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Coluna

Enfrentamos mais um genocídio

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Pobres estão sendo dizimados por uma política federal irresponsável, que não enfrenta o novo coronavírus, e está voltada, exclusivamente, aos interesses econômicos - Tiago Recchia
O governo gastou pouco mais de 23% dos R$ 253 bilhões liberados para o combate ao novo coronavírus

Esta não é a primeira vez que o Brasil enfrenta um genocídio e parece que não será a última. Segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), a população indígena que habitava essas terras, em 1500, era de três milhões de pessoas. O censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, revelou que no Brasil restaram apenas 897 mil indígenas. Isso significa dizer que mais de dois milhões de índios morreram de forma sistemática, sem que essa população conseguisse se multiplicar. As mortes e violações de direitos contra esses povos têm crescido, assustadoramente, no governo de Jair Bolsonaro (sem partido). É uma matança constante e covarde, em busca de terra, minério e madeira, como foi durante a invasão dos portugueses e espanhóis e que permanece ao longo de 519 anos de exploração.

Outro genocídio comprovado foi contra as pessoas com sofrimento mental. A jornalista, Daniela Arbex, denunciou em seu livro “Holocausto Brasileiro”, lançado em 2013, a morte de mais de 60 mil internos mantidos em condições subumanas, no maior hospício do Brasil, o Hospital Colônia em Barbacena, interior do Minas Gerais. Durante décadas, desde o início do século passado, pacientes com algum tipo de sofrimento mental, de todos os municípios do Brasil, eram submetidos aos mais aterrorizantes tratamentos. “Milhares eram jogados em pátios, nus, em meio ao frio congelante das montanhas mineiras e por ali ficavam, por todo o dia, todos os dias”, revela parte da obra, que virou filme, com mesmo título do livro.

Agora, as populações mais pobres formadas, em quase sua totalidade, por pretos e favelados, sem acesso aos serviços de saúde e vítimas constantes da violência urbana – outro genocídio - estão sendo dizimadas por uma política federal irresponsável voltada, exclusivamente, aos interesses econômicos e financeiros. Essa mesma política é liderada por um presidente com perfil fascista e que desdenha de um vírus letal, responsável por quase 100 mil mortes e próximo de três milhões de infectados, até agora. Dados divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional revelam que o governo gastou pouco mais de 23% dos R$ 253 bilhões liberados para o combate ao novo coronavírus. Isso mostra a total falta de interesse da pessoa que ocupa o cargo de presidente, em relação ao seu povo e ao seu País. 

É imperioso a instalação de uma investigação sobre a forma e metodologia que Bolsonaro vem tratando a pandemia, como por exemplo, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o uso inconsequente da cloroquina, tão defendido por Bolsonaro. A CPI é de autoria do deputado federal Rogério Correia (PT-MG) e foi protocolada nesta quarta-feira (29).  De acordo com o parlamentar, a CPI tem questões-chave sobre o remédio: a determinação aos laboratórios para a produção da cloroquina, qual o volume de comprimidos produzidos, os parâmetros científicos utilizados, valor de recursos empenhados, distribuição, entre outras. Já foram produzidos mais de três milhões de comprimidos pelos Exército Brasileiro, sem nenhuma comprovação científica no combate à Covid-19.

Alguns especialistas em questões sanitárias apontam que, se a atitude do governo federal não mudar frente à pandemia, até o final deste ano, podemos alcançar a triste marca de 200 mil mortes.  É um cenário catastrófico que se desenha em pleno ano de eleições municipais, onde a flexibilização do comércio, feiras livres, shoppings, praias, bares, restaurantes e academias só vai permitir a propagação do vírus. Pessoas voltaram a superlotar os transportes públicos, em uma verdadeira sinuca de bico: “se ficar em casa, o patrão me despede. Se for para o trabalho o vírus me mata”. Enquanto isso, pobres concorrem, em filas quilométricas, para receber míseros R$ 600,00. Se dependesse de Bolsonoro e Paulo Guedes, o famigerado ministro da Economia, esse valor seria de R$ 200,00. O Brasil está agonizando e a morte vem a galope.

Edição: Maria Franco