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Profissionais de saúde no olho do furacão

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Centenas de médicos e enfermeiros já morreram no Brasil, vítimas de covid-19 - Hussein Faleh/AFP
O Brasil já aparece como o país com mais mortes de enfermeiros por Covid-19 no mundo

Vez por outra os profissionais de saúde são retratados na mídia como heróis. Eu tendo a discordar de opiniões assim. Aliás, nunca gostei deste olhar sobre a medicina como um dom ou ato de heroísmo. A medicina e as demais áreas da saúde são profissões importantes como várias outras, nem mais, nem menos especiais. E, assim como qualquer outra profissão que lida diretamente com pessoas, não é possível trabalhar de forma segura sem as condições adequadas. Este é um debate ainda mais importante em um momento de pandemia como o atual.

É neste contexto que se faz necessário apontar o risco aos quais estão submetidos os profissionais que atuam na linha de frente nos serviços de saúde. Inclusive, o Brasil já aparece como o país com mais mortes de enfermeiros por Covid-19 no mundo! Até esta quarta-feira, dia 27 de maio, já eram 157 mortes. Este número já ultrapassa os Estados Unidos, com 146 óbitos, e o Reino Unido, com 77 mortes de profissionais de enfermagem. Na medicina, os números não ficam para trás. Até esta mesma data, já são 126 mortes de médicos em nosso país. Fora as mortes que ainda aguardam exames confirmatórios.

Com o aumento descontrolado de casos e mortes em nosso país, é claro que seria esperado também o aumento das mortes de profissionais de saúde. Mas, é preciso evidenciar que a falta de condições de trabalho, como a disponibilidade adequada de Equipamentos de Proteção Individual, podem representar um risco a mais para o trabalhador que está no dia-a-dia do combate à pandemia. 

Fiz uma rápida pesquisa aos sites do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e do Conselho Federal de Medicina (CFM). Se, no primeiro, vi referências às mortes e campanhas em defesa dos seus profissionais, senti vergonha ao ler o site do Conselho de Medicina e não observar nenhuma referência a estas dezenas de profissionais que já morreram. A concluir pelas notícias do site, a preocupação maior do CFM hoje parece ser a de impedir iniciativas, como a do Consórcio Nordeste, que pretende trazer médicos para áreas de vazio assistencial.

É preciso que profissionais de saúde possuam amplo respaldo de suas categorias e da sociedade para garantir as melhores condições de trabalho. Afinal, cada desfalque representa um profissional a menos ajudando as pessoas diariamente. Garantir condições adequadas é garantir as condições para que mais pessoas possam ser salvas neste momento tão triste de nossa história.

Edição: Marcos Barbosa