Estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que os recursos de saúde essenciais para o tratamento de pacientes da covid-19 no estado de Rio de Janeiro estão distribuídos de forma bastante desigual, com grande concentração na região da capital do estado. Em contrapartida, a região da Baía da Ilha Grande, que engloba os municípios de Angra dos Reis, Mangaratiba e Paraty, apresenta a maior carência de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), equipamentos e profissionais, proporcionalmente ao tamanho da população local.
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O levantamento foi feito pela equipe do Projeto Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde (Proadess), do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) da Fiocruz, com base na disponibilidade, em cada um dos 92 municípios fluminenses, de oito indicadores básicos tanto no Sistema Único de Saúde (SUS), quanto na rede de saúde privada: leitos de internação (clínicos e cirúrgicos); leitos de UTI; respiradores/ventiladores; tomógrafos computadorizados; médicos intensivistas; total de médicos; enfermeiros intensivistas; e total de enfermeiros.
Uma das principais conclusões do estudo é que a região compreendida pela capital e por municípios da Baixada Fluminense concentra pelo menos 45% de todos os recursos de saúde estaduais, chegando a responder por mais de 70% dos médicos e enfermeiros intensivistas trabalhando no SUS, marcadamente no município do Rio de Janeiro. Porém, quando se avalia a quantidade de recursos de saúde proporcionalmente à população, nem sempre os indicadores de Rio e Baixada são os melhores. Por exemplo, a região tem uma das menores quantidades de tomógrafos computadorizados do SUS em relação à população acima dos 20 anos de idade: apenas 1,12 para cada 100 mil habitantes, o segundo menor indicador regional, maior apenas que o da região que inclui Niterói, São Gonçalo e outros municípios do leste da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (1,09/100 mil habitantes).
Regiões sem enfermeiros intensivistas
Paralelamente, a análise constatou que na rede do SUS há áreas com grandes carências. É o caso da região de Angra dos Reis, Mangaratiba e Paraty, que tem número bem reduzido de leitos de UTI (apenas oito do total de 1.185 de todo o estado do Rio) e não conta com nenhum enfermeiro intensivista. Outras duas regiões, Serrana e Centro-Sul, também não têm enfermeiros intensivistas.
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Além disso, há também poucos médicos intensivistas no Noroeste e no Centro-Sul do estado, na Região dos Lagos e no Médio Paraíba. Respiradores/ventiladores também existem em números baixos (proporcionalmente à população) na área de Niterói e São Gonçalo e na Região dos Lagos. E tanto na capital e Baixada Fluminense quanto em Niterói/São Gonçalo o número de tomógrafos à disposição do SUS é pequeno para o tamanho de suas populações.
A base de dados utilizada na análise foi o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Datasus, e gerou a Nota Técnica “Distribuição geográfica dos recursos disponíveis para atenção à COVID-19 em Regiões de Saúde e municípios do Rio de Janeiro”.
A equipe do Proadess considerou para sua análise a distribuição dos 92 municípios do estado do Rio nas nove Regiões de Saúde (RS), que são definidas pela Secretaria Estadual de Saúde. A maior RS é a Metropolitana I, que engloba Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e outros nove municípios da Baixada Fluminense. A Metropolitana II compreende Niterói, São Gonçalo e mais cinco cidades a leste da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, Silva Jardim e Tanguá).
As demais Regiões de Saúde são denominadas de Baía da Ilha Grande (Angra, Paraty e Mangaratiba); Baixada Litorânea (Araruama, Cabo Frio, Rio das Ostras, Saquarema e mais cinco municípios); Centro-Sul (Vassouras, Miguel Pereira, Três Rios, Mendes e mais sete municípios); Médio Paraíba (Volta Redonda, Barra Mansa, Resende, Valença e mais oito municípios); Noroeste (Itaperuna, Miracema, Laje de Muriaé e mais 11 municípios); Norte (Campos dos Goytacazes, Macaé, São João da Barra e mais cinco municípios); e Serrana (Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo e mais 13 municípios).
Fonte: Icict/Fiocruz
Edição: Mariana Pitasse