A onda de ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), incentivada e executada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), acirrou-se na noite do sábado (13), em Brasília.
Manifestantes bolsonaristas lançaram fogos de artifício contra o prédio do Supremo e fizeram ameaças aos magistrados. Eles gravaram vídeos gritando e xingando os ministros e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
O ato é reação à ordem do governo local para desmontar o acampamento de agitadores armados de extrema direita, autodenominado “300”, que estava montado na Praça dos Três Poderes, na capital federal. Além do ataque ao Supremo, o grupo também invadiu uma área de acesso restrito do Congresso Nacional.
O Ministério Público Federal (MPF) determinou a abertura imediata de inquérito policial para investigar o ocorrido. A investigação seguirá sob sigilo e em regime de urgência.
Ministros da Corte e até do governo reagiram ao ataque. No domingo (14), o presidente do STF, Dias Toffoli, assinou nota em que afirma que as ações, financiadas ilegalmente, são, sobretudo, “um ataque a todas as instituições democraticamente constituídas”.
“O Supremo jamais se sujeitará, como não se sujeitou em toda a sua história, a nenhum tipo de ameaça, seja velada, indireta ou direta e continuará cumprindo a sua missão. Guardião da Constituição, o Supremo Tribunal Federal repudia tais condutas e se socorrerá de todos os remédios, constitucional e legalmente postos, para sua defesa, de seus Ministros e da democracia brasileira”, posicionou-se o ministro.
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O ministro Alexandre de Moraes afirmou que “a lei será rigorosamente aplicada”. “O STF jamais se curvará ante agressões covardes de verdadeiras organizações criminosas financiadas por grupos antidemocráticos que desrespeitam a Constituição Federal, a Democracia e o Estado de Direito. A lei será rigorosamente aplicada e a Justiça prevalecerá”.
Para ministro Luis Roberto Barroso, do STF e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é preciso dar limite a esses grupos.
“Há no Brasil, hoje, alguns guetos pré-iluministas. Irrelevantes na quantidade de integrantes e na qualidade das manifestações. Mas isso não torna menos grave a sua atuação. Instituições e pessoas de bem devem dar limites a esses grupos. Há diferença entre militância e bandidagem”.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge de Oliveira Francisco, manifestou apoio ao STF. “Ataque ao STF ou a qualquer instituição de Estado é contrário à nossa democracia, prejudica nosso país, e deve ser repudiado. Atitudes e pensamentos individuais não são mais importantes que nossos ideais”.
Outro ministro bolsonarista a repudiar o ataque, o ministro da Justiça, André Mendonça, afirmou que não há espaço para vaidades e que o povo deve estar em primeiro lugar.
“A democracia pressupõe, acima de tudo, que todo poder emana do povo. Por isso, todas as instituições devem respeitá-lo. Devemos respeitar a vontade das urnas e o voto popular”, disse.
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Outros ataques
Os “300” foram responsáveis por outros ataques ao STF. Em 31 de maio, alguns deles fizeram outro protesto, carregando tochas, vestindo máscaras e outra vez ameaçando ministros.
O ato ocorreu logo após Sara Winter, uma das líderes do grupo, ser alvo de uma operação no âmbito do inquérito que apura a disseminação de fake news. Nesta segunda-feira (15), Sara foi presa pela Polícia Federal (PF).
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A atuação do grupo armado segue na esteira de uma série de manifestações antidemocráticas fomentadas por Bolsonaro desde maio, quando o ministro Celso de Mello liberou a gravação de uma reunião ministerial, em que o presidente ameaça interferir na Polícia Federal.
Na mesma reunião, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, sugeriu prender os "vagabundos" da Suprema Corte. Ele é figura constante nos atos antidemocráticos e esteve, outra vez, gritando contra o STF em ato último domingo.
De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, a presença de Weintraub na manifestação de domingo irritou o Palácio do Planalto, o que deve provocar, em breve, sua demissão.
Edição: Rodrigo Chagas