Depois de Jair Bolsonaro (sem partido) ser denunciado no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) por 54 casos de ataques do governo contra mulheres jornalistas, o presidente voltou atrás em uma das declarações nesta quinta-feira (30), durante transmissão ao vivo nas suas redes sociais. No vídeo, o capitão reformado pediu desculpas à jornalista Bianca Santana.
“Bacana receber um pedido de desculpas, mas não acredito que tenha sido um erro e fora, Bolsonaro”, defende a jornalista que também integra organizações sociais como a Uneafro e a Coalizão Negra por Direitos, que esta semana lançou uma campanha pelo impeachment do governo de Jair Bolsonaro.
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Em maio, ela foi acusada pelo presidente de escrever fake news, com base em um texto que não era de sua autoria. Durante a transmissão, Bolsonaro disse que “cometeu um engano” e que o texto citado não foi escrito pela jornalista, mas que o nome dela estaria no final do texto e por isso teria cometido a confusão.
O presidente Jair Bolsonaro acaba de pedir desculpas publicamente por ter me acusado, na live de 28 de maio, de ser autora de um texto que nunca escrevi. Tirou toda a live do ar. E diz que + pic.twitter.com/Og4vSZYnMf
— Bianca Santana (@biancasantana) July 31, 2020
Para a Bianca Santana o reconhecimento é importante, mas a jornalista aponta que o fato de Bolsonaro dizer que leu o nome por engano não é verdade, porque a página referida não continha o nome dela.
Ela ressalta que publicou um artigo sobre a relação entre familiares e amigos de Bolsonaro com os milicianos acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes na mesma semana que a publicação mencionada pelo presidente.
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O erro de Bolsonaro em coincidência com a publicação do texto faz com que a jornalista se questione sobre o motivo para seu nome ter sido citado. “Por que o meu nome estava na mesa do presidente da República? Eu continuo querendo saber por que meu nome estava na mesa dele, eu continuo perguntando qual o envolvimento da família Bolsonaro com o assassinato de Marielle Franco e seguiremos perguntando quem mandou matar Marielle”, pontua ela.
Outro ponto levantado por Santana é que o pedido de desculpas individual não muda o fato do presidente e seu governo serem responsáveis pelo maior número de ataques a jornalistas, segundo dados da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), e que a liberdade de imprensa precisa ser assegurado coletivamente para todos.
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“É inaceitável que quem comanda o Estado brasileiro em vez de assegurar um ambiente para a liberdade de expressão, liberdade de imprensa seja a que mais ataque diretamente os jornalistas”, denuncia ela, que reitera que seguirá com a ação judicial contra a tentativa de desacredito e humilhação de Bolsonaro com o objetivo de inibir que ele e seu governo "sigam atacando jornalistas".
Edição: Leandro Melito