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Pelo terceiro ano seguido, número de greves cai no Brasil

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O protagonismo dos sindicatos da Educação, fato observado anteriormente, mas com destaque para um ramo que combateu o governo Bolsonaro - Giorgia Prates
A luta sindical e por melhores condições de vida é um passo importante

Em anos recentes, um dos principais indicadores para analisar a disposição da classe trabalhadora brasileira à mobilização e às lutas econômicas é o estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com o balanço do número anual de greves.

A sistematização anual traz um comparativo entre os setores privados, os trabalhadores do serviço público e funcionários de empresas estatais, apresentando o caráter das reivindicações, pautas atendidas, entre outros dados.

Com o levantamento das unidades de negociação, embora seja um indicador limitado aos trabalhadores formalizados e com representação sindical, porém é dado um significativo da disposição à luta da classe trabalhadora em determinado momento da conjuntura. Certamente, não se trata da forma de luta mais avançada, mas é aquela com capacidade de massificação e com grande aprendizado para a classe trabalhadora.

A luta sindical e por melhores condições é um passo importante e uma escola no processo de tomada de consciência.

Por outro lado, o estudo do Dieese também é significativo para mostrar o quanto patrões estão dispostos, ou não, a ceder e atender a pauta dos trabalhadores em determinada conjuntura econômica. Em 2019, apenas 57% das greves tiveram suas pautas atendidas.

Entre 2003 e 2012, por exemplo, o número de greves e resultados positivos aos trabalhadores foi crescente. Isso ocorreu durante os dois governos de Lula e o primeiro de Dilma, tempos de crescimento econômico, composição de frente política neodesenvolvimentista que, durante esse período, contemplou as massas trabalhadoras e, principalmente, os grandes grupos empresariais. Neste sentido, as negociações salariais acumulavam ganhos reais e itens econômicos.

Com a oferta disponível de emprego, os trabalhadores sentiam-se em melhor momento para lançar-se às lutas grevistas, inclusive na iniciativa privada, marcada por relações de contrato mais frágeis e passíveis de demissões.

Agora, este estudo mais recente, sobre o ano de 2019 confirma um declínio do número de greves desde 2016, ano em que foi o auge histórico deste tipo de mobilização desde a década de 80. Em 2018, o número total de greves no país alcançou 1453 ações e, no ano passado, o movimento dos trabalhadores alcançou 1118 lutas.

Assim mesmo, como o próprio estudo do Dieese ressalta, cabe a avaliação de que em um dos ambientes mais instáveis da História do país, mais de 1000 greves aconteceram e 12 mil horas paradas.

No entanto, não podemos rechaçar o fato de que o número decrescente de mobilizações se dá em um contexto de derrota estratégica dos trabalhadores. Nos anos recentes, os ataques se somaram e alcançaram a estrutura sindical, a fragmentação da base social (com a aprovação das terceirizações, da reforma trabalhista e da previdência) e a chegada ao poder de governo neofascista com um programa de privatizações, desmonte da indústria nacional, cerco e aniquilamento da esquerda e seus espaços de acúmulo (organização sindical, cultura e pesquisa nas Universidades).

Entre alguns dados que chamam a atenção para o atual momento da luta de classes no Brasil, podemos pensar:

1) No serviço público, o protagonismo dos sindicatos da Educação, fato observado anteriormente, mas com destaque para um ramo que combateu o governo Bolsonaro e o completo caos e ausência de orçamento na Educação; verifica-se também o movimento de retirada de direitos por parte dos governos estaduais, uma vez que 26% das greves do funcionalismo nos estados (47 greves) foram contra o atraso nos salários.

2) Recentemente, o serviço público voltou a superar a iniciativa privada em ações de paralisação. Em 2018, foram 791 greves de servidores públicos e apenas 655 dos trabalhadores celetistas. Mas em 2019 houve proximidade maior entre as duas esferas.

3) Apenas 4% das greves durou mais de 10 dias, mostrando o caráter efêmero do processo e a falta de musculatura neste momento do movimento sindical.

4) Por último, estes dados recolhidos em 2019 podem também indicar, ao serem analisados nos dias de hoje, um final de ciclo, dos governos progressistas e em meio a um momento favorável, passando por quatro anos de desmonte e congelamento dos gastos, e agora entrando nas consequências duradouras da pandemia.

O apontamento atual é de possível queda de 5 a 10% na economia e aumento brutal do desemprego, que já alcançava mais de 12 milhões de pessoas em 2019. Por isso, em um cenário instável, com a queda das condições de vida das massas populares, o caráter e o formato das lutas futuras ainda é imprevisível, mas já apontam sinais de entrada de ramos informais e serviços ligados às novas tecnologias.

 

Edição: Lucas Botelho