Rio de Janeiro

Segurança pública

Rio de Janeiro é o estado com mais vítimas em ações policiais, aponta relatório

Ao todo, foram 2.772 ações e 981 vítimas entre junho de 2019 e maio de 2020 segundo a Rede de Observatórios da Segurança

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Bruna Silva, mãe de Marcos Vinícius, 14, morto numa ação policial na favela da Maré no Rio em 2018 - Marcos Pimentel/ AFP

A Rede de Observatórios da Segurança divulgou nesta terça-feira (14) o relatório “Racismo, motor da violência”. A pesquisa é baseada em um ano de monitoramento em cinco estados brasileiros, Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo, de 12.500 eventos relacionados à segurança pública e à violência.

De acordo com a publicação, o estado do Rio de Janeiro teve o maior número de ações policiais. Ao todo, foram 2.772 ações no período analisado, depois veio São Paulo, com 2.210 operações; Bahia com 1.105; Ceará, com 707 e Pernambuco, com 358 ações policiais. O Rio também figura como o estado com o maior número de vítimas: 981 pessoas. O total inclui 483 mortos, sendo 19 crianças e 479 feridos.

 


Estado do Rio de Janeiro teve o maior número de ações policiais com vítimas, segundo a pesquisa / Divulgação

Segundo o estudo, o Brasil, em números absolutos, é o país com mais homicídios no mundo. Depois de um curto período de redução, os assassinatos voltaram a aumentar em 2020. A grande maioria dessas mortes aconteceu em espaços públicos, como praças e ruas e os crimes foram cometidos com armas de fogo, em dinâmicas de conflitos interpessoais, latrocínios, feminicídios e chacinas. 

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O Rio de Janeiro é o estado que registra mais casos de mortes múltiplas. Em um ano de monitoramento da Rede, foram registradas 101 chacinas. Só no estado do Rio foram identificados 51 casos de três ou mais pessoas mortas na mesma ocasião. O estado é seguido pela Bahia, onde foram identificados 24 casos; São Paulo, com 12; Ceará, com 10 e Pernambuco com quatro casos.

Para Bruna Sotero, pesquisadora e articuladora nacional da Rede de Observatórios da Segurança no Rio, a política adotada pelo governo do estado contribui para o aumento da letalidade nos territórios.

“Aqui no Rio de Janeiro há um grande número de favelas, a maior parte dominada por grupos armados o que faz disparar o número de confrontos. A política de enfrentamento ao tráfico varejista adotada pelo Estado faz com que esses números sejam ainda maiores. Esse é um dos fatores que contribuí para o alto número de ações policiais em nosso estado”, destaca.

Debate público

Os dados da publicação foram reunidos através do acompanhamento diário de jornais, sites, portais noticiosos, perfis de redes sociais e grupos de WhatsApp pelos pesquisadores da Rede. O relatório demonstra a ausência de registros sobre racismo e injúria racial, apenas 50 ocorrências, em contraste com a abundância de notícias sobre ações policiais, mais de sete mil casos.

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O documento também aponta como a predominância de negros e negras entre as vítimas de violência está ausente do debate público. Segundo o estudo, pretos e pardos são a grande maioria dos mortos pela polícia, mas em 7.062 notícias sobre ações policiais analisadas houve apenas uma menção à palavra negro e equivalentes.

A Rede de Observatórios da Segurança é a única iniciativa que monitora operações policiais. O acompanhamento no Rio é feito desde 2018 e nos outros estados que formam a Rede desde de junho de 2019. Na avaliação de Sotero, o relatório traz indicadores raciais importantes que podem ser usados para a reformulação da política de segurança pública.

“Em primeiro lugar, produzir dados com informações sobre cor e raça é imprescindível, além de monitorar esses dados reconhecendo que existe viés racial na ação policial. Outro ponto importante é questionar se a política de guerra às drogas não é na verdade uma guerra às favelas e aos jovens negros. Assim, polícias precisam fazer ações de prevenção e inteligência e não exclusivamente ações repressivas na periferias, como é hoje”, afirma.

A publicação traz dados sobre policiamento, feminicídio e violência contra a mulher, violência letal e sistema penitenciário e socioeducativo, além de análises assinadas pelos pesquisadores e coordenadores dos Observatórios da Segurança. A publicação estará disponível para download no site da Rede. Uma live para divulgar o levantamento acontece nesta terça-feira (14), às 18h, no canal do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) no YouTube.
 

Edição: Jaqueline Deister