O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), não tem o número de votos para conseguir arquivar um processo de impeachment na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Segundo levantamento feito pelo deputado Luiz Paulo (PSDB), autor de um dos pedidos de impedimento, Witzel reagiu tardiamente e não tem 35 votos necessários entre os 70 deputados.
Na sessão da última segunda-feira (2), os deputados da Alerj derrubaram 17 dos 18 vetos de Witzel a projetos de lei aprovados na Casa Legislativa. O Palácio Guanabara entendeu como um sinal e o governador exonerou, na manhã do dia seguinte, o secretário de desenvolvimento econômico, Lucas Tristão, que vinha criando atritos com a Alerj.
“Se Witzel tinha 12 votos antes de exonerar o Tristão, agora ele tem uma dúzia e meia de votos de apoio. Não adianta mais. Antes mesmos das operações da Polícia Federal e as denúncias de escândalos no governo, o presidente da Casa [deputado André Ceciliano] presenciou ele [Tristão] dizendo que tinha um dossiê contra os 70 deputados da Alerj”, comentou Luiz Paulo ao Brasil de Fato.
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Visto como “uma verdadeira usina de problemas”, Tristão desgastou a relação do Executivo com o Legislativo, afirma o deputado Waldeck Carneiro (PT). O parlamentar também citou a ameaça do ex-secretário com os dossiês e a saída do deputado Marcio Pacheco (PSC) da liderança do governo na Alerj.
“Infelizmente, talvez seja uma decisão tardia. Sem base organizada na Alerj e ainda sem líder de governo no parlamento, Witzel tende a ter muita dificuldade para estruturar uma base política e social de apoio a seu governo, que hoje está muito fragilizado”, opinou o parlamentar.
Demissão
Na sexta-feira passada (29), ao anunciar que deixaria a liderança do governo, o deputado Marcio Pacheco (PSC) disse que teve uma conversa “cordial e republicana” com Witzel, mas ressaltou que seu desligamento teve relação com “diante dos últimos acontecimentos (...) e mudanças na estrutura do governo e de um possível fechamento ao diálogo com o Poder Legislativo”.
A deputada estadual Mônica Francisco (Psol) defendeu que a insustentabilidade de Witzel como governador ficou evidente desde seus primeiros meses no Palácio Guanabara e já na campanha eleitoral, quando o chefe do Executivo deu declarações polêmicas que infringiam direitos humanos. Ela lembra da declaração do Witzel de que sua polícia iria “mirar na cabecinha e... fogo”.
“É um momento dramático para o Rio de Janeiro, com denúncias alardeadas pelo Ministério Público e pela imprensa na área da saúde, em plena pandemia da covid-19 e com o problema atingindo a população mais vulnerável do estado. Mas esse governo começou insustentável com a violação de preceitos fundamentais dos direitos humanos”, afirmou a parlamentar.
Salvo conduto
Na noite desta terça-feira (3), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou um pedido de salvo conduto preventivo caso haja um pedido de prisão do governador do Rio. Em nota, a assessoria do governo do estado disse desconhecer a ação e o advogado que a impetrou no STJ.
Na semana passada, a residência de Witzel no Grajaú, zona Norte do Rio, onde ele vivia antes de assumir o cargo, e o Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, foram alvos de busca e apreensão em operação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) que investiga desvios de recursos públicos na compra de equipamentos de combate à covid-19.
Na ocasião, Witzel, aliado no passado e hoje desafeto político do governo federal, disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já estava dando demonstração de sua intervenção na PF do Rio de Janeiro, após o ministro da Justiça Sergio Moro pedir demissão do cargo por divergências com o Planalto.
Na tarde desta terça-feira (3), Bolsonaro voltou a provocar o governador do Rio. Na saída do Palácio da Alvorada, em Brasília, um apoiador pediu medidas para o Rio de Janeiro. O presidente respondeu que não vai conversar com Witzel, “até porque, brevemente, já sabe onde ele deve estar, né?”.
Edição: Mariana Pitasse