Cerca de 8 milhões de brasileiros estão a mais de quatro horas de distância de um atendimento de saúde adequado para casos graves de covid-19. Os dados são de levantamento do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz). Segundo o estudo, Amazonas, Pará e Mato Grosso são os estados com pior situação, exigindo que pelo menos 20% da população faça grandes deslocamentos para ter atendimento em cidades que tenham Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), por exemplo.
Outras regiões em que a população necessita fazer longos deslocamentos para ter atendimento para casos graves são o interior do Nordeste, o norte de Minas Gerais e o sul do Piauí e do Maranhão. A análise da equipe do Icict/Fiocruz cruzou as informações de hospitalização por problemas respiratórios (entre os quais a covid-19) do banco de dados do Ministério da Saúde, com os deslocamentos e as distâncias potencialmente percorridas pela população, em meio à pandemia.
Os pesquisadores constataram também que a pandemia está se alastrando com rapidez pelo interior. Em apenas uma semana (de 9 a 16 de maio), seis cidades médias (entre 20 mil e 50 mil habitantes) registravam pela primeira vez uma vítima de covid-19 por dia. Entre municípios menores, cinco cidades registraram óbitos pela covid-19 por dia, na mesma semana. Até 16 de maio, 60% dos municípios brasileiros registravam casos da doença e 21%, mortes. Nos municípios com população acima de 50 mil habitantes, 98% apresentavam casos e 58% tinham registro de mortos.
“Um dos grandes problemas para a rede de saúde brasileira é a acessibilidade geográfica. O Brasil possui dimensões continentais e, por isso, algumas regiões mais remotas impõem à sua população o deslocamento de enormes distâncias para busca de atendimento. É evidente que nem todos os municípios do país devem ter um centro de tratamento intensivo, mas é necessário definir serviços de referência e contrarreferência no atendimento à saúde, evitando vazios de atendimento, bem como deslocamentos longos, que podem afetar o estado de saúde do indivíduo”, defende a equipe da Fiocruz.