TERRA E AGROECOLOGIA

Pandemia expõe problemas da sociedade que reforma agrária deu soluções há décadas

Precisamos, mais do que nunca, voltar a falar sobre Reforma Agrária

Ouça o áudio:

Equipe do MST de Ribeirão Preto (SP) carregando o caminhão com alimentos de doação - Foto: Divulgação/MST
Precisamos, mais do que nunca, voltar a falar sobre Reforma Agrária

É impossível olhar a pandemia do novo coronavírus apenas pela ótica da saúde. Especialistas afirmam que o vírus está escancarando diversas crises já existentes pelo mundo. O debate sobre problemas como a fome e a destruição do meio ambiente ganharam novos capítulos na nossa história.

No caso do Brasil, a situação talvez seja o grande destaque negativo. A covid segue crescendo e causando muitas mortes enquanto as políticas públicas para combater a doença parecem cada vez mais distantes de solucionar o problema.

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Uma delas é a renda emergencial, que custa a chegar em toda população que precisa. Um dos motivos mais relatados pelas pessoas é a falta de acesso à tecnologia como celular e internet. Coisas que parecem básicas pros dias de hoje mas a covid-19 revelou que ainda são artigo de luxo no Brasil.

E, enquanto a crise sanitária e econômica agoniza o país, a floresta amazônica segue batendo recordes de desmatamento. Os números do primeiro trimestre deste ano são 30% maiores que do mesmo período do ano passado, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais).

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Apesar dos problemas ficaram ainda mais evidentes no cenário atual, algumas respostas para essa situação de fome e preservação da natureza são bem mais antigas. Uma delas se chama Reforma Agrária Popular, defendida pelo MST desde a década de 1990. A proposta está baseada no direito à terra e na produção agroecológica.


Menino diante da doações de alimentos realizado pelo MST de Ribeirão Preto / Divulgação/MST

Porém, o desafio para a plena Reforma Agrária Popular adentra a história de um país que ainda sente bastante a distribuição injusta de terras desde a colonização. Os séculos se passaram, mas para se ter uma ideia, 1% dos proprietários de terras no país controlam quase metade das terras brasileiras, isso de acordo com o censo agropecuário, de 2017. 

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Caetano de Carli é militante do MST e professor da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE). Caetano contextualiza a questão agrária na contemporaneidade.   

“Hoje estamos em um estágio da questão agrária de inserção muito forte do capital financeiro no setor agropecuário, que a gente chama também de agronegócio. Então temos multinacionais que representam esse capital transnacional que está se apoderando de todos os anos da produção agropecuária, do beneficiamento e da comercialização”, explica.

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Caetano lista que essas multinacionais estão controlando o mercado das sementes transgênicas, agrotóxicos, maquinário agrícola, beneficiamento de alimentos e redes de supermercados. Algumas consequências desse modelo de agronegócio apontadas pelo professor são justamente os aumentos no desmatamento, desempregos rural  e contaminação por agrotóxicos.

Com a Reforma Agrária Popular, além da distribuição justa de terras no país, incluímos questões como produção mais diversificada de alimentos e soberania e segurança alimentar para a população brasileira.

Caetano de Carli tem um canal no youtube para ajudar a popularizar os conhecimentos sobre a reforma agrária

Com as crises causadas pela covid-19, vários assentamentos MST reforçaram os gesto de  solidariedade na luta contra a fome entre quem mais precisa. A Campanha Mãos Solidárias, em Pernambuco, é um dos exemplos ao oferecer alimentos, água e condições para banho entre a população em situação de rua da cidade do Recife. Passado o momento de pandemia, Caetano de Carli lembra que precisamos voltar a discutir um modelo de país, com mais esse capítulo da covid-19.

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“Temos que entender que a nova sociedade que vamos construir pós-pandemia de Covid-19 deve ser, acima de tudo, uma sociedade mais justa e sustentável. Então precisamos, mais do que nunca, voltar a falar sobre Reforma Agrária, e desse modelo que o MST traz que é a Reforma Agrária Popular, que agrega a Reforma Agrária à Agroecologia”, ressalta.  

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Uma das formas de colaborar com a Reforma Agrária Popular no Brasil é consumir os produtos comercializados nas unidades do Armazém do Campo, hoje presente nas cidades de Belo Horizonte, Caruaru, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e São Luís.

Edição: Lucas Weber