Não é para amanhã, não é para semana que vem, não é para mês que vem.
Na mesma semana em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou três dias de números recordes nas infecções pela covid-19, a notícia de que duas vacinas contra o coronavírus vêm mostrando resultados promissores foi manchete globalmente. Na segunda-feira (20), foi anunciado que as substâncias desenvolvidas na universidade britânica de Oxford e na empresa chinesa CanSinoBIO apresentaram resposta imune ao vírus e bons índices de segurança.
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No entanto, para que a imunização chegue à população ainda são necessários novos testes e aprovação final, o que deve acontecer somente no ano que vem.
No podcast A covid-19 na semana, o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, explica que após as etapas de desenvolvimento teórico e testes in vitro, o caminho para aprovação ainda passa por testes rígidos em humanos, para observar tanto a segurança quanto a efetividade. Mas o fim do chamado estágio clínico não significa comercialização e imunização em massa. Ainda é preciso garantir a produção.
“A gente vai acordar um dia e vai ter a notícia. Aí a gente vai iniciar uma outra etapa, que é a de produção de medicamento. Hoje a gente não tem laboratórios públicos e mesmo privados para fazer uma produção rápida para toda a nossa população. Eu gosto de falar sobre isso, pra relembrar o quanto é importante a gente ter estruturas de laboratórios e de indústria pública, própria do nosso país. Para gente dar conta da saúde da nossa população e não ficar dependendo de comprar das indústrias estrangeiras.”
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Até que a vacina chegue ao público, são grandes as chances de que medidas como o distanciamento social, a testagem em massa e a rigidez na higiene continuem sendo necessárias, em menor ou maior escala, a depender da situação do cada país. O Brasil, que teve os primeiros registros oficiais do novo coronavírus em fevereiro, pode ser um dos que mais vão demorar para conseguir sair do patamar em que essas ações são extremamente necessárias.
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Com mais de 230 milhões de casos e quase 60 mil mortes, o país não tem conseguido diminuir a curva de contágio. Há mais de um mês, os registros de mortes semanais estão acima de sete mil. Os dados consolidados desta semana ainda não foram apresentados. Mas vale ressaltar que na quarta-feira (22), foram registrados 67.860 novos casos, número recorde.
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Em junho, os dados brasileiros em 24 horas chegaram a ser os mais expressivos do mundo algumas vezes. Agora, o único país do mundo que apresentou cenários mais críticos no período de um dia foi os Estados Unidos, que na quinta-feira (17) registrou mais de 77 mil casos.
Junto com os indianos, brasileiros e estadunidenses representam quase metade de todos infectados registrados globalmente e puxam os dados alarmantes registrados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Na quarta (22) e na quinta-feira (23), foram mais de 247 mil novas infecções. Na sexta-feira (24,), os registros chegaram a 284.196. No total, mais de 15,2 milhões de pessoas já pegaram a doença em todo o planeta. Os casos fatais somam quase 626 mil.
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Com o crescimento acelerado da doença, as perspectivas para a vacina são grandes. A OMS já sinaliza ações para agilizar o processo. Na sexta-feira (24) a cientista-chefe da instituição, Soumya Swaminathan, afirmou que as substâncias podem ser aprovadas mais rapidamente que o normal, se houver resultados que comprovem a imunização. O que demoraria anos, pode ser finalizado em seis meses. A pesquisadora, no entanto, foi taxativa: esse cenário só será possível com garantias de segurança para a população.
Segundo ela a primeira vacina não será “apressadamente injetada em milhões de pessoas sem estabelecer se realmente protege e se é suficientemente segura para uso em larga escala na população."
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Assim como quase toda comunidade científica do mundo, Aristóteles Cardona, vê com otimismo os avanços para que se chegue a uma vacina contra o novo coronavírus. Segundo o médico, mesmo que o tempo da ciência seja mais demorado do que as expectativas globais para uma solução, nunca se viu tanta velocidade no desenvolvimento em um processo de imunização.
“De tanta notícia que surge sobre supostos tratamentos e cura para a covid-19, as vacinas são o que podem nos ajudar de uma forma mais concreta no futuro. Não tem hidroxicloroquina, não tem ivermectina. Nada disso funciona. Realmente as vacinas são uma das coisas boas que estão avançando. Nunca vimos as pesquisas para uma vacina avançarem de uma maneira tão rápida. Mas não é para amanhã, não é para semana que vem, não é para mês que vem. Existe todo um protocolo que dura meses. A gente tem exemplos na nossa história de etapas que foram puladas e a gente viu consequência sérias. Mas a gente acompanha muito animado, porque acho que vêm daí as coisas boas para o futuro.”
Edição: Lucas Weber