Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA

Operação policial interrompe doação de cestas e deixa mais um jovem morto no Rio

O camelô Rodrigo Cerqueira foi o terceiro jovem morto somente nesta semana durante ações policiais em favelas cariocas

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Jovem foi morto durante ação de solidariedade de pré-vestibular social - Foto: reprodução

Na última quinta-feira (21) mais um jovem negro foi morto numa ação policial que ocorreu durante a distribuição de cestas básicas no Morro da Providência, localizado no centro do Rio de Janeiro. De acordo com informação dos moradores, Rodrigo Cerqueira, de 19 anos, trabalhava como ambulante na Ocupação Elma, na rua do Livramento, quando foi atingido. 

O caso ocorreu por volta das 16h e interrompeu a equipe do pré-vestibular social Machado de Assis, que entregava cestas básicas durante ação de combate contra o coronavírus na comunidade. Nesta sexta (21), a equipe do pré-vestibular divulgou uma nota no Facebook em que diz que Rodrigo era estudante do Colégio Estadual Reverendo Hugh Clarence Tucker e muitos integrantes do cursinho o conheciam. Na nota, o pré-vestibular denuncia também a operação policial.

“Policiais de toca ninja e fuzil nas mãos, sem nenhuma forma de diálogo, já chegaram reprimindo a população que ali estava. E assim como na Cidade de Deus, mataram o João no dia anterior, a ação assassina foi bem na hora que estava ocorrendo uma ação e solidariedade com familiares”, diz a nota.

O pré-vestibular reforçou que as ações de solidariedade no Morro da Providência não irão parar e que a família do jovem também terá o apoio. “O coletivo do pré-vestibular Machado de Assis, de forma conjunta com professores e estudantes do grêmio do Colégio Estadual Reverendo Hugh Clarence Tucker, reforça que nós iremos continuar nossos mutirões de cestas básicas para apoiar famílias de nossos estudantes e da escola que estão passando por momentos delicados e de necessidade nessa pandemia”, afirma a publicação.

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Ao jornal Voz das Comunidades, uma jovem relatou o momento que Rodrigo foi baleado. Segundo ela, ele estava com outros amigos quando foi atingido. “Ele estava sentado numa roda de amigos e a polícia chegou atirando. Quando o primeiro tiro pegou nele todo mundo correu e só ficou ele baleado. Os policiais deram mais dois tiro nele, daí todo mundo se desesperou e os policiais foram fazer a remoção do corpo e não deixavam ninguém chegar perto. Ele ainda estava vivo mas quando chegou ao hospital já se encontrava morto, os policiais estavam encapuzados, nem a mãe pode acompanhar ele até o hospital.”, contou ao Voz das Comunidades.

Ao Brasil de Fato, a coordenadora do Movimento Unido do Camelô (MUCA), Maria de Lurdes, lamentou a morte do jovem camelô em operação policial. “Muito triste a gente ver a nossa juventude ser exterminada de verdade. A polícia entrar numa comunidade e sair dando tiro num jovem camelô. Eu sou camelô e a gente está com o sentimento muito dolorido, por isso que a gente vem fazendo esse papel de estar nas ruas contra a militarização das guarda municipal. Esses assassinatos de jovens negros e pobres de periferia, a gente não pode se calar. É muito triste,” ponderou.

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O caso de Rodrigo ocorreu 24h depois da morte de João Vitor Gomes da Rocha, de 18 anos, na Cidade de Deus, na zona oeste do Rio. O jovem foi atingido durante a entrega de 200 cestas básicas por voluntários do bairro, na localidade Pantanal. Na segunda-feira (18) uma outra ação de agentes de segurança pública provocou a morte do estudante João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. 

O que diz a PM?

A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar para um posicionamento sobre a morte de Rodrigo. Por meio de nota, o órgão informou que “equipes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Providência realizavam policiamento pela Rua Rivadávia Corrêa, no Santo Cristo, quando criminosos armados atiraram contra os policiais. Houve confronto e um suspeito foi atingido e socorrido ao Hospital Municipal Souza Aguiar, onde não resistiu aos ferimentos. Com ele foram apreendidas uma pistola calibre 9 mm, um carregador municiado e entorpecentes a serem contabilizados”. 

A assessoria destacou que “durante o socorro, moradores tentaram investir contra os policiais e foi necessário uso de armamento de menor potencial ofensivo para dispersar o grupo”. A ocorrência foi registrada na Delegacia de Homicídios da Capital, que investiga o fato. Um Inquérito Policial Militar (IPM), que é de praxe ser aberto em ocorrências envolvendo morte, foi instaurado pela Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP).

Edição: Jaqueline Deister