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Está aberta a torneira para a ganância sobre o direito fundamental à água

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Bolsonaro vetou uma das questões que havia sido negociada com os governos estaduais, sobretudo àqueles que têm companhias públicas estaduais que operam o serviço de saneamento - USDA / Fotos Públicas
Se já estava entreaberta a torneira para a ganância, agora abriram por definitivo. 

A caneta de Bolsonaro chancelou àquela que vai ser, certamente, uma das mais graves privatizações de um direito humano fundamental, que é o acesso à água e ao saneamento. 

Na chancela de Bolsonaro, a lei - que já era uma porteira aberta para quem quer lucrar com um direito tão importante à vida e à saúde das pessoas - se transformou em uma torneira aberta para a ganância das empresas que não estão interessadas em atender a população, mas que estão interessadas em transformar a água em uma mercadoria. 

Se o novo marco regulatório já abria a possibilidade para que o setor privado - que há anos podia investir no saneamento e não tinha interesse nas existentes condições de lucro - com a caneta final de Bolsonaro a torneira está aberta.

Isso porque Bolsonaro vetou uma das questões que havia sido negociada com os governos estaduais, sobretudo aqueles que têm companhias públicas estaduais que operam o serviço de saneamento nas diversas cidades, principalmente nas regiões mais remotas. A lei aprovada no Congresso estabelecia que essas companhias estaduais poderiam renovar os seus contratos por até 30 anos, estabelecendo um conjunto de metas de ações. 

São contratos importantes que fazem o chamado subsídio cruzado. Ou seja, a mesma companhia estadual opera em regiões onde as pessoas têm poder de compra para pagar sobre água e tratamento de esgoto e essa receita era utilizada para ampliar o investimento em áreas mais remotas. 

O que é muito grave é que a caneta de Bolsonaro vetou, entre outros artigos, exatamente este. Ou seja, nem essa salvaguarda das companhias estaduais que operam hoje e que poderiam renovar seus contratos por 30 anos, ficou no marco regulatório final de Bolsonaro. Agora todas terão que participar de processos licitatórios. 

O grande drama: processos licitatórios não vão permitir este chamado subsídio cruzado, porque a competência do saneamento é municipal. Ou seja, operar em regiões que tenham maior retorno dos investimentos feitos pela companhia - exatamente para que a companhia possa investir em regiões mais remotas e sem retorno - fazendo assim, o subsídio cruzado, vai ficar ainda mais difícil.

Se já estava aberta a torneira para a ganância daqueles que querem lucrar com o direito à água e ao saneamento, agora abriram a torneira por definitivo. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho