Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA

Mesmo após Witzel garantir suspensão de ações policiais, uma jovem foi baleada no Rio

Bianca Oliveira levou um tiro na cabeça dentro de casa na Cidade de Deus; estado de saúde da vítima é estável

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Em 7 dias, 4 jovens foram baleados em ações policiais; 3 morreram - Daniel Ramalho / AFP

Nesta segunda-feira (25), mais uma jovem foi baleada na favela da Cidade de Deus, na zona oeste do Rio de Janeiro. Bianca Regina Oliveira, de 22 anos, estava dormindo quando levantou para pegar o celular e foi alvejada por um tiro na cabeça. O caso ocorreu três dias depois da decisão do governador Wilson Witzel (PSC) de suspender operações nas comunidades do Rio durante a pandemia, ou pelos menos, evitar que sejam deflagradas junto com ações sociais nas favelas.

O conselheiro tutelar de Jacarepaguá, Jota Maques, postou no Twitter um vídeo com o marido da vítima. Segundo Junior, companheiro de Bianca, a jovem foi socorrida por moradores para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus. 

::Operação policial interrompe doação de cestas e deixa mais um jovem morto no Rio::

“Estava na sala dormindo nessa hora, começou a sair um  tiroteio. Ela levantou para pegar o telefone, mas caiu e eu falei para ela: ‘- amor, deita no chão, no chão! Ela foi baleada e quando eu fui ver era um buraco ela já cheia de sangue [aponta para a têmpora]. O morador subiu para socorrer, levamos ela pra UPA, graças a deus ela está fora de perigo, mas ela vai pro [Hospital] Lourenço Jorge”, relata no vídeo.

A Secretaria de Estado de Saúde informou que o estado de Bianca é estável e que ela será transferida para o Hospital Municipal Miguel Couto para uma nova avaliação pela neurocirurgia.

Já a Polícia Militar disse que agentes do 18ºBPM (Jacarepaguá) e do Comando de Policiamento Ambiental (CPAm) foram acionados para auxiliar uma ação do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) no Centro de Treinamento do Vasco da Gama, localizado próximo à comunidade. Segundo o órgão, disparos foram feitos no interior da favela, mas as equipes não revidaram e a ação que seria feita foi cancelada. A corporação nega que houve acionamento para socorrer possíveis feridos.

Bianca foi a quarta vítima baleada durante incursões policiais em comunidades na região metropolitana no Rio. Na segunda-feira (18), uma ação de agentes de segurança pública provocou a morte do estudante João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Na noite de quarta-feira (20), também na Cidade de Deus, João Vitor Gomes da Rocha, de 18 anos, foi atingido enquanto acontecia a entrega de 200 cestas básicas por voluntários do bairro, na localidade Pantanal. João Vitor não sobreviveu ao ferimento. Na quinta-feira (21), Rodrigo Cerqueira, de 19 anos, que trabalhava como ambulante no Morro da Providência, no centro do Rio, foi morto durante uma operação policial na região.

Mudança de protocolo

As mortes que ocorreram no Morro da Providência e na Cidade de Deus durante a entrega de cestas básicas mudaram o protocolo de operação das policiais do Rio. A alteração foi possível após a pressão de parlamentares e da sociedade civil organizada. O acordo foi selado entre o governo do estado e entidades e órgãos de direitos humanos na sexta-feira (22).

Segundo informação divulgada pelo Extra, o secretário da pasta já informou a todos os comandantes dos batalhões que eles estão proibidos de fazerem operações em favelas durante ações sociais. O jornal destaca que o coronel Rogério Figueiredo da Polícia Militar pediu que a PM acompanhe qualquer tipo de assistência social dentro de favelas. Para isso, ficou acordado com os líderes comunitários que eles precisam avisar aos batalhões, com antecedência, quando ocorrerão ações sociais. 

A mesma recomendação também foi feita para a Polícia Federal. O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao diretor-geral da Polícia Federal (PF), Rolando Alexandre de Souza, que a polícia faça operações apenas em situações de urgência. O pedido foi feito após a morte do adolescente João Pedro Mattos Pinto.

Edição: Jaqueline Deister