Na última semana, a Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, anunciou que vai dar início às obras para a construção de uma creche em local que é considerado lugar sagrado para o candomblé na região: o terreiro Joãozinho da Gomeia. A medida tem gerado protestos de diversas entidades e movimentos sociais.
A decisão da prefeitura contraria o processo de tombamento do terreno movido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), que está em fase de finalização. De acordo com arqueólogos da instituição, apesar de o terreno estar abandonado, coberto de lama e sujeira, embaixo da terra se esconde um patrimônio histórico e religioso que precisa ser preservado. Ainda segundo o Inepac, o único documento pendente do processo é o estudo arquitetônico, que está paralisado por causa da pandemia.
No último domingo (18), um protesto foi realizado no terreno, localizado no bairro Vila Leopoldina, por movimentos sociais e representantes religiosos do candomblé, da umbanda e das igrejas católica e evangélica. Segundo a organização do protesto, ao longo da gestão do prefeito Washington Reis (MDB) foram prometidas diversas creches, mas somente agora foi decidida a construção de uma, exatamente no terreno de Joãozinho da Gomeia.
“É impossível dissociar tal medida de uma clara manifestação de racismo religioso, pelo fato de o poder executivo local estar atrelado ao bolsonarismo, um governo que persegue as religiões de matriz africana. Por isso, em nome da democracia e da liberdade de expressão e da liberdade religiosa é que convocamos todos para essa importante manifestação de apoio”, disseram em nota.
História
O baiano João Alves Torres Filho foi um dos pioneiros do candomblé na região Sudeste do país e um dos mais importantes pais de santo do país nos anos 1950 e 1960. Segundo relatos, o chamado Tata Londirá, teria recebido em Duque de Caxias a visita dos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.
Joãozinho da Gomeia foi homenageado pela Escola de Samba Grande Rio no enredo do carnaval de 2020. A escola levou para a Marquês de Sapucaí um debate sobre tolerância religiosa. Joãozinho morreu em 1971 e um conflito por sua herança espiritual encerrou as atividades no terreno, que hoje está abandonado.
Edição: Mariana Pitasse