Circulam na internet nas última semanas, centenas de vídeos e imagens de botos nadando nas proximidades da Ilha de Paquetá, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Tratam-se dos botos-cinza: espécie retratada no brasão do município mas que não é vista circulando com tanta frequência porque está ameaçada de extinção. As aparições recentes estão sendo atribuídas por especialistas às medidas restritivas impostas pela pandemia do novo coronavírus.
Segundo informações do Movimento Baía Viva, a diminuição do tráfego de navios e rebocadores na Baía de Guanabara é um dos principais fatores para a aparição mais frequente dos botos. Isso porque as embarcações são responsáveis por afugentar as espécies marinhas e também por provocar a "ressuspensão" dos sedimentos no fundo do subsolo marinho, deixando as águas mais escuras.
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“Além disso, as águas transparentes desse período da pandemia tem origem em dois fatores naturais associados: a maré de sizígia (ou "marés oceânicas") e o processo de hidrodinâmica da Baía. Em média a cada 15 em 15 dias, a Baía de Guanabara promove um processo interno de ‘autolavagem’ ou de ‘autodepuração’ de suas águas ao lançar no alto mar, através do movimento das marés, um volume de poluentes despejados nas suas águas turvas, como lixo, esgotos, óleo e metais pesados”, explica Sérgio Ricardo, um dos fundadores do Movimento Baía Viva.
Botos-cinza
Os botos-cinza vivem até 35 anos. Na década de 1990, existiam 800 botos desta espécie marinha na Baía de Guanabara, segundo dados do monitoramento desenvolvido pelo programa Mamíferos Aquáticos (MAQUA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Hoje, são apenas 28, sendo quatro filhotes. Nos últimos cinco anos, 16 morreram. Por isso a espécie é classificada como ameaçada de extinção.
Os botos estão abrigados mais ao fundo da Baía, na região que é parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim. Por causa do barulho e poluição das embarcações, os animais evitam longos deslocamentos para buscar alimentos e se movimentam entre Guapimirim e a Ilha de Paquetá.
Edição: Mariana Pitasse