FEMINISMO E CINEMA

Anna Muylaert: “As pessoas não entendem a mulher em um papel de liderança”

Com mais de 25 anos de carreira, Muylaert é uma das principais diretoras do cinema brasileiro

Ouça o áudio:

Autora do premiado filme 'Que horas ela volta?' fala sobre o papel da mulher no setor audiovisual - Reprodução
“A gente vive o pior momento da nossa história, mas não acredito que continuamos a andar para trás"

A diretora e roteirista Anna Muylaert, entrevistada desta semana no programa BdF Entrevista, é uma referência feminina no campo do cinema. Ao longo dos 25 anos de carreira, a luta pelo reconhecimento da mulher como agente político em um setor dominado por homens marca a trajetória da cineasta. 

“A mulher e o cinema é igual a mulher e qualquer outra coisa. Não é fácil. Nós vivemos em um sistema que valoriza o homem muito mais do que valoriza a mulher. A Ancine fez um estudo e tem números para dizer. As mulheres dirigem cerca de 17% das produções. Agora se a gente for avaliar o orçamento dos filmes das mulheres e dos homens, talvez o número seja ainda menor. Porque o mercado é basicamente masculino, então quem escolhe os projetos são homens”, afirma a cineasta.

Em Que horas ela volta?, filme com atuação memorável da atriz Regina Casé e que contou com mais de trinta indicações e 19 prêmios ao redor do mundo – como o Festival de Berlim e o Festival de Sundance –,  Muylaert aborda o universo da maternidade e conta a história de uma empregada doméstica de Recife que se mudou para São Paulo e passou a trabalhar na casa de uma família da elite paulistana.  

A cineasta nasceu em São Paulo (SP) e se formou em cinema na Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP). Ela participou da criação de programas que fizeram história no Brasil, como “Mundo da lua” e “Castelo rá-tim-bum”, ambos quando atuava como roteirista para a TV Cultura, na década de 1990. 

Na conversa, Muylaert fala sobre a crise que o cinema enfrenta com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e também com a pandemia do coronavírus. Ela também comenta sobre as novas plataformas do audiovisual e as perspectivas pro setor.

“A gente está em plena transformação. A gente saiu de um capitalismo selvagem escroto e agora as contradições pularam na cara de todo mundo. Como disse o Spike Lee: ‘o coronavírus tirou um véu’. Tanto em relação ao racismo, que explodiu, quanto em relação também ao machismo. O número de feminicídios aumentou no mundo inteiro, os divórcios na China aumentaram. Então, acho que também a relação de gênero muda, tudo muda. Agora, será que na hora que a gente chegar do outro lado vai querer voltar tudo para trás, ou será que vamos querer achar novas formas?”, opina a cineasta. 

Confira a entrevista completa:

O BdF Entrevista vai ao ar todas às sextas-feiras na rede TVT, às 20h15.

*Com colaboração de Pedro Stropasolas.

Edição: Rodrigo Chagas