LITERATURA

Contador de causos, Mouzar Benedito relembra histórias da época da ditadura militar

Escritor e colunista do Brasil de Fato ensina que o humor é a chave para ampliar as idéias

Ouça o áudio:

Obras foram feitos em dois momentos distintos da ditadura militar - Foto: Divulgação
"A ditadura me sacaneou bastante, mas eu também procurei sacanear ela até onde pude"

Reler edições do histórico jornal O Pasquim é como mergulhar em deboches valiosos para interpretar e reinterpretar o período da ditadura militar no Brasil. A irreverência inteligente do Pasquim furou bloqueios, sejam da censura da época ou do tempo, se mantendo vivo décadas após a redemocratização. 

A ideia de ampliarmos nossos repertórios de expressões e linguagens sobre os 21 anos que jamais devem ser esquecidos é afirmada pelo geógrafo e contador de causos Mouzar Benedito. Tanto é que Mouzar escreveu dois livros neste período. O primeiro deles foi “1968, por aí… Memórias Burlescas da Ditadura”. A obra surgiu da produção de crônicas feitas por Mouzar na época para a Revista Fórum. 


Henfil fez homenagem a Mouzar Benedito / Foto: Arquivo pessoal

“Quando eu fui escrever ‘1968, por aí… Memórias Burlescas da Ditadura’, a editora, que era ligada à Revista Fórum, me propôs fazer um ensaio numa linha sociológica. Ai eu falei para o Renato, editor, que ‘eu acho que não vai valer muito a pena. Primeiro porque vai ter muito sociólogo que já vai falar sobre isso. E a gente vai falar para as mesmas pessoas que já sabem das coisas. Eu gostaria de escrever uma coisa mais coloquial, contando causos, até com humor, mostrando como a gente encarava’. Como eu dizia, a ditadura me sacaneou bastante, mas eu também procurei sacanear ela até onde pude”, recorda. 

O segundo momento desse embate literário entre Mouzar e a ditadura aconteceu num contexto bem diferente de 1968. A esperança ecoava firme em 1983, ano do livro “João do Rio 45: uma casa muito louca da Vila Madalena nos anos da ditadura”. A obra é uma ficção baseada em uma residência localizada na Rua João do Rio, no Rio de Janeiro, número 45. O livro lembra a alegria da liberdade das prisões políticas.   

“Então eu transformei em ficção o que era a própria casa contando as pessoas passando por ali, as festas que aconteciam entre os jornalistas, o local era um república. Então muitos presos políticos quando saiam da cadeia passavam lá pela casa para conversar com essa turma de jornalistas. Era um período muito festivo, de muita transformação. Tudo estava mudando, estava acabando a ditadura e naquela época as pessoas estavam acreditando que o Brasil ia dar certo”, ressalta.


O escritor publica também sobre lendas e mitos brasileiros / Foto: Arquivo pessoal

Olhando para os dias atuais, o escritor lamenta a postura do governo Bolsonaro e suas identificações com o regime ditatorial. E nesse embalo de fragilização do modelo de democracia no Brasil, a exemplo do impedimento da presidenta Dilma, em 2016, foi a vez de mais um livro. “Impeachment, Alzheimer e outras sacanagens” é uma ficção que conta a história de um idoso, cada vez mais debilitado ao assistir os retrocessos na política brasileira.  

Para o escritor, o humor é chave para ampliarmos as ideias. Além da política, Mouzar escreve sobre diversos outros temas, como literatura infantil, por exemplo. O contador de causos nos relata que desde criança sonhou visitar todos os estados do Brasil. O desejo foi alimentado juntando muitos outros causos entre viagens de barco, trem, ônibus e - quando conseguia pagar - avião. Até mesmo cavalo já ajudou Mouzar a desbravar mais alguns centímetros do nosso país. A dica para conferir essas muitas outras histórias é acompanhar a coluna semanal do Mouzar Benedito no Brasil de Fato. 

Edição: Douglas Matos