Durante a pandemia

Ricos de vários países pedem taxação das próprias fortunas; nenhum deles é brasileiro

"Aumentem impostos sobre pessoas como nós. Imediatamente", pedem milionários que querem assumir ônus da crise sanitária

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Empresários brasileiros como Roberto Justus, Junior Durski da rede Madero e Luciano Hang das Lojas Havan defenderam que a pandemia não deveria ser alvo de preocupação - Reprodução

Oitenta milionários de sete países lançaram o projeto “Millionaries for Humanity”, em que pedem que os governos taxem suas fortunas para garantir que os mais pobres não paguem pelos prejuízos provocados pela pandemia do coronavírus nas áreas da saúde e educação. Nenhum dos ricos que assinou o documento é brasileiro.

“Hoje, nós, milionários que assinamos esta carta, pedimos aos nossos governos que aumentem impostos sobre pessoas como nós. Imediatamente. Substancialmente. Permanentemente”, afirma o texto.

O documento foi apresentado durante sessão no Parlamento inglês. Parlamentares querem que o governo local crie um imposto para que os milionários paguem pela crise gerada pelo coronavírus.

No texto, os ricos justificam a medida. “Ao contrário de dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo, não precisamos nos preocupar em perder nossos empregos, casas ou nossa capacidade de sustentar nossas famílias. Então por favor. Taxe-nos. É a escolha certa. É a única escolha.”

Entre os signatários do documento estão Abigail e Tim Disney, herdeiros da Disney, Bob Burnett, fundador da Cisco Systems, a cineasta Amy Ziering, Jerry Greenfield, dono da marca de sorvetes Ben and Jerry’s.

Na contramão

No Brasil, os milionários encamparam, desde o início da pandemia, em março deste ano, uma campanha contra o isolamento social em nome da economia. Junior Durski, dono da rede Madero, empurrou a conta para os trabalhadores e demitiu, ainda em abril, 600 funcionários.

Antes, o empresário havia criticado a proposta de quarentena para conter a curva de contaminação do coronavírus e lamentou que o país pare por “5 mil ou 7 mil pessoas que vão morrer”.

Leia mais.: No dia em que o Madero demitiu 600 trabalhadores, MST doou 12 toneladas de arroz

“O Brasil não pode parar dessa maneira. O Brasil não aguenta. Tem que ter trabalho. As pessoas têm que produzir, têm que trabalhar. O Brasil não tem essa condição de ficar parado assim, as consequências que nós vamos ter economicamente, no futuro, serão muito maiores do que as pessoas que vão morrer agora com coronavírus", afirmou o empresário.

Assim como Durski, empresários brasileiros como Luciano Hang das Lojas Havan, Roberto Justus e Marcelo de Carvalho, da Rede TV, defenderam publicamente que a pandemia não deveria ser alvo de grande preocupação: pessoas com boa imunidade não seriam afetadas, as mortes no Brasil seriam menores que na Itália, e que por isso, as pessoas deveriam “continuar trabalhando”.

Segundo a última atualização desta segunda-feira (13), o Brasil regista 72,9 mil óbitos provocados pela doença.

Leia mais.: Por lucro durante a pandemia, milionários brasileiros desprezam mortos, ciência e dados

Outro milionário brasileiro que criticou o isolamento, em abril, e suspendeu o contrato de 11 mil funcionários foi Luciano Hang, dono da Havan. “Dizem que o pico talvez da nossa doença seja no mês de maio. Nós estamos no mês de março. Você já imaginou se o Brasil começar a parar agora, no mês de março, abril, maio e vamos dizer que continue, junho. Vai ser a tragédia do século. Nós podemos causar nesse país um caos econômico muito maior a epidemia de coronavírus.”

 

Edição: Leandro Melito