O ato online nacional nas redes sociais pelo sétimo dia da morte João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, reuniu a família do jovem assassinado na segunda-feira (18), no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, e diversos representantes de movimentos sociais e organizações que denunciam a violência do Estado nas favelas e nos corpos negros. Ao todo, 800 entidades participaram da mobilização organizada pela Coalizão Negra Por Direitos.
Neilson Costa Pinto, pai de João Pedro, abriu a manifestação virtual destacando a importância da luta por justiça. “É um momento que eu não desejo para ninguém, perder um filho é como perder a própria vida. O Estado é falido e sem responsabilidade nenhuma. Fazer o que fizeram com o meu filho e com outros filhos também, entrar no seu próprio lar e tirar a vida de um menino de 14 anos significa que o Estado é falido. E vamos lutar por justiça, é isso que esperamos, que a justiça venha a ser feita em nosso país”, destacou.
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A mobilização contou com a participação de parlamentares, pesquisadores, jornalistas, artistas, militantes e mães que perderam seus filhos para a violência do Estado. Ana Paula Oliveira, moradora da favela de Manguinhos, que perdeu o filho Jonathan Oliveira Lima, de 19 anos, assassinado por um policial da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, com um tiro nas costas em 2014, alertou para a banalização das execuções de jovens negros.
“Precisamos tirar as pessoas das suas zonas de conforto porque parece que assassinatos de jovens negros, moradores de favela são como se nada estivesse acontecendo. Isso já vem de muito tempo e quais são as políticas feitas para garantir a vida dos moradores de favelas? Não vemos políticas públicas para garantir o direito dos moradores de comunidades e, muito menos, a vida dessas pessoas”, afirmou.
Do luto à luta
O movimento lançou o “Manifesto Luto em luta por João Pedro e todas as pessoas negras vítimas da violência do Estado” que, até a noite desta terça-feira (26), contava com a assinatura de 766 organizações. No documento, as entidades participantes exigem respostas dos últimos crimes contra a vida cometidos em incursões policiais nas favelas e denunciam à organismos nacionais e internacionais as sucessivas violações de direitos cometida pelo Estado brasileiro.
“Denunciamos a ação internacionalmente, em pedido direcionado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos para que cobrem as devidas providências ao Estado brasileiro. Reivindicamos a identificação e responsabilização penal dos policiais envolvidos, além da criação de formas de controle para que essas ações não mais aconteçam”, aponta o documento.
O ato-denúncia do genocídio da população negra periférica contou ainda com a participação da jornalista Flavia Oliveira, da deputada federal Áurea Carolina (Psol-MG), da irmã de Marielle Franco, Anielle Franco, e da socióloga e ativista do movimento negro da Bahia, Vilma Reis, que alertou para a urgência da mudança da política de segurança pública brasileira.
“É sangue negro sendo derramado em todo o Brasil, não poupam as nossas vidas. Eles fazem a guerra deles, a guerra dos poderosos é paga com o nosso sangue. Nós nos levantamos para dizer: qualquer grupo que luta para chegar ao poder, a única possibilidade de diálogo com a gente é o fim da guerra às drogas, é desmilitarizar a polícia, parar as mortes e fim do encarceramento em massa”, ressaltou.
Edição: Mariana Pitasse