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Papo Esportivo | Dirigentes de clubes cariocas disputam o campeonato da insensatez

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Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Alexandre Campello, presidente do Vasco, estiveram reunidos com Bolsonaro para discutir a retomada dos treinamentos na Arena Mané Garrincha - Reprodução/ Instagram
Existe uma competição que não parou por causa da pandemia coronavírus: o campeonato da insensatez

As nossas principais competições esportivas estão paralisadas por conta da pandemia de covid-19. Todo mundo sabe disso. A Copa Libertadores da América foi interrompida. Assim como a Copa do Brasil, nossos campeonatos estaduais e a Liga dos Campeões da Europa. O Campeonato Brasileiro foi adiado, assim como a Copa América, a Eurocopa e o início das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022.

Até mesmo os Jogos Olímpicos de Tóquio - que começariam no dia 24 de julho de 2020 - foram adiados em um ano e ninguém tem certeza de que eles serão realizados na nova data estipulada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Aliás, ninguém tem certeza de absolutamente porcaria nenhuma. Nossos cientistas estão lutando arduamente para encontrar uma cura para essa doença que já ceifou vidas no mundo todo.

Mas existe uma competição que não parou por causa da pandemia do novo coronavírus. E pode-se dizer que se trata de um dos campeonatos mais antigos do planeta. Me refiro ao campeonato da insensatez.

Não é de hoje que vemos pessoas em todo o mundo defendendo o indefensável e fazendo todo tipo de malabarismo retórico para justificar aquilo que não pode ser justificado. A insensatez perambula por todos os cantos da nossa sociedade. Inclusive no velho e rude esporte bretão.

Não acredita? 

No mesmo dia em que o Brasil registrou 1.179 mortes por conta da pandemia de covid-19, em apenas 24 horas, e atingiu a marca de quase 272 mil casos de coronavírus fora as subnotificações, Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Alexandre Campello, presidente do Vasco, estiveram reunidos com Jair Bolsonaro para discutir as tratativas para que os dois clubes possam retomar os treinamentos na Arena Mané Garrincha, em Brasília. E isso tudo no meio de uma pandemia.

E não é só isso. Landim e Campello estiveram reunidos com o governo federal sem que uma viva alma respeitasse as recomendações de isolamento e distanciamento social feitas pelas autoridades sanitárias. Não tinha ninguém usando máscara. O que é o mínimo. Era lanchinho, tapinha nas costas, camisas de presente e nada de precaução com a pandemia. É como se ela não existisse. E o mais grave: Alexandre Campello é médico. E a delegação rubro-negra contava com a presença do doutor Márcio Tanure, chefe do departamento médico do clube. Ninguém pode falar em falta de informação.

Vivemos um eterno campeonato da insensatez onde se defende que o CNPJ tem mais valor do que o CPF e que a população mais pobre precisa se expor a uma pandemia mundial para que o patrão mantenha seu lucro.

Ao mesmo tempo, aqueles que defendem os CNPJ’s entendem que precisamos fazer a bola voltar a rolar para que os CPF’s tenham alguma “distração” nesse período de isolamento social e voltem ao trabalho “relaxados” e “contentes” com seu time do coração. É tanta insensatez que não cabe nem em 10 Maracanãs.

Falei aqui anteriormente que os problemas financeiros dos nossos clubes não foram causados pela pandemia de covis-19 e que culpar a doença pela crise é a maior prova de que todos eles não pensam em nada além do próprio umbigo. A grande maioria dos nossos dirigentes simplesmente não sabe o que é gerir um clube. Aliás, acredito que eles nem querem saber o que é isso.

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A insensatez revolta, mas não surpreende. Não se esqueçam de que o mesmo Rodolfo Landim transformou a tragédia do Ninho do Urubu numa mera formalidade jurídica. Não se esqueçam das demissões de funcionários e da confusão causada às vésperas da final do Mundial Interclubes da FIFA por conta da recusa da diretoria em ceder parte da premiação aos mesmos funcionários. Infelizmente, o Flamengo se transformou em uma mega corporação que trata seus empregados como números de uma planilha de Excel. E isso é culpa exclusiva de sua diretoria.

E o que dizer do presidente do Vasco? Alexandre Campello se elegeu presidente do clube numa manobra no mínimo questionável eticamente, vem colecionando bravatas e mostrando uma incapacidade absurda em reerguer o Gigante da Colina. O caos financeiro do Club de Regatas Vasco da Gama é sufocante, funcionários e jogadores não recebem há meses e Campello não consegue dar uma resposta ou uma esperança de que as coisas podem melhorar. E isso sem falar nas vezes em que pisou feio na história de luta por igualdade e respeito do clube.

Nem vou entrar no mérito de falar das pessoas que comandam (ou não) o Brasil nesse momento. Os fatos estão aí para serem analisados. Mas a atitude dos presidentes de Flamengo e Vasco é incoerente, irresponsável e egoísta.

Vão expôr os jogadores e suas famílias? As comissões técnicas? Os funcionários dos clubes e da Arena Mané Garrincha? Justo num momento em que a pandemia está chegando no pico? O que vão fazer se alguém for contaminado? Vão cancelar tudo e botar a viola no saco? Pedir desculpas? Culpar o destino?

O campeonato da insensatez ainda está longe de acabar. Mas podem estar certos de que Rodolfo Landim e Alexandre Campello largaram na frente pela disputa da taça. E eu não gostaria nem um pouco de estar no lugar do campeão.

Edição: Mariana Pitasse