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Exemplos práticos de educação libertadora, ou ao menos "desinibidora"

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Nesta semana, Mouzar Benedito traz um causo do interior de Goiás que pode inspirar muitos professores pelo Brasil - Foto: Robin Worrall/Unsplash
Era considerado quase como uma espécie de Paulo Freire goiano

Há algumas décadas, o professor Sílvio era o maior educador do norte goiano. Ou pelo menos pensava que era, depois de ter dado aulas em umas oito escolas rurais nos três municípios em que morou.

Uns amigos também achavam que ele era um professor excelente, especialmente na alfabetização de adultos. Era muito admirado, considerado quase como uma espécie de Paulo Freire goiano. Com esse cacife todo, resolveu se candidatar a prefeito do município em que morava. 

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Pronto... Foi o motivo para pessoas de partidos contrários ao dele começarem uma onda de difamação.

Bem que a mulher dele tinha tentado evitar que entrasse para a política, pois é só alguém se candidatar a qualquer coisa que os adversários começam a procurar defeitos nele. Mas ele queria porque queria ser prefeito. Ainda bem que na época não tinha internet, Facebook, essas coisas muito boas mas utilizadas para perseguir adversários, com notícias falsas e ofensas.

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Mas mesmo sem esses instrumentos utilizados para o mal, os adversários conseguiram fazer um estrago na imagem dele. Diziam que ele ensinava umas pessoas a desenhar o nome e considerava que elas estavam alfabetizadas.

Para rebater isso, em cada comício, levava alguns alfabetizados por ele para mostrar resultados do seu trabalho. Mas não foi suficiente.

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Os adversários continuavam dizendo que aquelas pessoas não sabiam ler nem escrever, insistiam em dizer que os alfabetizados do professor Sílvio só sabiam desenhar o nome.

O que fazer?

Contestando seus opositores, o professor Sílvio passou a pedir para alguns dos seus alfabetizados que subissem ao palanque e fazia perguntas relacionadas à maltratada língua-pátria. A cada resposta, a plateia aplaudia e ele vibrava:

— Tão vendo? Tão vendo? Gente alfabetizada pelo professor Sílvio sabe ler e escrever, sim senhor! — falava como se o professor Silvio não fosse ele mesmo.

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Num desses comícios, subiu ao palanque o pernambucano Gregório, que chegou analfabeto ao norte de Goiás, e, conforme dizia, foi "desasnado"  pelo professor Sílvio. Para mostrar que aprendeu mesmo, mandou que perguntasse o que quisessem.

Um sujeito, querendo fazer uma pergunta difícil de explicar, gritou lá de baixo para o ex-aluno do Silvio:

— O que é sílaba?

O Gregório nem vacilou. Com um ar de profunda sabedoria, sapecou:

Silbala é uma palavra que a gente gaguleja de uma vez só.

 

Edição: Lucas Weber