Relaxamento

Artigo | Plano SP de João Doria para reabertura: um risco absurdo

Considero um risco absurdo a reabertura, mesmo que parcial, de qualquer setor nesse momento; temo pelas nossas vidas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Mesmo com uma curva ascendente de novos casos em todo o estado, o governo do Estado de São Paulo anunciouum plano de relaxamento da quarentena - Valter Campanato / Agência Brasil

As regiões metropolitanas de Campinas e de São Paulo vêm enfrentando uma quantidade crescente de novos casos de covid-19 e de internações hospitalares pela doença nas últimas duas semanas. Nossos hospitais estão cheios. Nossas UTI's quase lotadas. Continuamos com sérios problemas na testagem e muita subnotificação

Mesmo com uma curva ascendente de novos casos em todo o estado, o governo do Estado de São Paulo anunciou nesta quarta-feira (27) um plano de relaxamento da quarentena. Classificou as regiões do estado em diferentes níveis de vigilância, com a possibilidade da reabertura imediata de vários setores em Campinas, na capital e em outras regiões do estado. 

:: Brasil se aproxima de 25 mil mortes e de 400 mil casos de covid-19 ::

A Organização Mundial da Saúde (OMS) é clara na definição dos critérios que podem permitir e orientar comunidades em processos de reabertura pós quarentena: 

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1. A transmissão da doença deve estar sob controle, com queda sustentada por um período razoável de tempo do número de novos casos.

2. O sistema de saúde deve ser capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos e de rastrear todos os contatos de casos positivos. 

3. O risco em lugares vulneráveis, como instituições de longa permanência, deve ser minimizado.

4. Escolas, ambientes de trabalho e outros serviços essenciais devem ter medidas preventivas bem estabelecidas. 

5. O risco de importação de novos casos deve estar sob controle.

6. As comunidades devem estar plenamente educadas, engajadas e fortalecidas pra poderem viver um novo padrão de normalidade, com a adoção rigorosa de medidas de proteção. 

Honestamente não vejo estas condições dadas. Considero um risco absurdo a reabertura, mesmo que parcial, de qualquer setor nesse momento. O sistema de saúde esta próximo aos seus limites e o razoável a ser feito hoje seria intensificar e fiscalizar rigorosamente a adesão ao isolamento, seguir fortalecendo nossa capacidade de testagem, rastreamento e ampliação de leitos. Ao mesmo tempo, medidas de apoio econômico e social deveriam ser muito melhor instituídas.  

Mas ao que tudo indica não é isso que vai acontecer. Temo imensamente pelas nossas vidas nesse momento.

*Pedro Tourinho é médico sanitarista, professor universitário, vereador e presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Campinas.

 

Edição: Leandro Melito