RACHADINHA

Queiroz depositou dinheiro na conta de esposa de Flávio Bolsonaro, aponta MP

Depósito do ex-assessor do senador ajudou o casal a quitar a 1ª parcela de uma cobertura na zona sul do Rio

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Primeiro depósito do policial aposentado na conta de Fernanda Bolsonaro aconteceu em outubro de 2011 - Reprodução

Quebra de sigilo bancário obtido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), indica que Fabrício Queiroz, policial militar aposentado e ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), depositou R$ 25 mil em dinheiro na conta de Fernanda Bolsonaro, esposa do senador.

O depósito ocorreu uma semana antes do casal quitar a primeira parcela na compra de uma cobertura em construção na zona sul do Rio de Janeiro. As informações são da Folha de S. Paulo.

De acordo com os dados obtidos pelo MP-RJ, o depósito e outras movimentações financeiras na conta da dentista foram de fato utilizadas para cobrir a entrada do imóvel. Há também um crédito em espécie de R$ 12 mil realizado por uma pessoa cuja identidade é mantida sob sigilo pelo órgão. 

:: Entenda o caso Queiroz e as denúncias dos crimes que envolvem a família Bolsonaro :: 

Tanto Queiroz, amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quanto sua esposa, Márcia Aguiar, são investigados pela participação em um esquema de desvio de vencimentos de servidores do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), conhecido como "rachadinha”. O casal está em prisão domiciliar preventiva.

A investigação do Ministério Público aponta que Queiroz seria o operador financeiro de um esquema criminoso comandado por Flávio Bolsonaro na Alerj. A suspeita é de que o policial recolhia parte do salário de alguns assessores para repassá-los ao filho do presidente.

Entenda os detalhes

O primeiro depósito realizado por Queiroz na conta de Fernanda Bolsonaro foi realizado no dia 15 de agosto de 2011, poucos dias antes do pagamento de R$ 110,5 mil pela entrada do apartamento. 

Ainda segundo a investigação da Promotoria, dois dias depois, a conta da dentista recebeu R$ 74,7 mil de resgate de aplicações em fundos. O outro depósito em espécie, cujo nome do responsável não foi revelado, aconteceu no dia 19 do mesmo mês. 

:: HC pede que precedente para prisão domiciliar de Queiroz se estenda a outros presos ::

Toda a movimentação gerou um crédito adicional de R$ 111,7 mil na conta da dentista. Conforme reportagem da Folha de S. Paulo, os gastos com a cobertura começaram no dia 19, quando Fernanda recebeu o último depósito.

O primeiro pagamento foi de R$ 1.610 ao 15º Ofício de Notas, cartório no qual a compra da cobertura na planta foi registrada. Dois dias depois, em 22 de agosto, um cheque de R$ 73.140 compensado. 

Apesar da quebra de sigilo do MP-RJ não identificar o nome da empresa beneficiada, a compensação aconteceu na mesma data e valor de pagamento do casal à construtora responsável pelo condomínio Cenário Laranjeiras.

No dia 23, apenas 24h depois, outro cheque de R$ 35.770 foi compensado em favor da imobiliária Patrimóvel, responsável pela venda das unidades do condomínio em questão. 

Histórico

A relação entre Queiroz e Flávio Bolsonaro são alvo de outras investigações. A partir do acesso a imagens de uma agência bancária na Alesp, o MP-RJ investiga o pagamento da mensalidade escolar das filhas do senador pelo policial militar aposentado em outubro de 2018. 

A suspeita é de que Queiroz teria feito o pagamento 53 boletos da escola de 2014 a 2018 , com dinheiro na boca do caixa, totalizando R$ 153,2 mil.

O mesmo processo ocorreu com a mensalidade do plano de saúde da família do senador. Foram 63 boletos pagos em dinheiro apenas de 2013 a 2014, somando R$ 108,4 mil.

Segundo os investigadores, os recursos em espécie usados nas operações de Flávio Bolsonaro são frutos do esquema da “rachadinha”. O uso das notas em espécie é uma forma de dificultar o rastreio do caminho do dinheiro ilegal.

Flávio Bolsonaro também é investigado por indícios de lavagem de dinheiro no valor de R$ 2,3 milhões por meio da compra de dois outros imóveis com sua esposa e de uma loja de chocolates.
 


Linha do tempo sobre o caso Queiroz / Brasil de Fato

Edição: Leandro Melito