MOBILIZAÇÃO

Sindicatos pedem negociação com governo Doria: “Não somos essenciais só para morrer”

Metroviários, eletricitários e trabalhadores da Sabesp reivindicam garantia de direitos, diálogo e proteção à vida

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Trabalhadores essenciais realizaram um ato na frente do Palácio dos Bandeirantes contra a a falta de testes da covid-19, a redução de direitos e a ausência de negociações. - Marina Duarte de Souza/Brasil de Fato

Com as bandeiras “não somos essenciais só para morrer”, "somos essenciais, queremos viver" e “a vida acima do lucro”, os trabalhadores essenciais, que estão na linha de frente na prestação de serviços fundamentais à população, realizaram um protesto contra o governo estadual nesta quarta-feira (10), em frente ao Palácio dos Bandeirantes, durante a entrevista coletiva do governador João Dória (PSDB). 

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O ato reuniu dirigentes do Sindicato dos Metroviários, Sindicato dos Eletricitários e Sindicato dos Trabalhadores do Saneamento e Meio Ambiente, que reivindicam para as categorias a manutenção dos acordos coletivos, ampliação da testagem de covid-19 e medidas de proteção à saúde e aos direitos dos trabalhadores. 

O objetivo da mobilização coletiva é promover uma campanha salarial unificada dos trabalhadores essenciais, que denunciam que o governo tenta impor negociações nocivas as categorias. 

Cerca de vinte lideranças das categorias, para evitar aglomerações devido ao risco do novo coronavírus, tentaram dialogar com o governador, mas a Polícia Militar impediu que os manifestantes seguissem para frente da sede do governo, bloquearam as ruas no entorno e limitaram a circulação dos trabalhadores a esquina do Palácio.

Fomos recebidos de forma desproporcional.

Até o final da mobilização, que durou cerca de duas horas, nenhum representante do governo atendeu a solicitação de negociação dos sindicalistas.

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“Nós fomos recebidos de forma desproporcional, pararam o trânsito aqui na avenida porque nós viemos manifestar nosso direito legítimo de protestar e de lutar pelos direitos. Esse é o retrato de como o governador João Dória trata os trabalhadores do estado”, afirmou a coordenadora do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa.

Categorias

Segundo o representante de mais de 6 mil metroviários, o Metrô de São Paulo quer diminuir adicionais e conquistas da categoria pressionando para que as negociações do acordo coletivo aconteçam em meio a pandemia. O sindicato chegou conseguir liminar na justiça para prorrogar a vigência do acordo coletivo do ano passado, que venceu em maio, mas uma ação do governo estadual caçou o pedido no Tribunal Superior do Trabalho (TST).

 “Agora nós estamos sendo obrigados a entrar num processo de negociação da campanha salarial, só que esse processo da parte do metrô e da parte do governo não está sendo negociação está sendo ataque profundo aos nossos direitos, tirar conquistas históricas da nossa categoria”, explica Camila, que também denuncia que a flexibilização da quarentena ameaça a categoria, segunda com maior risco de contaminação depois dos profissionais de saúde.

Cerca de 200 funcionários estão afastados por suspeita ou confirmação de covid-19, segundo ela, e agora o Metrô de São Paulo informou o retorno ao trabalho de funcionários com mais de 60 anos e do grupo de risco, contrariando as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de isolamento social total para esta faixa da população. Há também ameaça de demissão de funcionários da Via Quatro que se recusaram a trabalhar por falta de equipamentos de proteção à covid-19. 

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A realidade dos metroviários se aproxima da realidade dos eletricitários da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae). Eles também reivindicam a manutenção do acordo coletivo e que o governo não ameace a vida dos trabalhadores, seja pelo retorno daqueles que pertencem ao grupo de risco, seja pela ampliação da testagem, visto que boa parte dos funcionários trabalham em locais onde há aglomeração.

É algo coerente, não é algo do outro mundo, nós estamos pedindo prudência e coerência e cautela por parte do governo.

Segundo o presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Eduardo Anunciato, conhecido como Chicão, a média de contaminação na categoria está entre 5% a 6%, mas o número é estimado porque muitas empresas do setor ainda não testaram. 

“Nós estamos apelando para que o governo nos escute, protele nossa data-base, garantindo a data-base dos trabalhadores e garantindo a ultra-atividade [benefícios] dos acordos coletivos até o final da pandemia. É algo coerente, não é algo do outro mundo, nós estamos pedindo prudência e coerência e cautela por parte do governo”, expressa o dirigente.

A data-base é o período do ano destinado à correção salarial e revisão das condições de trabalho especificadas por acordo, convenção ou dissídio coletivo de cada categoria profissional. No caso dos eletricitários o vencimento seria 1 de junho, o sindicato estava em negociação até que houve um direcionamento por parte do governo de que as empresas, que cuidam do sistema elétrico do estado, deveriam revogar o diálogo, direitos do último acordo coletivo.

“Isso causou muita indignação por isso nós estávamos apelando ao governo através de ofícios para abertura de um diálogo até esse momento nenhuma resposta por parte do Palácio dos Bandeirantes”, declarou Chicão, que pontou ainda, “O que fala não se escreve, porque se ele [Dória] tivesse preocupado com o povo paulista, ele estaria preocupado com os trabalhadores que estão embaixo da sua gestão, trabalhadores das empresas estatais.”

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O Sindicato dos Trabalhadores do Saneamento e Meio Ambiente (Sintaema) representa a categoria de diversas empresas do estado, entre as principais, Sabesp, Cetesb e Fundação Florestal, conseguiu a prolongação do acordo coletivo por três meses com a companhia de água, mas as demais ainda não houve avanço.

Na categoria representada pelo Sintaema, cerca de 60 trabalhadores foram infectados pelo vírus e oito vieram a óbito em decorrência da doença. O presidente do sindicato, José Antônio Fagian, ressalta que é fundamental que a população entenda a importância dos serviços essenciais eletricidade, transporte, saneamento e meio ambiente, visto que eles estão interligados e ajudam diretamente no combate da pandemia do novo coronavírus.

“É fundamental ter o apoio popular nesse momento, que a população entenda que é fundamental que se tenha eletricidade que o hospital possa funcionar, que você tenha o transporte para que os trabalhadores consigam chegar ao seu trabalho e que os trabalhadores da Sabesp tenham tranquilidade, tanto pra fazer o trabalho que têm feito na desinfecção das ruas, como também tratar e distribuir água”, pontua Fagian.

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Greve?

A mobilização dos trabalhadores essenciais não teve retorno do governo de São Paulo até o fechamento desta reportagem, apenas o Sindicato dos Metroviários de São Paulo deve se reunir com o Secretário Estadual de Transportes e com o presidente do Metrô de São Paulo na próxima sexta-feira (12). Os representantes das categorias devem se reunir novamente nós próximos dias para avaliar se haverá uma paralisação pontual das categorias.

“Se eles não abrirem negociação nos resta só judicialização e protesto e é tudo que nós não queremos fazer nesse momento. Imagina pegar essas categorias e fazer greve, água, energia, metrô, nesse momento é tudo o que a gente não quer", assinala CHicão.

"Nós estamos solidários a população paulista, nós não queremos chamar os trabalhadores para uma paralisação nesse momento que o povo está tão sofrido, mas estamos sendo forçado pelos nossos governantes a fazer isso, porque nós não podemos abandonar nosso papel de sindicalista de lutar pela classe trabalhadora”, completa.

O Brasil de Fato chegou a entrar em contato com a assessoria de imprensa do governo de São Paulo, mas até o fechamento da reportagem não obteve retorno. 

Edição: Rodrigo Chagas