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Papo Esportivo | Fla x Flu: Nunca a decisão da Taça Rio foi tão simbólica

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Nunca um turno de Campeonato Carioca foi tão acompanhado e comentado como esse - MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC
Fluminense deu a resposta correta e na medida certa à postura arrogante dos dirigentes rubro-negros

Ninguém duvida que o futebol é a maior invenção do homem depois das vacinas, da internet, do sorvete de flocos e do pão de queijo. Já cansei de falar sobre isso aqui neste espaço. O velho e rude esporte bretão está recheado de histórias de superação e de grandes glórias. Não foram poucas as vezes em que os “deuses do futebol” nos presentearam com narrativas que mais pareciam verdadeiros épicos contados pelos antigos gregos ou roteiros de filmes grandiosos da era de ouro de Hollywood.

Mas se tem uma coisa que os “deuses do futebol” detestam é soberba e falta de humildade. E quem esteve ligado no noticiário esportivo da última quarta-feira (8) percebeu muito bem o que eu estou tentando dizer. Vamos refrescar a sua memória.

Amparado pela Medida Provisória 984/2020 (que determinou que pertencem ao clube mandante de uma partida os direitos de negociar, autorizar ou proibir a transmissão de um evento esportivo), o Flamengo rompeu de vez com a Globo e iniciou as transmissões das suas partidas através do seu canal no YouTube. Após a realização das semifinais da Taça Rio no último final de semana, ficou determinado (em sorteio) que o Fluminense seria o mandante da finalíssima e que o Flamengo seria o visitante (exatamente como está escrito no regulamento do Campeonato Carioca). Ou seja: o direito de transmitir, negociar ou fazer qualquer coisa com a transmissão era unicamente do Fluminense levando-se em conta o que está escrito na MP. Até aí, tudo bem.

O que aconteceu nas horas que antecederam a final da Taça Rio foi um retrato do que ainda é a gestão do nosso futebol. O Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RJ) concedeu uma liminar autorizando que o Flamengo transmitisse a partida desta quarta-feira (8).

E pasmem: a diretoria rubro-negra considerava “um absurdo” que a decisão fosse transmitida apenas pelo canal do Fluminense no YouTube, chegando até mesmo a falar de “imbróglio” com a Globo (que não existe) em nota oficial divulgada antes da bola rolar no Maracanã.

Entendam bem, meus amigos. A diretoria do Flamengo vem agindo com soberba há tempos. Começando pela questão (ainda não resolvida completamente) com os familiares das vítimas da tragédia do Ninho do Urubu, passando pelo lobby até agora inexplicável de se retomar os jogos do Campeonato Carioca no meio de uma pandemia mundial e chegando na já mencionada questão das transmissões dos jogos do COVIDÃO 2020. Fora isso, ainda existem questões nebulosas como o patrocínio do Banco de Brasília e o relacionamento estreito (até demais) com o Plantalto. Vide a forçação de barra com a deficitária MyCujoo e a cobrança absurda de dez reais de quem quisesse assistir ao jogo contra o Volta Redonda no final de semana passado.

Na prática, é como se a diretoria rubro-negra fizesse um esforço hercúleo para acabar com todo o prestígio e toda a glória conquistada pelo escrete comandado por Jorge Jesus em 2019 e nesse início de 2020. O “Mister”, aliás, vem balançando com o assédio do Benfica de Portugal, que deseja seu retorno para comandar os encarnados.

Sobre o jogo em si, sendo bem objetivo, o Fluminense tratou de jogar Futebol com “F” maiúsculo no Maracanã. Cada bola era disputada como se fosse a última. Cada atleta tricolor marcava e se desdobrava na perseguição a Gabigol, Bruno Henrique e companhia. O Flamengo, por sua vez, esteve irreconhecível. Tanto na saída de bola como nas tramas ofensivas. Só que os comandados de Odair Hellmann não têm nada com isso e fizeram um grande jogo. Seja nos contra-ataques ou matando a força os ataques do seu adversário com uma determinação absurda. Gilberto abriu o placar no final da primeira etapa, Pedro empatou para o Fla no segundo tempo e Muriel (ou MUROel para os íntimos) garantiu o título ao defender duas cobranças de pênaltis.

Nunca uma Taça Rio foi tão simbólica. Nunca um turno de Campeonato Carioca foi tão acompanhado e comentado como esse.

A postura da diretoria do Flamengo já havia ultrapassado todos os limites do absurdo no lobby pela volta do futebol no Rio de Janeiro. E nesta quarta-feira (8), os dirigentes agiram tais quais adolescentes mimados que não aceitam negativas e só que só querem ser paparicados. Daqueles criados à base de leite com pêra e ovomaltine. E a  Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), talvez desesperada com o fim do contrato com a Globo, “abraçou a causa” da diretoria do Flamengo sem sequer pensar que ela estaria indo contra o regulamento que ela mesma aprovou em arbitral no ano passado.

Alguns podem até dizer que o Fluminense vacilou ao indicar o Maracanã como palco da decisão da Taça Rio por conta do discurso (correto) de se esperar um pouco mais para se retomar as atividades. O tal contrato citado pela diretoria poderia sim ter esperado um pouco mais. Por outro lado, a maneira como Nenê, Gilberto, Muriel e companhia jogaram lembrou os grandes momentos do clube.

Foi a resposta correta e na medida certa à postura arrogante dos dirigentes rubro-negros.

Tenham a certeza de que toda soberba, toda mesquinhez e que toda desonestidade não serão perdoadas pelos deuses do futebol. Ainda mais em um momento em que lutamos pelo óbvio: salvar vidas é muito mais importante do que qualquer coisa quando se está no meio de uma pandemia mundial. Principalmente com relação a atitudes que privilegiem CNPJ’s em detrimento dos CPF’s.

A decisão do Campeonato Carioca está marcada para os próximos dias 12 e 15 de julho no mesmo Maracanã. E lá veremos se o Flamengo aprendeu a lição da final da Taça Rio e se o Fluminense vai se superar mais uma vez. Eu não duvido é de mais nada.

Aliás, eu não me surpreenderia nem um pouco se a diretoria rubro-negra já estivesse negociando os direitos de transmissão de um dos jogos com uma plataforma mambembe e cobrasse mais dez pratas de quem quiser assistir.

Lavem bem as mãos, mantenham o distanciamento social sempre que possível e cuidem uns dos outros.

Edição: Mariana Pitasse