Estudo

Retorno às aulas coloca em risco a vida de 9,3 milhões de pessoas, aponta Fiocruz

Retomada pode causar a morte de até 35 mil idosos e adultos com problemas crônicos de saúde e que moram com estudantes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Volta às aulas traz riscos não só para comunidade escolar. - Marcelo Camargo /Agência Brasil

De acordo com cálculos feitos a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a possibilidade de retorno das atividades escolares em meio à crise do coronavírus representa risco para 9,3 milhões de brasileiros. O número corresponde 4,4% da população total do país. A análise da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é baseada na quantidade de adultos e idosos com doenças crônicas e que vivem junto a crianças e adolescentes em idade escolar. São pessoas que fazem parte dos grupos mais suscetíveis à covid-19 e que estarão ainda mais expostas à doença. 

Continua após publicidade

Volta às aulas pode aumentar mortalidade de crianças por covid-19, diz especialista

Segundo as conclusões da Fiocruz, o cenário mais preocupante está no estado de São Paulo, que tem maior número absoluto de cidadãos em risco. São mais de 2 milhões de adultos e idosos que sofrem de condições crônicas e dividem o espaço com pessoas em idade escolar. Na sequência estão Minas Gerais, com 1 milhão de brasileiros nessa situação, Rio de Janeiro, onde o grupo chega a 600 mil pessoas e Bahia, com 570 mil. Proporcionalmente, o Rio Grande do Norte é o que possui a maior percentagem da população mais suscetível: o índice chega a 6,1% do total.

Leia também: Saúde, falta de estrutura e desigualdade: os riscos da volta às aulas na pandemia

Os pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde a Ficoruz analisaram duas situações: os adultos com idade entre 18 e 59 anos que têm diabetes, doença do coração ou doença do pulmão, e os idosos, com 60 anos ou mais. Quase 3,9 milhões de pessoas do primeiro grupo vivem domicílios com pelo menos uma pessoa em idade escolar. Entre os idosos o risco é ainda mais preocupante: 5,4 milhões deles convivem com estudantes dentro de casa.

Ouça: Volta às aulas presenciais? Programa Bem Viver traz discussão do que pode acontecer

A volta às aulas pode representar uma perigosa brecha nesse isolamento.

Mesmo que continuem isolados, o retorno às aulas coloca esses grupos em contato direto com potenciais situações de contágio cotidianamente no próprio ambiente doméstico. O alerta aumenta a partir da análise da vida social dos estudantes. Ainda que creches, escolas, faculdades e universidades implementem medidas rígidas, não há como garantir o controle nas ruas, no transporte público e na convivência diária com outras pessoas. 

Segundo o epidemiologista, Diego Xavier, que participou do estudo, uma parte considerável dos brasileiros em grupos de risco vinha conseguindo manter o distanciamento. “Mas a volta às aulas pode representar uma perigosa brecha nesse isolamento."

Leia também: Vítimas da flexibilização: relatos de quem contraiu covid na volta ao trabalho em SP

Os pesquisador traz dados assustadores. "Nós estimamos, no estudo, que se apenas 10% dessa população de adultos com fatores de risco e idosos que vivem com crianças em idade escolar vierem a precisar de cuidados intensivos, isso representará cerca de 900 mil pessoas na fila das UTIs. Além disso, se aplicarmos a taxa de letalidade brasileira nesse cenário, estaremos falando de algo como 35 mil novos óbitos, somente entre esses grupos de risco”.

Em nota técnica a Fiocruz avalia que “a discussão sobre a retomada do ano letivo no país não segue um momento em que é clara a diminuição dos casos e óbitos e ainda apresenta um agravante, que é a desmobilização de recursos de saúde e o desmonte de alguns hospitais de campanha”. 

Desconsiderando realidade de estudantes, MEC autoriza aulas online no ensino superior

A análise foi feita com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013), realizada pelo IBGE em parceria com o Laboratório de Informação em Saúde (LIS) da Fiocruz. Os dados sobre a população de risco podem ser consultados no sistema MonitoraCovid-19.
 

Edição: Rodrigo Chagas