Luta pela terra

Artigo | A Reforma Agrária Popular que ensina solidariedade

A alimentação saudável dos assentamentos e acampamentos está cada vez mais perto da mesa dos trabalhadores

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Produção agroecológica sem veneno tem sido oferecida em diversas iniciativas de solidariedade protagonizadas pelo MST na pandemia - Wellington Lenon

Em tempos de barbárie provocada pela extrema e perversa exploração capitalista - agravada pela emergência de uma pandemia causada pelo novo coronavírus -, a mercantilização dos bens da natureza atingiu patamares inimagináveis e insuportáveis. O capital financeiro internacional avança e segue transformando tudo em mercadoria: a terra, a água, o ar, a vida.

A destruição das florestas, a concentração e a estrangeirização da terra, a liberação dos agrotóxicos, a exploração dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo têm atingido níveis ofensivos com impactos destrutivos para a humanidade. Nesse contexto, o agronegócio, expressão máxima das políticas do latifúndio, emerge como a principal referência de atendimento aos interesses das burguesias nacional e internacional e procura se impor como o modelo de economia rural para o país.

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Contrariando tal perspectiva, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por meio da agroecologia e de sua vasta produção camponesa, que deriva de terras de assentamentos e acampamentos por todo o país, possibilita o acesso da população ao consumo de alimentos saudáveis.

Mais do que isso, nesse momento de crise humanitária e de agravamento da escassez de recursos para a própria sobrevivência, o MST - sob a coordenação da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (Copran) - oferece como ação político-solidária a doação/partilha de toneladas de alimentos (arroz, feijão, mandioca, abóbora e frutas). Trata-se de um ato de solidariedade de classe e de defesa da vida que irá atender comunidades indígenas e demais famílias acometidas de toda forma de precariedade, agravada pela falta de políticas públicas de saúde, de moradia e de alimentação por parte dos governos municipais, estaduais e federal.

As ações do MST que trazem alimentação saudável para a cidade não são recentes. Merece destaque o Feirão da Resistência e da Reforma Agrária realizado no Canto do Movimento dos Artistas de Rua de Londrina (MARL), na cidade de Londrina. O Feirão está se reorganizando, considerando a importância do isolamento social como medida fundamental para a manutenção das vidas nesse tempo de pandemia. Para atender as famílias fazendo chegar alimentação saudável e com a segurança que os tempos atuais exigem, tem viabilizado a venda de cestas de alimentos por meios alternativos com entrega nas próprias casas dos consumidores.

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A produção familiar oriunda da Copran tem chegado às escolas públicas e às crianças, aos adolescentes e aos adultos, ainda que estes não saibam. Todos eles têm tido a possibilidade de consumir alimentos da marca Campo Vivo, como iogurte, manteiga, queijo, requeijão, verduras e legumes, que vão ocupando a vida da cidade no verdadeiro ato educativo. Nem tudo é agronegócio! Nem tudo é agro, é tech, é pop, é tudo! Nem tudo é Rede Globo! Não precisa ter veneno à mesa.

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A alimentação saudável oriunda dos assentamentos e acampamentos está cada vez mais perto da mesa dos trabalhadores e das trabalhadoras e sinaliza o papel que o MST tem na construção de outra ordem social. Reconhecer o papel dos movimentos sociais e populares na construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária, com educação de qualidade para todos e todas e com a oferta de alimentos saudáveis é tornar os territórios de reforma agrária um campo de construção em diálogo com diversas instituições formativas. E a universidade é uma delas.

A Universidade Estadual de Londrina (UEL) realizou nos últimos anos, com a participação de professores e de estudantes das mais diversas áreas, inúmero projetos e ações de ensino, de pesquisa e de extensão em diálogo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Nessas ações, o tema da Reforma Agrária Popular foi pautado nos mais diversos cursos de graduação e de pós-graduação.

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Como resultado, esses projetos e ações cumpriram papel fundamental na formação estudantil ampliando as perspectivas de atuação profissional e acadêmica, inclusive, produzindo o engajamento de recém-formados na organicidade do movimento. A experiência formativa produzida no ambiente universitário comprometido com novos valores humanos e sociais reconhece o MST como sujeito coletivo de produção de conhecimentos, valorizando os assentamentos e os acampamentos como território de estudo e de aprendizagens.

Nesse contexto, a defesa dos processos de produção de alimentos saudáveis, na perspectiva da agroecologia; a contribuição na construção de experiências comunicativas de natureza contra-hegemônica, por meio da comunicação popular e comunitária; e a construção e consolidação de uma proposta de educação pública do campo foram apenas algumas das contribuições oferecidas por docentes de universidade pública comprometidos com a luta em defesa da Reforma Agrária Popular. Isso como um projeto de democratização da terra, de produção de alimentação saudável para todas as pessoas, enfim, de uma nova sociedade mais justa e humanitária.

*Adriana Medeiros Farias é professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL); Manoel Dourado Bastos é professor do Departamento de Comunicação da UEL; e Rozinaldo Antonio Miani é professor do Departamento de Comunicação da UEL.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Raquel Júnia e Lia Bianchini