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Prato cheio | Desigualdade: população negra tem menos acesso à alimentação saudável

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Pensando nas diferenças, aprenda uma receita básica, a mais democrática, que está presente na maioria das mesas dos brasileiros: o feijão - Divulgação
Dois fatores que permitem essa realidade é o tempo disponível para o preparo da refeição e a renda

Vou aproveitar esse espaço para falar da importância da mobilização internacional sobre o anti-racismo. Não é um tema novo (pelo menos não deveria ser) mas sem dúvidas ganhou muita força e permeou outros grupos raciais e sociais após as últimas barbaridades vistas em solo brasileiro e norte americano.

A alimentação é o tema de base para todos os textos aqui escritos e, por si só, torna possível abordar tantas questões, pois a alimentação permeia toda nossa vivência. Todo mundo come, bebe e excreta. Então, no âmbito alimentar, o que torna diferente um grupo racial do outro? 

Podemos começar pela diferença de acesso aos alimentos. Enquanto 39% da população branca consome frutas e hortaliças pelo menos cinco dias da semana, o percentual é de apenas 29% na população negra.

Dois fatores que permitem essa diferença é o tempo disponível para o preparo da refeição e a renda salarial. 

O nível socioeconômico determina possibilidades de acesso à alimentos e serviços de saúde, dentre tantas outras coisas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a diferença salarial de rendimento mensal entre brancos e negros era de 73,9% em 2018. Ainda que apresentassem o mesmo grau de instrução, pessoas brancas ganharam 45% a mais por hora.

Não há dúvidas que a condição salarial também interfere na condição de moradia, logo é comum que grande parte da população negra viva em locais mais afastados dos centros e de seus trabalhos, principalmente, em favelas e conjuntos habitacionais e/ou locais com menor oferta de transporte público. O maior tempo de deslocamento interfere diretamente na organização alimentar da família.

A baixa regularidade no consumo de frutas, hortaliças e alimentos com baixo teor de gordura saturada em detrimento do alto consumo de carnes processadas, embutidos, frituras, grãos refinados, açúcar, margarina e doces aumenta as chances de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, hipertensão e diabetes, por exemplo. Esse é o perfil alimentar prevalente dentre a população negra, visto que há poucas opções de comércio saudável e econômico próximo às moradias.

Uma pesquisa do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, feita em 2018, mostra que a população negra apresenta uma avaliação da saúde negativa em comparação com a população branca. A alimentação saudável, assim como a prática regular de atividade física e adoção de comportamentos saudáveis diários são essenciais para a manutenção da saúde. 

Além das desigualdades econômicas, a falta de conhecimento sobre nutrição e recomendações nutricionais contribuem para o pior padrão de consumo de alimentos, observado nos segmentos de menor escolaridade, como é o caso da população negra.

Embora o uso do celular e internet esteja cada vez mais democratizado, e seja atualmente uma das principais vias de acesso à informação, é importante ressaltar que esses bens e serviços são mais acessíveis à pessoas brancas.

Posso registrar por experiência própria a diferença entre esses dois grupos raciais em relação ao tipo de serviço de saúde. Atualmente trabalho como nutricionista particular e também na rede pública de saúde. É notável que a população que acessa meu serviço particular é majoritariamente branca, enquanto em postos de saúde a população negra está mais presente. Ainda assim, mesmo com o Sistema Único de Saúde (SUS), infelizmente nem toda população ainda está coberta quanto a estes serviços, e muitos postos de saúde não contam com essa especialidade da nutrição.

Pensando na grandeza e importância de tantas diferenças, hoje trago uma receita básica, a mais democrática, que está presente na maioria das mesas dos brasileiros: nosso amado feijão. Anota aí essas dicas pra deixar seu feijão mais gostoso e saudável:

FEIJÃO SEM GASES

Ingredientes:

2 xícaras (chá) de feijão (preto, carioca, branco, etc.);
6 xícaras (chá) de água;
1 colher de sobremesa rasa de cominho em pó;
1 colher de sobremesa rasa gengibre em pó;
1 colher de sobremesa rasa de louro em pó ou 3 folhas;
2 dentes de alho;
1 cebola pequena.

Modo de preparo:

Lave os feijões e sempre deixe de molho, por no mínimo 8 horas. Isso garante que os fatores anti-nutricionais serão minimizados e que a digestão ficará bem mais fácil.

O jeito mais prático de garantir esse tempo é colocar os grão na água à noite e cozinhar no dia seguinte. Se possível, troque a água pelo menos uma vez durante esse tempo; antes de cozinhar, descarte a água que usou para deixar de molho e coloque as 4 xícaras de água nova junto com os grãos na panela de pressão; adicione o cominho, gengibre e louro e deixe cozinhar em fogo alto até a pressão começar a sair; assim que a panela começar a apitar, diminua o fogo e deixe cozinhar por 10-20 minutos, dependendo do seu fogão, da sua panela e do feijão que escolheu.

Se não tiver panela de pressão, deixe cozinhar por mais ou menos 30 minutos.

Desligue o fogo e deixe o vapor sair; enquanto isso, em uma frigideira, refogue a cebola e o alho até começarem a dourar; acrescente 2 conchas do feijão cozido e amasse os grãos para incorporar o sabor e engrossar o caldo; coloque uma pitada de sal; retorne o feijão refogado na frigideira diretamente para a panela, acerte o sal e deixe cozinhar em fogo baixo, sem tampa, por mais 10 minutos ou até chegar à consistência desejada; mexa as vezes para não grudar no fundo da panela.

Seu feijão está pronto e fresquinho, sirva-se!

Edição: Mariana Pitasse