São 67 milhões de pessoas em idade ativa que estão fora do mercado de trabalho
Ainda que o governo Bolsonaro e sua equipe econômica tenham insistido na dicotomia falaciosa vida x empregos, o que o Brasil estampa nesses últimos dias de maio são recordes batidos recorrentemente no número de infectados e de mortos, e uma escalada da deterioração da economia, especialmente com relação aos efeitos da crise no mercado de trabalho.
No dia 27 de maio o governo lançou – de forma atrasada e ainda pairando dúvidas sobre a metodologia – os dados do (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) Caged.
Os dados são alarmantes e deveriam acender a luz vermelha no Palácio do Planalto. Foram 840 mil empregos perdidos apenas no mês de abril. O incremento das demissões perfazem o percentual de 17,2%, enquanto as admissões tiveram queda ainda mais expressa, de 56,5% em comparação com abril de 2019.
Prontamente o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia adiantou a narrativa: “É um número duro, que reflete a realidade da pandemia que vivemos, mas que traz algo positivo. Demostra que o Brasil está conseguindo preservar emprego e renda. No entanto, pelos mesmos motivos da pandemia, não estamos conseguido manter a contratação que mantínhamos outrora”.
Em primeiro lugar, a constatação do secretário parece ter um erro latente de concordância. Em segundo lugar os dados do próprio Ministério da Economia e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que o Brasil parece não estar conseguindo fazer é, justamente, preservar o emprego e a renda.
Segundo os dados da PNAD – que ainda estão subestimados, já que a pesquisa não computou o mês de abril – não somente o desemprego já demonstrou o crescimento de aproximadamente 1 ponto percentual, mas, também, houve aprofundamento na queda da renda média do trabalho e aumento substancial de trabalhadores fora da força de trabalho.
São 67 milhões de pessoas em idade ativa que estão fora do mercado de trabalho, grande parte delas por desistência de procurar emprego, o chamado desemprego por desalento.
Se ampliarmos o conceito de desemprego para além daqueles que, efetivamente, procuraram emprego nos 30 dias anteriores à pesquisa, mas não encontraram, teremos um retrato mais fiel do abismo em que se encontra parte substancial da classe trabalhadora brasileira.
Assim, se adicionarmos os trabalhadores que são sub-ocupados, aqueles que trabalham menos de 40 horas semanais e, juntamente com esses, os desempregados por desalento, o Brasil chega à marca de 25% de subutilização da força da trabalho.
Esses números alarmantes revelam, não somente o colapso do tecido social brasileiro, mas indicam limites ao próprio crescimento econômico brasileiro, por falta da variável “demanda por consumo” que é dirimida em um cenário de alto desemprego e queda da renda média, mas, sobretudo, indica que estamos subutilizando o “fator de produção” mais importante numa economia que é a força de trabalho.
A única “mercadoria” do capitalismo capaz de criar mais valor do que ela própria vale.
Mas, em terceiro lugar – ainda em alusão à fala desmensurada do secretário – a pandemia da covid-19 apenas alargou e acelerou o ritmo da crise brasileira. A tal recuperação econômica da qual o Brasil era signatário na era Paulo Guedes, inexistia.
Os indicadores de 2019 apontavam para um baixo e/ou estagnado crescimento econômico, persistência de elevado desemprego e queda vertiginosa da formação bruta de capital fixo, o melhor indicador que demonstra nossas reais possibilidades de crescer no futuro, através da expansão da capacidade produtiva.
Os próprios dados do Caged demonstram que a queda na admissão e o aumento das demissões são anteriores à crise do coronavírus, assim como a estagnação da renda média.
E o emprego, hein? Poderia ser uma insígnia substitutiva para aqueles que insistem em olhar pra trás. Diante desse quadro de descalabro, não ouvimos um “pio” do alto escalão do governo.
Diferentemente de outros países – mesmos os maiores bastiões do neoliberalismo do nosso tempo, como EUA, Reino Unido e Chile – que promoveram políticas substanciais de incremento da renda e preservação dos empregos, com medidas de ajuda econômica aos desempregados e informais, e também às pequenas e médias empresas, com a contrapartida de frearem as demissões.
Edição: Leandro Melito