a gente olha para atos agressivos que giram entorno de um transtorno, a pergunta é sempre como a pessoa está lidando com aquilo do ponto de vista da medicação, do tratamento”, explica Dunker. 

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Contradições sociais, como racismo e a desigualdade, também interferem na percepção de pessoas que sofrem com esse transtorno. “É importante lembrar que os delírios frequentemente captam algo da contradição de um determinado ambiente social onde aquela pessoa está. O antagonismo social se traduz em uma prática racista, de preconceito, e que, muitas vezes, se infiltra nesses sintomas”, afirma o psicanalista.

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Entenda o caso

Em 31 de julho, o contabilista Mateus Abreu Almeida Prado Couto foi filmado humilhando o entregador e motoboy Matheus Pires Barbosa no Condomínio Vila Boa Vista, no bairro Invernada, em Valinhos, interior de São Paulo. Na gravação é possível ver o contabilista apontar para o próprio braço - num gesto tradicionalmente racista - e dizer “você tem inveja disso aqui”. Em seguida, afirma: “Você nem deve ter onde morar”.

Na delegacia, o caso foi registrado como injúria racial. Couto se defendeu, afirmando que usou as palavras “preto, favelado e marginal”, mas que não fez ofensa em “relação à cor da pele”. Em seu depoimento, Fernando Magalhães Couto, o pai do contabilista, afirmou que o filho sofre de esquizofrenia.
 

Edição: Michele Carvalho