As manifestações do último domingo (31) mexeram com a política nacional. Nas redes sociais e no Congresso Nacional, houve debates sobre os atos que antagonizaram na avenida Paulista, região central da cidade de São Paulo, manifestantes antifascistas e militantes a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defendem pautas como o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e uma intervenção militar no país.
Para Chico Malfitani, um dos fundadores da Gaviões da Fiel, torcida organizada ligada ao Corinthians e que integrou o ato ao lado de outras agremiações, o momento é de organizar manifestações. “Achei que chegou o momento de ir pra rua, é hora de falar alguma coisa. Ficar sentado em casa, no sofá, vendo o avanço do autoritarismo, da volta à ditadura e esse governo que não nos dá uma diretriz econômica ou sanitária, é um absurdo", opina.
O Brasil não é o único país a registrar protestos contra o governo durante a pandemia. No mês de abril, em Israel, manifestantes protestaram contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com máscaras de proteção e respeitando o distanciamento social defendido pelas autoridades em saúde como fundamental para conter a disseminação do novo coronavírus.
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O fundador da Gaviões diz que ficou surpreso com a repercussão alcançada pela mobilização do último dia 31. Mas, para ele, continuidade das manifestações e suas dinâmicas não devem ser de responsabilidade das torcidas organizadas.
“A gente riscou um fósforo, e a sociedade em geral tem que resolver o que vai fazer. O presidente da Gaviões sabe que não pode falar em nome da entidade, mas estava lá no domingo. Nós somos gaviões e lutamos por democracia, isso ninguém vai impedir. Nós defendemos a democracia e a liberdade, para o sujeito ser de esquerda ou de direita”, explica.
Diante reverberação da proposta dos antifascistas, outros atos foram chamados para este domingo domingo (7), não apenas em São Paulo. Na capital paulista, uma manifestação em defesa da democracia seria realizada na Avenida Paulista, mas mudou de local após decisão da justiça estadual que proibiu a realização de atos contra e favor de Bolsonaro no mesmo lugar e horário.
Apesar de não convocar as manifestações, os torcedores organizados devem seguir nas ruas. “Vamos continuar indo, falo por mim, falo por vários torcedores da Gaviões, que certamente continuarão indo. Não para representar a Gaviões, mas o povo brasileiro. Tinha gente da Independente [do São Paulo], da Mancha Verde [do Palmeiras]. Demos uma lição de como é possível separar nossas diferenças, somos adversário de campo, mas não somos inimigos mortais. Nosso inimigo é quem quer acabar com a democracia brasileira", enfatiza Malfitani.
No decorrer da última semana, lideranças de direita acusaram os manifestantes antifascistas de serem violentos. Malfitani, no entanto, refuta a possibilidade do uso de força nas ruas para repreender atos considerados fascistas, com bandeiras que aludem ao nazismo ou movimentos autoritários.
“Nós precisamos ocupar as ruas e deixar eles do outro lado, não precisamos nem chegar perto. Não é para ir para o confronto. Até porque, se tivesse confronto, seria um massacre. Essa não é a ideia, só fomos para mostrar que somos a maioria”, encerra Malfitani.
Edição: Geisa Marques