Rio de Janeiro

Surpresa

Conheça os 10 pontos controversos do PL das "fake news" que será votado pelo Senado

Projeto ameaça direitos como a privacidade e a liberdade de expressão; votação seria nesta terça (2) mas foi adiada

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O texto final do PL 2.630, que não foi debatido com a sociedade, ficou desconhecido até a manhã desta terça-feira (2) - Reprodução

Nesta terça-feira (2), os senadores votariam um projeto de lei elaborado como contrário às fake news mas com pontos bastante controversos, que ameaçam direitos essenciais como a privacidade e a liberdade de expressão. O texto final do PL 2630, que não foi debatido com a sociedade, ficou desconhecido até a manhã desta terça-feira (2), poucas horas antes da votação. Após pressão popular sobre diversos parlamentares, a votação foi adiada, mas continua tramitando com urgência.

O pedido de retirada da pauta do dia foi feito pelo próprio autor do projeto, o senador Alessandro Vieira (Cidadania). Após o adiamento, ele declarou que "reitera a urgência de que seja apreciado e votado pelo Senado, mas com necessária e construtiva colaboração dos colegas".

::Relator de PL das "fake news" apresenta texto surpresa; veja os principais pontos::

O projeto está sendo chamado de “PL Black Mirror pelo caráter de controle e criminalização que pode exercer, se aprovado. Um dos pontos de relação direta com a série de TV é que pretende criar um "sistema de pontuação" do comportamento dos usuários. Mas essa é só a ponta do iceberg das propostas problemáticas do projeto. Para entender melhor, confira os 10 pontos elaborados pela Coalizão Direitos na Rede que explicam os maiores problemas do texto:

1. Liberdade de expressão em alto risco

O projeto tem efeito bombástico na liberdade de expressão da internet no Brasil, estabelecendo que com a mera entrada com processo judicial a rede social tenha que remover o conteúdo questionado na Justiça para que não seja responsabilizada caso ele seja julgado ilegal (art. 53). 

2. Redes sociais só com comprovante de residência 

O texto burocratiza ao máximo o acesso às redes sociais, tratando todos os usuários como potenciais criminosos. Para controlar o acesso, todos os usuários deverão enviar todos os seus documentos para ter uma conta em rede social e em outros serviços online (art. 7).

3. Debate atropelado: projeto nunca foi discutido 

Senadores votarão um projeto cujo conteúdo foi divulgado há poucas horas, sem que os parlamentares e a sociedade possam avaliar e discutir suas propostas. Em um processo totalmente antidemocrático, além de violar vários direitos o texto possui inúmeras problemas técnicos. É necessário tempo para garantir um mínimo debate com a sociedade.

::Opinião | Por que discutir a proteção de dados pessoais durante a pandemia?::

4. Privacidade violada

Na linha de tratar todos os usuários de internet como potenciais criminosos, delegados e promotores terão acesso livre aos cadastros (agora documentados) de usuários de internet sem qualquer crivo judicial (art. 12).

5. Bloqueio geral das redes sociais e apps de mensagem

Com mais de 50 artigos, o projeto cria inúmeras hipóteses que podem ensejar bloqueio dos provedores redes sociais, abrindo espaço para enorme insegurança e incerteza para quem trabalha dependendo da internet. Bloqueios como os que vimos, do Whatsapp, vão se multiplicar em todas as redes (art. 40 e restantes).

6. Legalização do “Ministério da Verdade”

O texto legitima as redes sociais como “Ministério da Verdade”, legalizando seus termos de uso para derrubar qualquer tipo de postagem que desejarem (Art. 9). O relatório ainda dá o poder para as plataformas de definir quais são os casos excepcionais e quais outros vão exigir uma defesa prévia para remoção de conteúdo (art. 10, caput e § 5º).

7. Black Mirror da vida real

O texto cria um sistema em que pessoas darão notas às outras e isso gerará prejuízos a quem for “mal classificado” (art. 14 e 15). Os critérios de classificação serão definidos pelas plataformas, abrindo espaço para todo tipo de abusos.

8. Legalização de assédio e ataques

O PL legaliza as práticas de assédio e ataques na Internet pelo sistema de notas e ao prever que a pessoa será rotulada por qualquer denúncia que receber, mesmo as infundadas e antes da análise do mérito (art. 11). Quem tiver pontuação baixa não conseguirá ter seu conteúdo acessado e poderá inclusive perder a conta.

9. Criminalização de quem compartilha notícias falsas

O relatório pode jogar na cadeia por três a seis anos pessoas que repassaram conteúdos sem saber se são falsos (art. 47). Uma medida desproporcional e condenada por todas as relatorias internacionais de Direitos Humanos. Hoje, 59% das pessoas têm acesso à internet só pelo celular e muitas vezes não podem sequer checar conteúdos por não terem acesso a outros sites além do Whatsapp para checar as informações que recebem. 

10. Ativismo e jornalismo em risco

Sem delimitar o que é “desinformação” ou “conteúdo manipulado”, a lei usa esses termos no novo enquadramento de organização criminosa e lavagem de dinheiro, abrindo enorme espaço de criminalização de qualquer ativismo, movimento social e jornalismo (art. 49 e 50).

*Matéria atualizada 02/06/2020, às 15h05.

Edição: Eduardo Miranda