BALANÇO

O que se sabe sobre a invasão paramilitar na Venezuela depois de um mês?

Até o momento, 78 pessoas foram detidas; governo venezuelano denuncia novos planos golpistas

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
A maioria dos detidos são militares desertores venezuelanos - VTV

Nesta semana, completa-se um mês da tentativa de invasão paramilitar às costas marítimas venezuelanas. A chamada Operação Gedeón foi interrompida pela Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) com ajuda da população, que também saiu em defesa do território venezuelano. O plano golpista envolve o deputado Juan Guaidó – conhecido por ter se autoproclamado presidente do país –, uma empresa militar privada estadunidense, narcotraficantes colombianos e até mesmo o governo brasileiro, que pode ter tido relação com o episódio.

Na madrugada do dia 3 de maio, uma lancha com uma dezena de homens armados com dez fuzis, duas metralhadores e uma pistola tentou aportar na praia de Macuto, que fica na costa do estado de La Guaira, cerca de 50 km da capital Caracas. Segundo o GPS da própria embarcação, a viagem começou na Colômbia.

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Algumas horas depois, a mesma situação aconteceu na ilha de Chuao, no estado de Aragua. Nesse momento, oito homens foram detidos em flagrante, incluindo dois ex-militares estadunidenses, Airan Seth Berry e Luke Alexander Denmam, ambos residentes no estado do Texas e contratados pela empresa paramilitar Silvercorp. 

Enquanto esses grupos atacariam pelo mar, outros contingentes estavam preparados para atacar por terra. Todo o operativo paramilitar foi detalhado em um contrato assinado por Juan Guaidó, seus assessores políticos e Jordan Goudreau, veterano da Guerra do Iraque e CEO da empresa militar Silvercorp, que confirmou a coautoria na operação.

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Conforme as investigações foram avançando, gradativamente a inteligência militar e o Estado venezuelano divulgaram novas evidências que ajudavam a entender a relação entre a oposição venezuelana, agentes estadunidenses e líderes do tráfico de drogas colombiano.

Até o momento, 78 pessoas foram presas, 67 são militares da FANB, além dos cidadãos estadunidenses e figuras conhecidas entre o meio opositor, como Jorsnars Baduel, filho de um ex-ministro de Defesa; e Antonia Sequea, quem havia comandado a tentativa de golpe do dia 30 de abril de 2019, ao lado de Guaidó e de Leopoldo López – líderes do partido opositor Voluntad Popular.

O Ministério Público (MP) já denunciou 22 pessoas por crimes de  terrorismo, associação e financiamento ao terrorismo, conspiração com governo estrangeiro, traição à pátria, rebelião e tráfico ilícito de armas de guerra. Os dois estrangeiros foram acusados de terrorismo, conspiração, associação criminosa e tráfico ilícito de armas de guerra. Todos serão julgados pela Justiça venezuelana.

Entre os detidos, 20 pessoas fizeram acordo de delação premiada com as autoridades venezuelanas para comprovar evidências, assumir os crimes e detalhar o plano.

O MP também cobrou um pronunciamento do secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antônio Guterres, e da Alta Comissária para a Paz, Michelle Bachelet, sobre a relação dos governos colombiano e estadunidense na tentativa golpista.


Jordan Goudreau (centro) foi condecorado por seu desempenho nas guerras do Iraque e do Afeganistão, agora coopera nos planos golpistas da oposição venezuelana / Reprodução

Militares reconhecidos

O plano de contenção da intentona golpista se chamou "Operação Nego Primeiro". Pelo sucesso do operativo, o presidente Nicolás Maduro condecorou militares da Fanb, do Departamento de Contrainteligência Militar (Dgcim), da Polícia Nacional Bolivariana (GNB) e da Milícia Bolivariana, na noite da última quarta-feira (3).


Maduro, que também é o comandante-chefe das Forças Armadas da Venezuela, entregou três tipos de condecorações aos militares / Últimas Noticias

Na mesma atividade, o chefe de Estado venezuelano denunciou a investigação de novos acampamentos em território colombiano, com treinamento de paramilitares para participar de planos de desestabilização contra a Venezuela. 

"Tenho informações comprovadas que Iván Duque [presidente da Colômbia] supervisiona os chefes militares de acampamentos de grupos mercenários em Medellín, Antioquia, Norte de Santander, reagrupados para novas incursões armadas contra a Venezuela", afirmou Maduro.

:: As relações entre a oposição venezuelana e paramilitares colombianos ::

Guaidó refugiado

O chanceler venezuelano Jorge Arreaza denunciou que o deputado Juan Guaidó está hospedado na embaixada da França sediada em Caracas. A mudança seria uma forma de conseguir imunidade judicial, logo depois que seu partido, Voluntad Popular, foi denunciado pelo procurador-geral da República como uma organização terrorista.

Desde o fracasso da Operação Gedeón, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), Diosdado Cabello, já havia afirmado que Guaidó teria negociado a estadia em uma embaixada estrangeira. 

O governo francês nega a informação e Guaidó ainda não se pronunciou. 

Segundo a Convenção de Viena da Organização das Nações Unidas (ONU), o recinto diplomático corresponde ao território do país representado pela embaixada ou consulado. 

Outro opositor do governo de Nicolás Maduro, Leopoldo López, que é fundador do Voluntad Popular, também já havia recorrido a essa proteção, depois de ter fugido da sua prisão domiciliar para coordenar a tentativa de golpe do dia 30 de abril. Desde essa data, López vive como convidado especial na Embaixada da Espanha.

"É uma vergonha para a diplomacia da Espanha e da França. Eles vão sentir as consequências disso, logo logo", sentenciou Arreaza.

Edição: Vivian Fernandes