A identidade alimentar é a última a ser modificada em meio a adaptação a uma outra cultura
Desde que os colonizadores chegaram no Brasil as tribos indígenas vivem perdas territoriais significativas, estreitamento cultural e dizimação de sua população. Apesar disso, lideranças de diversas etnias seguem lutando apoiados pelo vasto conhecimento tradicional e moderno, para reconquistar seus direitos como cidadãos.
No início deste mês foram vetadas medidas importantes de proteção social contra a covid-19 e de desenvolvimento agrário e econômico da população indígena. Acesso universal à água potável, distribuição gratuita de kits de higiene e desinfecção, compra de respiradores e máquinas de oxigenação e programa específico de créditos para indígenas e quilombolas, foram algumas das medidas vetadas com a justificativa de criarem despesas obrigatórias ao Poder Público.
É dever do Estado cuidar e zelar pela saúde e desenvolvimento da população em geral. Todavia é um dever pouco colocado em prática, principalmente quando se trata de comunidades tradicionais, incluindo além dos indígenas, os quilombolas, caiçaras, comunidades rurais e periféricas.
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Esses vetos saíram poucos dias após a instituição do Programa Floresta+, do Ministério do Meio Ambiente, que incentiva o mercado privado, nacional e internacional, a adotar parques naturais e regiões de vegetação nativa, gerando financiamento aos grupos à frente da conservação e proteção local, em todos os biomas brasileiros. E então, vem a pergunta: quem mais, além dos indígenas e outras comunidades tradicionais, luta há tanto tempo pela preservação do meio ambiente?
A preservação ambiental sempre foi de interesse dos povos que nela vivem, uma vez que sua identidade, desenvolvimento tecnológico e sustento sempre esteve intimamente atrelado ao ambiente natural.
Portanto, a população indígena deve ser reconhecida, inclusive financeiramente, por sua importantes funções. No entanto, parece que a colonização não acabou e a história continua se repetindo.
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A população indígena é a raiz central da construção do brasileiro e essa raiz é composta de muitas etnias. Nossa cozinha foi sendo desenvolvida, primeiramente pelas Cunhãs – donas de saberes e fazeres, que conheciam tudo da terra; as primeiras cozinheiras e mães dos primeiros pratos. Através da alimentação e práticas alimentares preserva-se muita história e conhecimento de um povo.
Considera-se que a identidade alimentar é a última a ser modificada em meio às necessidades de adaptação a uma outra cultura. Portanto, um povo pode viver e morrer pela boca.
Em meio às diferentes culturas indígenas existentes no Brasil, a pimenta é um dos temperos em comum na culinária. Por isso, segue abaixo uma receita de conserva de pimenta, para deixar qualquer refeição ainda mais saborosa:
CONSERVA DE PIMENTA
Ingredientes:
250g de pimenta (a que desejar)
1 colher de chá de sal
180 ml de azeite de oliva extra-virgem
1 colher de sopa de vinagre de maçã
Modo de preparo:
Antes de tudo, esterilize potes de vidro – basta lavar com água e sabão, passar na água corrente e ferver em um panela, coberto de água, por 15 minutos. Não esqueça de ferver a tampa também. Após desligar o fogo, retire o pote e a tampa da água e coloque com a boca para baixo em um pano limpo, para que a água escorra e esfrie naturalmente.
Antes de mexer com as pimentas, coloque óleo nas mãos, para que a ardência não fique impregnada. Descarte os cabinhos e mergulhe as pimentas em água fervente por 2 minutos. Em seguida, coloque as pimentas na água gelada para que não sejam cozidas. Descarte a água e seque com um pano limpo, ou deixe em um escorredor.
Coloque as pimentas no pote esterilizado e adicione o sal, vinagre e azeite. Também é possível usar outros temperos, como alho ou ervas secas.
Espere três dias antes de utilizar, para que o sabor ficar bem incorporado. Sempre mantenha as pimentas cobertas com azeite, para que não mofem.
Aproveite e conheça o trabalho do povo Baniwa e a pimenta Jiquitaia.
Edição: Mariana Pitasse