"Desmatar sempre foi matar. Não se constrói um país com o agronegócio."
A pauta ambiental nunca foi prioritária no governo Bolsonaro, tendo no comando do Ministério do Meio Ambiente alguém que potencializa o desmatamento e é acusado de adulterar mapas do Plano de Manejo da Várzea do Rio Tietê em 2016, Ricardo Salles é apenas uma peça de um grande sistema que lucra com o desmonte ambiental.
Com fortes críticas ao sistema capitalista destrutivo, como fala o geógrafo Carlos Walter, o fortalecimento do agronegócio no Brasil é uma regressão ao passado e a reforma agrária é uma questão central para repensar formas de regenerar o meio ambiente.
“A agricultura virou um negócio. O capitalismo se constitui separando o homem da terra. Temos que descolonizar nosso pensamento e construir uma visão mais ampla que agregue conhecimentos dos povos que vivem da terra”, afirma ele.
Esta semana, Carlos Walter participa do programa BDF Entrevista. Ele analisa as estratégias de governo do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e contextualiza a questão ambiental sob uma perspectiva exploratório e opressora dos países imperialistas.
Confira um resumo da entrevista:
Brasil de Fato: Quando Ricardo Salles falou que “passaria a boiada”sobre o que ele estava se referindo?
Carlos Walter: É o desmonte de todo um regramento ambiental. Mas sempre falo, esses órgãos ambientais há tempos vêm sendo desmontados, é importante não confundir. O Bolsonaro é apenas um “bode na sala”, todo o mundo quer tirar o bode da sala, mas ninguém quer mexer na sala. Este processo já estava em curso e o Salles fala que passará a boiada porque não quer nenhum limite ou obstáculo para a sua política.
BDF: De que forma o agronegócio potencializa o desmatamento dos nossos biomas, principalmente na Amazônia?
CW:: A natureza ficou à serviço do processo de acumulação do capitalismo. O fortalecimento do agronegócio é uma regressão ao passado, é uma das coisas mais antigas do Brasil. Este modelo de negócio que transformou a agricultura é sustentado por desigualdade social e trabalho escravo. Não se constrói um país com o agronegócio, a reforma agrária é uma pauta central para este debate ambiental.
BdF: Qual a importância de reservas ambientais, territórios indígenas e quilombolas na preservação do meio ambiente?
CW: Temos que descolonizar o pensamento sobre o meio ambiente e acabar com a visão imperialista de domínio territorial. Esses povos, ribeirinhos, indígenas e quilombolas, possuem um profundo conhecimento sobre a terra. A agroecologia dialoga com estes saberes e constrói uma nova consciência ambiental.
Edição: Rodrigo Durão Coelho