Rio de Janeiro

DESIGUALDADE

"Coronavírus aumentou abismo entre favela e pista", diz morador do Alemão (RJ)

Organizações locais e movimentos populares se tornaram única alternativa de sobrevivência para comunidades do país

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
A conscientização da importância de alguns hábitos para evitar o avanço da doença e a solidariedade, se tornaram as armas para ajudar essa população a enfrentar esse período tão complicado - Pablo Vergara

pandemia de coronavírus que se espalha pelas periferias brasileiras, escancarou ainda mais as desigualdades do país. Após ser difundida nos extratos sociais mais ricos da sociedade, as comunidades agora enfrentam o avanço da doença, rodeados por um cenário de dificuldade de manutenção do isolamento social e falta de renda por conta da quarentena.

A segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600, que foi aprovado pelo Congresso em março deste ano, ainda não foi paga pelo governo. Grande parte da população, inclusive, não teve acesso ao benefício, que tem validade por três meses, por conta de dificuldades no cadastro e na retirada dos valores.

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Um estudo feito pela organização Data Favela e o Instituto Locomotiva apontam que o país tem mais de 13 milhões de pessoas vivendo em comunidades, marcadas pela baixa infraestrutura dos imóveis e menor oferta de serviços, como saúde, por exemplo.

 

 

A conscientização da importância de alguns hábitos para evitar o avanço da doença e a solidariedade, se tornaram as armas para ajudar essa população a enfrentar esse período tão complicado. 

No Morro do Alemão, uma das principais comunidades da cidade do Rio de Janeiro, Tainã Medeiros, do coletivo Papo Reto, conta que as doações arrecadadas pelo gabinete de crise organizado pela comunidade, não são suficientes para todos.

São muitas pessoas que precisam. Antes do isolamento social, já tinham muitas pessoas com necessidade, que estavam passando fome. E essa pandemia só aumentou ainda mais o abismo social entre ricos e pobres, entre favela e pista. Tudo que a gente recebe acaba sendo muito pouco, diante dos nossos desafios.

Organizações das favelas do Rio realizam um levantamento diário sobre o avanço da doença nas comunidades cariocas. São mais de 431 casos confirmados e 135 pessoas falecidas por conta do coronavírus.

Na Favela da Maré, também no Rio de Janeiro, a situação de vulnerabilidade se repete. Uma das mais populosas do país, a comunidade organizou a Frente de Mobilização Maré Vive, que atua na conscientização da população e no trabalho de solidariedade. Segundo a jornalista e moradora da Maré, Gizele Martins, ainda há muito o que fazer para resolver a crise.

"Em um momento como esse, em que o isolamento social é salvar vidas, também começamos a trabalhar com doações de cestas básicas, materiais de higiene, máscaras, gás, que são grandes necessidades hoje para quem mora na favela. Na Maré, somos 140 mil moradores. Até agora, conseguimos atender 3.000 famílias. É pouco para o número de pessoas que tem aqui e o número de pessoas que estão em total vulnerabilidade porque não podem trabalhar, ou estão sem emprego em um momento como esse", explica Martins. 

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As doações tem sido decisivas, em um momento onde empregos foram perdidos, por conta da quarentenam, conta Carla Mendes, moradora da comunidade Peixinhos, na cidade pernambucana de Olinda. No estado, já são mais de 14 mil infectados e 1.160 mortes pela doença.

Com essa falta de renda piorou mais ainda, para todas as comunidades, não só a nossa. Está impossibilitando algumas pessoas de poderem sair de casa para trabalhar, principalmente quem é autônomo. Mas temos conseguido doações através de alguns moradores, que têm mercearias aqui no bairro e ONGs que ajudam muito a beneficiar os mais carentes da nossa população. 

Em Goiás, onde a situação parece mais controlada em relação a outros estados brasileiros, com 1.115 casos confirmados e 52 mortes, a quarentena tem colocado comunidades em maior situação de vulnerabilidade.

Na comunidade do bairro Floresta, que fica no setor noroeste do estado de Goiás, o morador Gilson Bispo revela que a ajuda têm chegado à comunidade apenas pela atuação de movimentos populares.

"Deram uma cesta para a gente com verduras, abóboras, banana, tomate, mandioca. A gente fica muito grato com isso. Vem dos sem terra, apesar do pouco que têm, eles sabem dividir. Porque, do Estado, até agora, nada", conclui Bispo.

Como ajudar a quem precisa?

A campanha “Vamos precisar de todo mundo” é uma ação de solidariedade articulada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo. A plataforma foi criada para ajudar pessoas impactadas pela pandemia da covid-19. De acordo com os organizadores, o objetivo é dar visibilidade e fortalecer as iniciativas populares de cooperação. 

Edição: Leandro Melito