A nossa oposição à Bolsonaro é relacionada à sua política, à sua conduta e não à sua pessoa
Eu não poderia começar a coluna desta semana sem falar da notícia que o Brasil e o mundo receberam na última terça-feira, dia 7, de que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, contraiu e está infectado com o novo coronavírus.
É uma notícia que todos já esperávamos. Mais cedo ou mais tarde teríamos esta notícia por conta das atitudes que Bolsonaro adota e toma desde o início da pandemia. Uma atitude irresponsável não apenas com ele próprio e com as pessoas as quais ele convive com proximidade, mas uma atitude irresponsável com toda a nação brasileira, com todo o povo brasileiro.
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Insistiu contrariar orientações médicas, dos cientistas, dos pesquisadores, dos infectologistas, que diziam – e dizem – da necessidade do isolamento social e dos cuidados pessoais, como o uso de máscara, de álcool gel. Bolsonaro sempre fez exatamente o inverso do que a ciência recomendou. Não apenas no discurso, mas andava na rua como se não estivéssemos vivendo uma pandemia, minimizava toda a vez que se falava da gravidade da doença. E está aí, hoje Bolsonaro está contaminado com a covid-19.
Agora, tenho certeza que, não apenas eu, mas todos os brasileiros e brasileiras de boa alma e de bom coração, não desejam a ele o que ele desejou em 2015 à presidenta Dilma, quando foi anunciado que ela estava com câncer.
Pois bem, ao invés de apresentar ou prestar solidariedade pessoal e humana, Bolsonaro fez questão de ir a público dizer que desejava que ela morresse ou de câncer ou de infarto.
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Não, nós não desejamos isso a ele. A nossa oposição à Bolsonaro é relacionada à sua política, à sua conduta e não à sua pessoa. Penso que com as últimas atitudes de Bolsonaro com relação a algumas leis aprovadas com muita dificuldade pelo Congresso Nacional, para tentar ajudar e melhor enfrentar esta pandemia – os vetos que ele promoveu em algumas leis – vai haver uma pressão e uma mobilização da sociedade para que o Congresso derrube alguns vetos presidenciais.
Dou dois exemplos. O primeiro é aquele que vetou o uso obrigatório de máscara em todos os lugares de aglomeração de pessoas. Inimaginável isso, mas ele vetou, liberando do uso de máscaras em locais como escolas, igrejas, templos religiosos e comércio. Um verdadeiro absurdo.
O outro veto diz respeito à prorrogação da desoneração da folha de pagamento, por parte das empresas. É necessário que seja prorrogada essa desoneração para que a gente possa tentar fazer com que a economia se recupere, mas garantindo empregos. Porque não basta a economia brasileira se recuperar, precisamos garantir condições dignas para todos os trabalhadores e trabalhadoras. Não somente para aqueles que já têm emprego, mas aos que perderam seu emprego e sua renda, que possam ter também a capacidade de recuperação.
É triste e lamentável, mas Bolsonaro não é capaz de enfrentar o momento de necessária recuperação econômica, como infelizmente tem sido incapaz de enfrentar a pandemia. E dentro deste espectro político que todos nós temos, da necessidade de abreviarmos o mandato de Jair Bolsonaro, eu percebo que tem algo que abala profundamente o presidente da República e seu poder.
O que mais o abala, no meu entendimento, é o seu envolvimento com organizações criminosas e com a milícia, que a imprensa brasileira têm noticiado de forma muito ampla, – que, aliás, nós já sabíamos – mas muita gente faz de conta que não existem estes laços íntimos de Bolsonaro com organizações criminosas. O escritório do Crime que vêm sendo investigado pela Polícia no Rio de Janeiro, tem chegado às digitais não somente dos filhos de Bolsonaro, mas às dele próprio.
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Então também precisamos de uma forte mobilização que exija transparência e que as investigações sobre o envolvimento de Bolsonaro com as milícias permaneçam sendo feitas. Porque não dá para um país do tamanho do Brasil, que tem mais de 210 milhões de pessoas, trabalhadoras e sofredoras na sua grande maioria, continuar vivendo em um país governado por este presidente chamado Jair Messias Bolsonaro.
Fora Bolsonaro continua sendo a bandeira de todos nós, a bandeira de todas nós.
Edição: Rodrigo Chagas