A pandemia de coronavírus tem imposto a todos nós grandes desafios, um dos principais é a velocidade com que tivemos de processar grandes mudanças em nossos costumes. Talvez, cobrir o rosto com máscara seja o novo hábito mais evidente nesse cenário de transformações, mas outros aspectos da vida mudaram para além do visual.
É o caso da nossa relação com o tempo. Se antes gastávamos mais minutos fora de casa, agora a situação se inverteu. No momento atual, até a ida ao trabalho se modificou, estamos exercendo nossas atividades laborais quase que completamente por via remota, com ressalva para os serviços indispensáveis. Também não existem tantas opções de lazer: shoppings, bares, parques, praias se encontram fechados. Nos restou como principal lugar seguro o lar.
Contudo, quem diria que seria tão difícil permanecer em casa. O fato é que, não só ficamos restritos a nossas habitações, como também estamos isolados, obrigados a conviver no aspecto físico, com um núcleo pequeno de pessoas, geralmente a família. Outro ponto importante, é que passamos a ter períodos mais longos de reflexão interpessoal. Essas mudanças repentinas, aliadas à insegurança causada pela pandemia, tornou a manutenção da saúde mental um desafio. A revista inglesa especializada em saúde mental Lancet Psychiatry, alerta para o risco de juntamente com a pandemia de coronavírus, desenvolvermos uma epidemia de problemas psíquicos.
Vários especialistas sinalizam que nos últimos meses temos aumentado os níveis de ansiedade, insegurança e tristeza.
Nessas circunstâncias, o atendimento psicológico e psiquiátrico se torna cada vez mais essencial, alguns consultórios inclusive disponibilizaram apoio online para seus pacientes. No entanto, em um país tão desigual como o Brasil não são todos que possuem acesso a esses serviços de saúde. Na rede pública o atendimento é precário e faltam profissionais. Já na rede privada, os planos de saúde costumam cobrir poucas sessões com profissionais de psicologia e psiquiatria.
O custo também é caro, em média R$ 100 a consulta, o que pode gerar gastos de mais de R$ 400 ao mês por pessoa. Esses preços acabam inviabilizando o acesso aos tratamentos de saúde mental da parte mais pobre da população, justamente a que mais necessita de atendimento.
Outro problema grave, é que a quantidade de mão de obra qualificada de que dispomos é insuficiente. Para se ter uma ideia, os Estados Unidos possuem cinco vezes mais psiquiatras e psicólogos que o Brasil, já na Europa o número de profissionais é 10 vezes maior. Essa situação acaba inviabilizando políticas públicas que ambicionem universalizar o serviço de atenção à saúde mental pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse caso, é necessário aumentar as vagas nas universidades, especificamente para os cursos da área, também é preciso colocar em prática uma triagem mais eficiente que tenha como objetivo sanar os casos de menor gravidade em um tempo relativamente mais curto, para assim diminuir as filas de atendimento no sistema público.
Enquanto essas medidas não são adotadas, por hora seguir dicas como: diminuir a frequência das redes sociais e o excesso de notícias, procurar novos hobbies, fazer atividades físicas, estabelecer uma rotina diária, tentar manter o sono regularmente e se aproximar de quem você ama, pode fazer a diferença quando se trata de preservar a mente em tempos de pandemia. Pois como diz o ditado popular, não há corpo sadio sem uma mente sã.
*Luciana Novaes é vereadora do Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Edição: Mariana Pitasse